ISSN 2359-5191

20/10/2014 - Ano: 47 - Edição Nº: 73 - Sociedade - Instituto de Estudos Brasileiros
Nova proposta de lei da Prefeitura de São Paulo retoma cultura urbana
Pesquisa realizada no Instituto de Estudos Brasileiros mostra que quantidade de shoppings e condomínios é prejudicial para a cidade
Segundo Jaime, a cidade de São Paulo produz uma cultura anti-urbana.

Uma nova lei de zoneamento foi proposta na última semana pela Prefeitura de São Paulo. A ideia é definir diretrizes para ocupação dos terrenos na cidade, levando em consideração a zona onde ele será construído. Shoppings centers e condomínios fechados são alguns exemplos de empreendimentos que deverão seguir a nova lei, caso esta seja aprovada pela Câmara.

Professor no IEB, Jaime Oliva realiza uma pesquisa sobre a imagem construída da cidade de São Paulo, bem como a cultura anti-urbana produzida por ela. “São Paulo tem uma história cujo marco fundador é a virada do século 19 para o 20. É a partir desse momento que se desenvolve algo que eu tenho chamado de uma cultura anti-urbana, ou seja, uma cultura em que a sociedade urbana pratica e sabota a própria cidade”, explica o pesquisador.

Durante a história, o ser humano mostrou-se como um ser social, ou vem se construindo como tal. Após deixarem a vida nômade e dedicarem-se ao cultivo, os membros das comunidades passaram a exercer funções diferentes do que apenas a produção de alimentos. Com essa mudança, o estreitamento de laços e o aumento de relações tornou-se possível. “A cidade é uma estratégia humana de aproximação. Nesse ambiente aglomerado você não só se relaciona com mais pessoas, como acontece com frequência, quer queira ou não. É uma máquina relacional”, conta Jaime.

Contudo, São Paulo possui uma dinâmica similar a dos atuais subúrbios norte-americanos, ou seja, conjuntos habitacionais distantes do núcleo denso da cidade, sem fortes áreas comerciais. “Essa população pretendia de alguma maneira se afastar da diversidade que existe no mundo urbano. Neles moram agrupamentos relativamente homogêneos da sociedade norte-americana. É um urbano atenuado. Eles não rompem com a cidade integralmente, mas mantem uma relação distante, mais selecionada”, explica o professor.

O shopping center é uma invenção dessa vida nos subúrbios. Construídos nas estradas, esse tipo estrutura comercial em formato de caixote abriga uma diversidade de lojas, bem como vários andares de estacionamentos. A ideia é abastecer esses conjuntos habitacionais de alguma convivência urbana, já que são formados essencialmente por residencias. “Não faz sentido nenhum você fazer um shopping dessas dimensões em um local denso onde já existe comércio. A população paulistana desprestigia tanto a vida urbana que é fácil destruir um monte de coisa e construir um shopping ali, ou uma grande loja. Nós inventamos um espaço de separação dentro da própria cidade, e não fora. O condomínio fechado, por exemplo, é uma peça dessa rede. Nós construímos uma vida suburbana dentro da própria cidade”, conta Jaime.

A quantidade de carros na cidade de São Paulo também é um reflexo dessa anti-cultura. Muito usados nos subúrbios norte-americanos devido a distância entre as casas e o comércio, esse estilo de vida também está fortemente presente na cidade de São Paulo, mesmo não sendo tão necessário. “Não há cidade que consiga ter espaços públicos interessantes com uma massa tão grande de carros, que exige um sistema viário brutal, destruindo assim o espaço do pedestre”, explica o pesquisador.

Para Jaime, outro ponto negativo dessa situação é a destruição da ideia inicial de cidade, que é justamente a proximidade entre pessoas. “Há um orgulho quando as pessoas dizem que o condomínio é muito, mas muito fechado. Isso se choca com os fundamentos da cidade. É um culto ao privado. É um espaço em que a imagem projetada é positiva: ‘venha viver em um condomínio fechado, lá você terá plena liberdade’. É amplamente contraditório. É um mundo que cria distâncias para o contato semelhantes ao do subúrbio, já que depende do carro”, explica.

A nova proposta do governo de Haddad parece ir na direção contrária a que São Paulo andou tomando nos últimos anos. A preferência ao pedestre é uma boa maneira de resgatar a produção de uma cultura propriamente dita, que tem como base as relações interpessoais. As propostas serão debatidas até 6 de dezembro e o projeto deve ser enviado ao Legislativo somente em janeiro.

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