Uma das atuais maneiras de se armazenar um arquivo é através do sistema em nuvem, devido às suas várias praticidades. Grandes empresas ou organizações também podem se envolver com a tecnologia e adotá-la em sua escala de aplicações. Elas costumam contratar grandes capacidades de dados para executarem seus trabalhos. O critério da adoção ou não desse sistema por parte das empresas foi objeto de estudo de mestrado, desenvolvido por Eduardo Milian, no Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica.
O conceito de computação em nuvem refere-se à utilização de uma memória ou ao armazenamento de arquivos através da Internet. Ela possui características básicas, que se dividem em: contratação por auto-serviço; sem prazo de entrega da capacidade computacional pelo servidor; capacidade de acesso através de qualquer ponto conectado à Internet; acesso por qualquer dispositivo, seja ele, tablet, smartphone ou notebook. Portanto, entre suas facilidades está a dispensabilidade de unidade física (pendrives, CDs, HDs) e o acesso de onde estiver. “Esse é um paradigma novo de computação. Diferentemente do passado onde existia toda uma infra-estrutura de tecnologia da informação dentro da própria empresa, agora passam a contratar essa infra-estrutura de TI”, explica Milian.
O objetivo central do trabalho foi o de investigar vários pontos entre a relação de uma grande empresa e a computação em nuvem. O ponto principal era saber como que uma empresa avaliava o uso desse modelo. Essa avaliação estaria centrada nas vantagens, nos desafios e os riscos de se contratar uma tecnologia em nuvem. A pesquisa de Milian foi direcionada para desenvolver uma forma de se analisar o posicionamento de grandes organizações em relação ao modelo. “Construí no trabalho um método de análise para avaliar como as empresas decidem pela adoção ou não [da nuvem]”, resume Milian.
O método de análise apresenta um caráter exploratório no sentido de ir na literatura para identificar o que os pesquisadores estão fazendo para identificar vantagens, barreiras e riscos. De posse dessa teoria, Milian estudou quatro organizações de grande porte: dois grupos multinacionais, uma empresa fornecedora do modelo computacional e a própria USP. “O método de análise contemplava tanto organizações que querem adotar nuvem internamente como um serviço, quanto as que usam a nuvem para oferecer seu software.”
Uma das multinacionais estudadas, que trabalha com alumínio, apresentou algo peculiar na pesquisa. O processo produtivo do alumínio é controlado por um programa que, segundo o CEO da empresa, não migraria para a nuvem e seria mantido. O motivo é porque ele representa uma inteligência da própria empresa que também não pode depender de conexões externas. “Qualquer latência maior da rede poderia comprometer a operação. Também há a inteligência do negócio e parte desse know-how está embutido nesse software”, afirma Milian.
No entanto, a mesma empresa se utiliza de computação em nuvem em outros setores com o objetivo de redução de custos. Milian faz um paralelo: “É similar a questão da tercerização tradicional: a segurança e a limpeza eu terceirizo por que não tenho inteligência competitiva”. A ideia então é reduzir os custos mas sem perder a mentalidade dentro da organização, pois ela é o diferencial e o que a mantém no mercado.
De uma maneira geral, foi percebido no trabalho que as organizações dos mais diferentes setores evitam aplicar o modelo em nuvem em seu core business, ou seja, o seu produto principal. O motivo de se evitar a contratação de um terceiro para fornecer armazenamento se baseia principalmente na questão de competição. “A inteligência de TI própria da empresa é parte de seu negócio”, diz.
O resultado obtido foi que o método se mostrou viável de ser aplicado. “Pude aplicar nas quatro organizações e tudo aquilo que olhei no campo estava contemplado no método”, afirma. O método é completo o suficiente com todas as vantagens possíveis. “Não identifiquei nenhuma vantagem que não tivesse previsto no método. Portanto, o trabalho pode ter valor no seguinte: para uma determinada empresa, ao aplicar o método, pode identificar vantagens que eventualmente ela não tinha identificado”, explica. “Consigo vender para os níveis mais altos da organização a adoção da computação em nuvem uma vez que consegui identificar vantagens”. Obviamente, isso pode ser aplicado também às barreiras: “Consigo previamente identificar algumas barreiras e procurar eliminá-las, superá-las ou reduzí-las”.