ISSN 2359-5191

23/04/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 24 - Educação - Instituto de Psicologia
Estudo reforça necessidade da reflexão sobre a carreira no ambiente escolar
Viabilidade da inserção de uma disciplina de orientação profissional no currículo do ensino básico é testada em escola pública de São Paulo
A ideia é que os alunos participem das discussões em sala de aula. Foto: Divulgação do filme 'Entre os muros da escola'

A psicologa Nayara de Paula Faleiros propôs um modelo interventivo para a grade curricular escolar, inserindo uma disciplina voltada para a carreira em uma escola técnica pública de São Paulo. Durante o ano letivo de 2013, ela pôde dar aulas, uma vez por semana, para uma turma do ensino médio, com o objetivo de testar a eficácia da orientação profissional no ambiente estudantil. Os resultados da pesquisa foram apresentados em sua tese de doutorado pelo Instituto de Psicologia da USP.

A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), que data de 1996, apresenta uma estrutura político-pedagógica que permite que os currículos escolares do ensino básico brasileiro contem com uma parte comum e uma parte diversificada. Isso possibilitaria a adequação do currículo a características culturais e sociais particulares do local onde a escola está inserida, assim como a inserção de conteúdos não obrigatórios no contexto escolar, como a disciplina proposta por Faleiros.  

A demanda por orientação profissional surgiu a partir da oportunidade de se escolher uma ocupação em detrimento da transmissão hereditária do ofício, em meados do século 18 nos Estados Unidos. No início do século 20, já existia um método sistematizado de orientação profissional, mas foi apenas durante a década de 1970, em um momento de declínio econômico nos Estados Unidos, que o movimento Educação para a Carreira se formou. O projeto propunha uma reforma no sistema educacional americano, baseada na ideia de que a educação escolar deveria desenvolver no indivíduo habilidades que pudessem ser aproveitadas quando ingressasse no mundo do trabalho.

No mesmo período, surgiu no estado de São Paulo o Programa de Informação Profissional (PIP), que, assim como o movimento de Educação para a Carreira, se baseava na aplicação da orientação profissional no currículo escolar, na parceria entre a escola, o governo e a comunidade, apostando na escola como ambiente propício à formação para carreira. Uma das explicações para o programa não ter dado certo é o autoritarismo do governo da ditadura militar. Assim, o PIP acabou caindo no esquecimento e foi substituído por outras disciplinas.

Ainda hoje, a proposta de Educação para a Carreira permanece sendo pouco praticada no Brasil, onde há um predomínio da abordagem clínica na orientação profissional, ou seja, os encontros realizados, com pequenos grupos de jovens, são desenvolvidos de forma semelhante ao que se faz nas clínicas particulares de psicologia, sendo entendida pela escola como algo a parte de seu cotidiano.

Segundo Nayara Faleiros, a ideia do levantamento era conhecer a realidade concreta de uma escola pública técnica do Estado de São Paulo, mostrando a viabilidade de uma proposta de Educação para a Carreira, em formato de disciplina integrada ao currículo dos alunos. O intuito final seria oferecer uma alternativa para tirar a prática de educação para carreira da posição marginal que ela se encontra no contexto escolar atualmente.

Durante a realização da pesquisa, com uma classe de cerca de 30 alunos do primeiro ano do ensino médio técnico integrado em administração, ela anotou as descobertas em um diário de campo, além de aplicar o Questionário de Educação para a Carreira (QEC). O Questionário é composto por 96 itens, que visam avaliar os jovens e os programas de educação para a carreira, tendo sido aplicado antes e depois da intervenção. Por meio do levantamento, foi possível perceber nos estudantes a carência de conhecimentos sobre carreira, como vestibulares e profissões, ressaltando a emergência desse tipo de orientação.

A psicologa destaca que não é preciso existirem políticas públicas para que um espaço de reflexão para a carreira seja instituído nas escolas: “A escola pode, por iniciativa própria, oferecer esse espaço sem a necessidade de leis que a obriguem”. Ela acredita que a pesquisa foi capaz de demonstrar a viabilidade da proposta de educação para a carreira no cotidiano da escola pública. “Cabe ao orientador profissional ter uma postura mais ativa junto à escola para que uma disciplina de educação para a carreira possa ser entendida e aproveitada como parte diversificada do currículo escolar, tal como permite a atual LDBEN”.

Intitulada “Educação para a carreira no cotidiano da escola pública: proposta de modelo interventivo para a grade curricular”, a tese desenvolvida por Nayara Faleiros foi defendida em dezembro de 2014 no IPUSP. A professora Yvette Piha Lehman orientou o trabalho.

Leia também...
Nesta Edição
Destaques

Educação básica é alvo de livros organizados por pesquisadores uspianos

Pesquisa testa software que melhora habilidades fundamentais para o bom desempenho escolar

Pesquisa avalia influência de supermercados na compra de alimentos ultraprocessados

Edições Anteriores
Agência Universitária de Notícias

ISSN 2359-5191

Universidade de São Paulo
Vice-Reitor: Vahan Agopyan
Escola de Comunicações e Artes
Departamento de Jornalismo e Editoração
Chefe Suplente: Ciro Marcondes Filho
Professores Responsáveis
Repórteres
Alunos do curso de Jornalismo da ECA/USP
Editora de Conteúdo
Web Designer
Contato: aun@usp.br