ISSN 2359-5191

11/05/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 33 - Meio Ambiente - Instituto Oceanográfico
Peixes que habitam diferentes ambientes marinhos não apresentam mesmas estratégias reprodutivas
Técnicas avançadas de processamento de imagens possibilitaram negação de hipóteses anteriores
Exemplar de Paralonchurus brasiliensis, um dos peixes marinhos estudados na pesquisa

Pesquisa do Instituto Oceanográfico (IO) da Universidade de São Paulo (USP) provou que espécies de peixes marinhos que habitam ambientes diferentes apresentam estratégias reprodutivas diferentes, ao contrário do que se esperava para espécies que habitam ambientes tropicais e subtropicais. A tese de doutorado foi desenvolvida por Eudriano Costa a partir do uso de técnicas novas e avançadas no estudo de reprodução de peixes marinhos, e é o primeiro trabalho com tal profundidade a ser realizado no Brasil.

O objetivo da pequisa foi testar a hipótese de que espécies que habitam ambientes diferentes – no caso, costeiro (Ubatuba) e estuarino (Cananeia) –, apresentam as mesmas estratégias reprodutivas em termos de desenvolvimento ovariano, recrutamento ovocitário (como se dá a passagem de uma fase menos desenvolvida do ovócito para uma mais desenvolvida durante a maturação ovariana) e fecundidade (número de ovócitos produzidos por fêmea). Isso foi feito através de técnicas histológicas e estereológicas, sendo que estas, segundo o pesquisador, consistem no “uso de programas específicos de computador para analisar as imagens dos preparados permanentes dos tecidos dos ovários”.

As oito espécies de peixes marinhos estudadas são comumente encontradas em águas costeiras e estuarinas. Entre eles, os adultos de Anchoa filifera, Cetengraulis edentulus, Stellifer brasiliensis, Menticirrhus americanus e Paralonchurus brasiliensis são mais abundantes em águas costeiras, onde são capturados de forma acidental durante a pesca de arrasto direcionada à captura de camarões. Portanto, esses peixes são consumidos e comercializados principalmente por pescadores artesanais.

Todas essas espécies são importantes para a manutenção da estrutura trófica do ecossistema e, por realizarem todo o seu ciclo de vida nessas áreas, são potenciais indicadores de alterações ambientais. Costa esclarece: “Uma alteração na estrutura trófica do ecossistema pode afetar a abundância e pesca de espécies que apresentam importância econômica, uma vez que muitas destas espécies se alimentam de indivíduos nas fases juvenil e adulta das espécies estudadas”.

Seria esperado, de acordo com o conhecimento que já se tem da área, que as espécies seguissem um padrão geral no que diz respeito a suas estratégias reprodutivas. No entanto, a aplicação das referidas técnicas permitiu uma análise mais profunda e resultados interessantes: embora tais peixes habitem ambientes similares, foram identificadas diferenças importantes em suas estratégias reprodutivas, que podem ser reflexos de adaptações a cada ambiente.

O poder do conhecimento

Costa explica que as informações geradas através de estudos como este são de fundamental importância para se entender o processo de desenvolvimento ovariano e recrutamento ovocitário, permitindo, assim, estimar a fecundidade das espécies de forma precisa.  “A fecundidade é o parâmetro mais importante dos modelos utilizados para estimar tamanho/biomassa da população, além de poder ser utilizada como indicador de redução da população e até mesmo de mudanças climáticas. No Brasil, informações sobre fecundidade de peixes marinhos são escassas e muitas vezes estes valores estão sobreestimados, provavelmente devido à dificuldade para estimá-los utilizando métodos tradicionais”.

A ausência de informações precisas acerca do processo reprodutivo da maior parte dos peixes marinhos, mesmo aquelas espécies com grande importância econômica e que estão sendo explotadas sem nenhum conhecimento prévio do estado atual da população, prejudica a tomada de decisões do manejo da pesca marinha brasileira, acredita o pesquisador. É possível, assim, que seu estudo motive outros a conhecer melhor as espécies de peixes mais relevantes do ponto de vista econômico.

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