ISSN 2359-5191

11/05/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 33 - Saúde - Departamento de Fonoaudiologia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional
Videogame ajuda na reabilitação de pacientes com Parkinson
Videogame Kinect rastreia movimentos do corpo todo Foto: reprodução da Internet

A doença de Parkinson é uma doença neurodegenerativa que leva à deficiências cognitivas  e motoras progressivas. Por esse motivo, fisioterapia extensiva é recomendada para os pacientes diagnosticados com Parkinson. No entanto, a fisioterapia tradicional é  repetitiva e pouco motivadora. Desse modo, o professor José Eduardo Pompeu, do Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da USP decidiu utilizar o videogame Kinect como uma maneira alternativa de reabilitar pacientes que sofrem com  Parkinson.

O uso de videogames para reabilitação já foi realizado antes: o Nintendo Wii, por exemplo,  foi utilizado na reabilitação de pacientes que sofreram derrame e na recuperação de equilíbrio e mobilidade de pacientes idosos ou com problemas neurológicos. No entanto, o uso da realidade virtual na recuperação de pacientes com Parkinson foi pouco explorada.

A vantagem dos games é que a resolução das tarefas e desafios neles presentes estimulam as funções motoras e cognitivas de uma maneira dinâmica, promovendo a integração entre os usuários e o mundo virtual. Além disso, a pontuação permite saber se o jogador está melhorando na realização das tarefas virtuais desempenhadas nos games. Esse aprendizado motor pode ser, mais tarde, transferido para a vida real.

O Kinect rastreia os movimentos do corpo todo, através de um câmera infra-vermelha. Como o estudo do professor Pompeu foi o primeiro a relacionar a doença de Parkinson e o uso desse game, o principal objetivo dessa primeira pesquisa foi avaliar a viabilidade, segurança e os resultados  do uso do Kinect pelos pacientes.

A viabilidade foi medida através da melhora do desempenho dos pacientes, ou seja, da melhora de sua pontuação no jogo.  Uma maior pontuação indica que o paciente não é apenas capaz de jogar, mas de melhorar sua performance, o que é fundamental pois gera motivação, diferentemente de terapias tradicionais.

A segurança foi atestada pela proporção de pacientes que apresentaram algum efeito colateral desagradável como convulsão, vertigem, tontura,  queda ou efeitos que causariam hospitalização.  

Por último, os resultados clínicos foram atestados através dos três níveis da Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF): função corporal,  atividade (equilíbrio e marcha) e participação. O primeiro nível foi medido através de um teste chamado 6 minute walk, usado tradicionalmente para medir a capacidade de realizar exercícios; o segundo nível foi avaliado pelo Balance Evaluation System Test e pelo Dynamic Gait Index; o último nível foi medido pelo Questionário da Doença de Parkinson.

Para a realização da pesquisa, foram selecionados sete pacientes entre 60 e 85 anos de idade, com Parkinson nos estágios dois e três.  Todas as avaliações foram feitas após os pacientes serem medicados com levodopa, medicação que promove a melhora dos sintomas da doença — como rigidez, lentidão ao iniciar e realizar movimentos voluntários e tremor de repouso — possibilitando aos pacientes condições para realizar os exercícios.

Cada paciente recebeu, com acompanhamento de um fisioterapeuta, 14 sessões de treinamento, sempre após receberem a medicação, cada uma com duração de 60 minutos e realizada três vezes na semana. Foram passadas instruções verbais e manuais, para que o usuário realizasse corretamente os movimentos exigidos pelos jogos e para promover a postura correta.

Foram selecionados quatro jogos, escolhidos de acordo com  suas demandas motoras e cognitivas. Os jogos selecionados — Space Pop, 20,000 Leaks, ReflexRidge e River Rush — foram aqueles que promoveram: constante deslocamento do centro de massa do paciente através de movimentos dos membros superiores; transferência de peso entre os membros inferiores; agachamento e inclinações do tronco.

A principal conclusão do estudo foi que jogar Kinect foi viável e seguro para todos os sete participantes. Todos eles foram capazes de jogar e tiveram melhora no desempenho em todos os quatro jogos. Além disso, nenhum apresentou qualquer tipo de efeito colateral desagradável. Outra descoberta importante foi a melhora na resistência cardiopulmonar, equilíbrio, postura e qualidade de vida dos pacientes com Parkinson. Foram atestadas melhoras em todos os níveis da CIF, ou seja, função corporal, equilíbrio e marcha e participação. “A melhora na pontuação corresponde a uma melhora nas funções motoras e cognitivas necessárias para alcançar a pontuação” ressalta o professor José Pompeu.

Ainda assim, ele aponta as limitações do estudo realizado: “O estudo não incluiu um grupo de controle com que se pudesse comparar os resultados com fisioterapia convencional. Além disso, apenas uma participante era mulher e o gênero pode ter influência no resultado. Ainda que o uso do Kinect tenha sido considerado seguro, todos os pacientes estavam sendo supervisionados por um fisioterapeuta: o uso seguro do Kinect sem essa supervisão deve ser investigado antes que seu uso seja recomendado.”

Dessa forma, o estudo será continuado. Estão sendo recrutados pacientes com Parkinson para continuar a pesquisa. Caso deseje participar, basta entrar em contato através do email keyteguedes@usp.br ou do telefone (11) 3091-7451.

Além disso, estão sendo recrutados idosos da comunidade para realizar um estudo com Kinect que avalie efeitos do jogo sobre o equilíbrio, marcha e cognição. Para participar, basta entrar em contato pelo mesmo email ou telefone.

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