ISSN 2359-5191

10/06/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 46 - Educação - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Nova avaliação de ensino a distância é proposta
Sistema supera alcance limitado de métodos tradicionais próprios do ensino presencial através de 15 indicadores adequados à modalidade
Edgar Roquette-Pinto nos estúdios da primeira estação de rádio do Brasil. (crédito: Rádio Roquette-Pinto/Governo do Rio de Janeiro)

Características culturais, adaptabilidade dos docentes, metodologia específica e material didático de qualidade são alguns dos desafios da implementação de cursos de ensino a distância considerados por Cecília Carmem Pontes Rodrigues e Maria Rita Aprile, do CERU (Centro de Estudos Rurais e Urbanos da USP) na proposição de um novo método de avaliação para a modalidade. “Propusemos uma matriz integrada por 15 indicadores, articulados entre si, destinados a levantar informações referentes às etapas de planejamento, desenvolvimento, acompanhamento e avaliação do curso”, explica Maria Rita.

Ontem e hoje

Apesar da aceitação crescente e da equivalência de seus diplomas aos de cursos presenciais tradicionais, essa modalidade de ensino ainda encara desafios para se estabelecer com credibilidade no Brasil. Embora associado, no imaginário das novas gerações, à aplicação de ferramentas informáticas, o ensino a distância é introduzido no país em 1904, através de cursos por correspondência oferecidos nos classificados do Jornal do Brasil.

A primeira experiência genuinamente brasileira com a modalidade, porém, se concretizou através dos esforços de Edgar Roquette-Pinto nos anos 20. Professor, ensaísta, antropólogo e escritor, o terceiro ocupante da 17º cadeira da ABL (Academia Brasileira de Letras) é considerado o pai da radiodifusão nacional, e via o suporte como um artifício essencial à educação do povo.

“Às aulas transmitidas por rádio se sucederam outras experiências de EaD por correspondência, recepção organizada através de rádio ou TV [com polos em que os estudantes contavam com apoio de monitoria durante a transmissão], recepção livre [sem monitoria] e até por fitas-cassete”, explica Maria Rita, detalhando o avanço da modalidade de ensino em diferentes suportes midiáticos ao longo dos anos.

O governo e instituições de formação como o Senac e o Senai, em âmbito nacional, e a Feplan (Fundação Educacional Padre Landell de Moura), no Rio Grande do Sul, foram responsáveis por iniciativas abrangentes de ensino a distância nas últimas décadas do século 20, focadas principalmente na educação básica e profissionalizante. O Movimento de Educação de Base, seguidor da pedagogia libertadora extinto em 1968 pelo governo militar, conseguiu alfabetizar meio milhão de camponeses com o auxílio de grupos locais.

Hoje, o EaD, que originalmente visava atender segmentos populacionais privados do acesso ao ensino fundamental ou médio nos moldes presenciais tradicionais, alcança o nível superior, lançando mão de ‘TICs’ (tecnologias da informação e comunicação) e adotando modelos semipresenciais. “A oferta de cursos é feita por meio de plataformas virtuais, videoconferências, ‘DVDs’ e outros recursos da internet, facilitando a comunicação entre alunos, tutores e professores”, diz a pesquisadora.

Qualidade e abrangência

“Informações divulgadas pelo INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) indicam que não há diferenças substanciais nos resultados obtidos no desempenho de alunos de cursos a distância e presencias”, segundo a acadêmica.

O ENADE (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes) é utilizado pelo MEC para avaliar, sem distinção, os resultados de modalidades de ensino tradicionais ou inovadoras. A Universidade de Brasília, que desde 1992, e principalmente após 1996, com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei Nº 9394/96, que define o EaD como válido e equivalente para todos os níveis de ensino), investe em cursos a distância, atingiu com alguns deles nota 4 no IGC (Índice Geral de Cursos) de 2011, provando que padrões de qualidade altos podem ser alcançados sem salas de aula comuns.

 Superar os desafios impostos pela proposta e atingir esse grau de eficiência, porém, exige acompanhamento minucioso do cumprimento de regulações por parte dos órgãos responsáveis. Alguns dos fatores essenciais ao sucesso do EaD, levados em conta na nova matriz de avaliação, são a exigência de programas de capacitação de professores e monitores para utilização de novas metodologias e ‘TICs’ e a produção de materiais didáticos e instrucionais de qualidade. Além disso, a disponibilização de infraestrutura tecnológica que permita o acesso e permanência dos estudantes nos cursos e a garantia de suporte técnico contínuo para docentes e monitores são indispensáveis.

Há 935 cursos de nível superior não presenciais oferecidos hoje, no Brasil, segundo Censo do Ensino Superior 2010, do INEP. Destes, 41,5% estão concentrados no Sudeste, com quantidade consideravelmente menor no Norte e no Centro-Oeste. No Nordeste, 75%, dos cursos de EaD são responsabilidade de instituições públicas, com 53% do total sediado em universidades federais. Enquanto no Sudeste (64,5%) e no Sul (69,2%) a maior parte dos programas tem origem privada, no Norte a maior parte (95,9%) dos disponíveis é ofertada por instituições federais.

A nova matriz

Os 15 indicadores propostos pelas pesquisadoras avaliam os cursos em quatro frentes (ou fases): planejamento, desenvolvimento, acompanhamento e, por fim, avaliação.

“Enquanto, nas programações presenciais, os professores têm condições de se informar de imediato sobre possíveis dificuldades dos alunos, na educação a distância a resolução de problemas exige contato via plataformas virtuais ou presenciais ou ainda por telefone, entre outros meios”, afirma a acadêmica ao ser questionada sobre o primeiro aspecto da matriz de avaliação. Esse desafio exige a atuação de profissionais de diferentes especialidades e um planejamento cuidadoso e detalhado. Entre os indicadores analisados estão organização institucional, convênios e parcerias, estrutura do curso, projeto pedagógico, composição do corpo docente e da tutoria, composição da equipe técnica, perfil do aluno e recursos tecnológicos.

Na fase de desenvolvimento, o diálogo e o efetivo trabalho em grupo são essenciais para o sucesso, e por consequência, para a avaliação dos cursos. A organização de reuniões periódicas é importante para centrar o foco das equipes de trabalho na proposta pedagógica. A capacitação de alunos e docentes para atuação eficiente no ambiente virtual é essencial para o curso.

O acompanhamento dos estudantes, pela distância, deve ser reforçado e baseado nas peculiaridades da modalidade: envolve não só aprendizagem, mas as ferramentas que a viabilizam. Por isso, o suporte técnico é essencial. Na hora da avaliação, mais importante que o controle, está a crítica e revisão dos próprios cursos, buscando sempre o aperfeiçoamento.

 “Todos esses indicadores reforçam a necessidade uma abordagem mais ampla na avaliação das programações de educação a distância. A avaliação de cada um deles inclui um conjunto de questões cujas respostas indicarão o seu atendimento ou não“, diz Maria Rita após enumerar as características consideradas por seu projeto.

Para informações completas, acesse o artigo publicado nos Cadernos CERU, no portal de revistas da USP.

 

 

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