ISSN 2359-5191

22/04/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 23 - Educação - Faculdade de Educação
Grupo de estudos da USP discute educação de alunos surdos
Criado em 2012 e aberto à comunidade, grupo de estudos na Faculdade de Educação aborda temas relacionados ao ensino em Libras
Lei nº 5.626 garante o acesso de alunos surdos à escola. Foto: Unimed Maringá

Segundo o decreto federal nº 5.626, de 2005, escolas de todos os níveis devem garantir condições para o ensino de crianças que possuam deficiência auditiva, e como uma das formas de tornar essa acessibilidade possível, o mesmo decreto institui como obrigatório o ensino de Libras (Língua Brasileira de Sinais) nos cursos de licenciatura. Na Faculdade de Educação (FE) da USP, a atual responsável pelo ensino da língua aos futuros pedagogos é a professora Cassia Geciauskas Sofiato, que visando a expandir as discussões sobre o assunto, criou em 2012 o Grupo de Estudos Libras em Questão (Geslique).

Cassia conta que o Geslique surgiu da necessidade, apontada pelos alunos da disciplina de Libras, de se aprofundarem na questão, indo além do que pode ser abordado em apenas um semestre. O grupo conta com encontros mensais, cada qual com um palestrante, que tratará de algum aspecto relacionado ao ensino de libras e educação de surdos. “O convidado fala sobre o tema e, ao final, temos um período para debate e perguntas. Também fica a indicação de uma leitura recomendada”, explica a professora.

A princípio voltado apenas para alunos da FE, o Geslique hoje funciona como uma atividade de extensão, sendo aberto a qualquer interessado em participar. Segundo Cassia, o grupo recebe um público bastante variado: são professores da rede pública, intérpretes, profissionais de saúde, e até mesmo alunos de outras faculdades. “Tem sido muito bacana a presença de todas essas pessoas, porque as trocas enriquecem bastante”. A professora ainda ressalta a importância de difundir o que é ensinado na USP a toda a sociedade. “Compartilhar esse conhecimento que está sendo produzido é uma responsabilidade que nós temos”, diz. “Muitas coisas que são discutidas no grupo são levadas para outros espaços, e a finalidade é justamente essa: causar uma mobilização, fazendo com que as pessoas construam essas propostas nos locais de onde elas vêm”.

Inclusão no ensino público

Para alunos surdos, Cassia explica que há dois modelos de escolas: as inclusivas comuns, nas quais os estudantes com deficiência auditiva participam das aulas juntamente com os demais e têm o português como língua de instrução; e as escolas bilíngues, onde a Libras é a primeira língua, sendo o português trabalhado apenas na modalidade escrita. “Nas escolas bilíngues, a língua de sinais é usada nas aulas, e inclusive é ensinada também, para que seja aprimorada”, diz. “Já nas escolas regulares, ela circula, mas não é a língua principal na sala de aula”.

Contudo, no Brasil, ainda são poucas as escolas bilíngues nas quais a Libras é a língua de instrução, de modo que muitas vezes os pais precisam optar pelo ensino regular. Para a docente da FE, a adaptação dos alunos a uma escola comum depende de suas características individuais e da opção linguística feita pela família, isto é, se na infância a criança teve mais contato com a língua de sinais ou com o português. “Cada aluno tem sua singularidade: alguns podem apresentar mais dificuldade em escolas comuns porque não têm domínio da língua portuguesa”.

Segundo a professora Cassia, a presença de intérpretes, na escola e em vários espaços da sociedade, seria ideal para integrar surdos e ouvintes. Foto: Reprodução Internet

De qualquer forma, uma vez que o direito à educação está previsto em lei, cabe às escolas se organizarem para receberem alunos com deficiência. “É direito do aluno estar na escola, então esse aluno precisa ser recebido e devem ser oferecidas a ele condições adequadas para que ele possa se desenvolver como qualquer outro”. Para Cassia, a presença de intérpretes de Libras em vários espaços da sociedade também seria muito importante. “Um interprete poderia fazer a mediação entre os ouvintes e os surdos”, argumenta Cassia. “Mas sabemos que isso não é possível em todos os lugares”.

Sobre a formação de professores para trabalhar com alunos surdos, ela afirma que, apesar da obrigatoriedade do ensino de Libras nas licenciaturas, os docentes devem buscar formação complementar.  “Numa disciplina não é possível dar conta de todas as questões envolvendo esse público-alvo, é muita coisa para se trabalhar”, diz. Segundo a pesquisadora, algumas redes de ensino chegam a oferecerem a seus professores formação continuada na área, o que é um aspecto positivo. “As escolas de uma forma ou outra têm discutido essas questões”, afirma.

Cassia avalia que, apesar dos desafios ainda presentes na educação de surdos, muito já se avançou nos últimos anos. A professora ressalta que tal avanço é gradual, pois exige ajustes e rupturas. “Eu vejo como um processo de construção”, aponta. “Temos muitos desafios a serem vencidos ainda, mas também temos boas perspectivas, com espaços que hoje se mobilizam para fazer um trabalho interessante”.

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