ISSN 2359-5191

28/04/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 27 - Sociedade - Escola de Artes, Ciências e Humanidades
Crianças da periferia da Zona Leste são ativas, mas desenvolvimento motor está abaixo do esperado
Grupo de pesquisa da EACH apresenta dados relevantes para criação de políticas públicas acerca do sedentarismo
Crianças brincam em atividade promovida pela EACH | Créditos: Alessandro Hervaldo Nicolai Ré

Estudo iniciado em 2011 por alunos e professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) no Jardim Keralux, vizinho do campus, mostrou que estas crianças têm grande intensidade de prática de atividade física, diferente do que se esperava. Já os adolescentes, apresentam queda contínua do nível de atividade. Os dois grupos, no entanto, se mostraram abaixo dos padrões internacionais de capacidade motora e aptidão física. Isso significa que a prática de atividade física existe, mas não proporciona desenvolvimento motor.

Além disso, a pesquisa, que ainda está em andamento, vem mostrando que cerca de 20% das crianças entre três e sete anos apresentam Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação (TDC). O número está bem acima do esperado, que varia entre 5% e 9%. Os principais ônus desse transtorno envolvem dificuldades em interação social e quedas na autoconfiança e desempenho escolar.

Outro prejuízo decorrente do TDC é a propensão ao baixo envolvimento com esportes e atividades físicas na vida adulta. “Algumas pesquisas recentes mostram que o principal preditor de prática de atividade física durante toda a vida é a aquisição de habilidades motoras na infância”, explica o professor Alessandro Hervaldo Nicolai Ré, coordenador da pesquisa.

Para chegar a esses resultados, o professor Alessandro e seis alunos da graduação e pós-graduação abordam as crianças e adolescentes nas escolas do entorno da EACH. Por uma semana, os alunos participantes carregam consigo um “acelerômetro”, aparelho capaz de medir a intensidade e duração de qualquer atividade física. Em seguida, são submetidos a uma série de testes que visa mensurar o nível de capacitação motora e aptidão física. Atualmente, cerca de 600 alunos participam do projeto.

Segundo o professor, os resultados obtidos com os adolescentes estão em conformidade com a literatura internacional, que indica uma tendência à sedentarização. Já para as crianças, Nicolai Ré aponta a hipótese de que o nível socioecnonômico seja determinante para a baixa oferta de atividades de boa qualidade. No entanto, a pesquisa não apresenta um comparativo estatístico capaz de corroborar a suposição.

Envolvimento Social

A fim de reverter a situação, o grupo de pesquisa promove atividades e brincadeiras que estimulam o desenvolvimento motor. Já para os pais e responsáveis, são oferecidas, semestralmente, palestras que reforçam a importância dos exercícios no desenvolvimento das crianças e da relevância que tem a participação da família nesse processo. Uma das maiores dificuldades, segundo Nicolai Ré, é atingir diretamente um número maior de famílias. “Atualmente, nós conseguimos alcançar pessoalmente cerca de 20% delas”, lamenta.

Como forma de potencializar o esclarecimento e melhora nas condições de saúde das crianças e adolescentes, o grupo vem buscando parcerias com as Unidades Básicas de Saúde (UBS) da região. “A alta incidência de TDC é especialmente preocupante”, afirma Alessandro.

Políticas Públicas

De acordo com os resultados da pesquisa, a estratégia de combate ao sedentarismo (em todas as faixas etárias) precisa ser alterada. “Uma vez que o desempenho do adulto depende da aquisição de habilidades motoras na infância, é esse o ponto que deveria ser priorizado”, analisa o professor.

O estudo conclui que é preciso estimular a qualidade da prática física, ao invés de focar apenas em sua quantidade. “Uma atividade de boa qualidade é aquela que promove a combinação de diversos movimentos, aumentando a capacidade motora”.

O grupo, que tem financiamento da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) desde o início de 2013, está prestes a começar uma análise longitudinal dos alunos envolvidos, acompanhando a influência da prática de atividades físicas de boa qualidade no desempenho escolar. Com as crianças, em especial, a intenção é acompanhar o desenvolvimento motor a partir dos exercícios oferecidos pelo grupo.

Até o momento, a pesquisa rendeu a publicação de três artigos científicos e ações de pesquisa conjuntas com a Universidade Estadual de Pernambuco (UPE).

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