Smart city (ou cidade inteligente) é um conceito que classifica a tecnologia como responsável por oferecer melhorias sociais ao mitigar problemas desencadeados a partir do crescimento desproporcional das cidades. Segundo este raciocínio, uma cidade inteligente está apta a gerir seus recursos manuseando dispositivos inteligentes a fim de garantir eficiência.
Tendo em vista que a mobilidade é um dos fatores urbanos mais afetados com o crescimento populacional, exemplo do que ocorre na maioria das cidades brasileiras, o professor Marco Gerosa, do IME (Instituto de Matemática e Estatística da USP), em parceria com a professora Ana Paula Chaves, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, investigaram como a contribuição de sistemas colaborativos poderia resolver este problema.
No trabalho Using Collective Intelligence to Improve Urban Mobility in Smart Cities (utilizando inteligência coletiva para melhorar a mobilidade urbana em cidades inteligentes), Gerosa e Ana Paula desenvolveram tecnologias baseadas em inteligência coletiva para melhorar a mobilidade urbana dos moradores da cidade de São Paulo. Este trabalho resultou em 4 sistemas principais: o CollabRoute, que é uma ferramenta integrada ao Facebook e permite aos usuários a criação colaborativa de rotas que podem ser visualizadas e editadas por outros usuários (a rota pode ser compartilhada, receber comentários e curtidas); o Ubibus-Ocorrências, que serve como forma de registro de ocorrências pelos seus usuários. Através dele, problemas em linhas de ônibus são compartilhados em tempo real; o Sistema de Recomendação de Rotas, responsável por reunir informações e recomendações de rotas de ônibus para deficientes visuais considerando o nível de acessibilidade dos locais próximos às paradas de ônibus e; finalmente, o Smart Audio City Guide, que utiliza smartphones e mensagens de voz georreferenciadas para facilitar a mobilidade urbana de deficientes visuais.
Os sistemas são desenvolvidos a partir da colaboração de graduandos, mestrandos, doutorandos e pós-doutorandos e recebem financiamento do CNPq, RNP (Rede Nacional de Pesquisa) e da USP, por meio do NAP NaWEB (Núcleo de Apoio a Pesquisas em Ambientes Colaborativos na Web). Ainda que algumas dessas ferramentas estejam em estado de aperfeiçoamento, todas objetivam ser gratuitas. “Nossos sistemas ainda são protótipos. A maior parte deles foi testada por usuários reais e tiveram boa aceitação, especialmente o de recomendação para deficientes visuais. Com as recentes parcerias com empresas, poderemos fazer avaliações mais precisas da contribuição das aplicações”, comenta a professora Ana Paula.
O trabalho de Gerosa e Ana Paula foi apresentado em março de 2015 no CSCW (Cooperative Work and Social Computing), em Vancouver, no Canadá, durante um workshop do evento que abordava os desafios e pesquisas na América Latina. “O tema de smart city se enquadra bem nessa temática, pois a América Latina apresenta problemas urbanos específicos, além dos problemas gerais. O objetivo foi divulgar o que temos feito e obter feedback da comunidade internacional”, conta Gerosa.
A parceria dos professores perdurará em projetos futuros. Ana Paula e Gerosa objetivam generalizar os resultados e aplicá-los a outras características de smart city, de forma a favorecer o cidadão e sua relação com serviços públicos. “Agora, nosso trabalho está inserido no contexto de uma proposta grande juntando vários pesquisadores para abordar diversos aspectos das cidades inteligentes”, explica Gerosa.