ISSN 2359-5191

22/06/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 54 - Arte e Cultura - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Filmes de Fatih Akin ajudam a diluir fronteiras entre Ásia e Europa
Trilogia "Amor, Morte e o Mal" promove reflexão sobre a presença de turcos na Alemanha
Os atores Sibel Kekilli e Birol Ünel em cena de Contra a Parede, primeiro filme da trilogia Amor, Morte e o Mal, de Fatih Akin. Imagem: www.adorocinema.com

Desde 1960 a Turquia busca fazer parte da União Europeia, por meio do estreitamento de relações com países europeus, tendo feito o pedido formal de adesão ao bloco em 1987. Localizada entre a Europa e a Ásia, a nação ainda é considerada por muitos europeus como exótica, de cultura divergente da europeia, especialmente devido à predominância da religião islâmica em seu território. Entretanto, a trilogia fílmica intitulada Amor, Morte e o Mal, do cineasta alemão Fatih Akin, trouxe à tona a experiência de cidadãos concomitantemente muçulmanos e europeus, o que ajuda a estreitar as fronteiras entre a Ásia e a Europa. Essa é uma das revelações de um estudo defendido como dissertação de mestrado na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.

De acordo com Nadia de Matos Barros Mazzariol, pesquisadora responsável pelo trabalho, se anteriormente os turcos apareciam no cinema europeu como personagens incapazes de interação, "a partir de meados dos anos 90 uma série de filmes passa a tratar de encontros possíveis entre turcos e alemães nas periferias das grandes cidades do país, trazendo personagens híbridos, de ascendência turca e educados na Alemanha, em cotidiana negociação com ambas referências". A trilogia de Fatih Akin, que é descendente de imigrantes turcos, é composta pelos filmes Contra a Parede (2004), Do Outro Lado (2007) e The Cut (2014 - ainda não lançado no Brasil). Em Contra a Parede vemos a história da personagem Sibel, jovem de ascendência turca nascida na Alemanha, que recorre a um casamento de fachada para se livrar das pressões da família que vive em um gueto de Hamburgo. Do Outro Lado apresenta uma narrativa com paralelos entre Bremen, Istambul e Hamburgo, na qual a morte surge como recomeço na trajetória de cada um dos personagens. Por fim, The Cut trata do genocídio armênio protagonizado pelo Império Otomano, tema que tornou Akin persona non grata na Turquia, de acordo com Nadia.

O primeiro filme da trilogia, Contra a Parede, levou a obra de Akin a ter uma repercussão entusiasmada tanto na Turquia quanto na Alemanha, onde ele passou a ser chamado de "Tarantino turco", segundo a pesquisadora. "Só com este primeiro filme, Akin levou mais de 300 mil espectadores aos cinemas na Turquia e 800 mil na Alemanha. Os nomes dos atores Sibel Kekilli e Birol Ünel, protagonistas do longa, passaram a ser tatuados enquanto sinal de resistência entre jovens turcos. Na Alemanha, foi atribuída à obra de Akin, por inúmeros críticos, uma esperança de renovação do cinema nacional", explica a autora.

Olhar para o Outro

A pesquisadora Nadia Mazzariol indica que é comum na Alemanha um discurso que coloca "o contingente populacional muçulmano no registro da alteridade, como o Outro que auxilia a constituição de uma Europa civilizada, um Outro definidor de limites valorativos", ignorando a experiência real de cidadãos que são ao mesmo tempo muçulmanos e europeus. A obra de Fatih Akin, em contraposição, permite uma reflexão sobre a realidade dos turcos (e seus descendentes) que vivem na Alemanha, que somam ao menos 1,55 milhão de cidadãos, e compõem o maior grupo de estrangeiros no país. "O cinema dele incita-nos a lutar contra concepções antiquadas que trouxemos ao cinema, as quais extrapolam contendas exaustivas entre Ásia e Europa, turcos e alemães", pontua Nadia. "A meu ver, o cinema de Akin tem uma verdadeira vocação para captar a emergência de novas legitimidades. Ele lê o mundo na chave das conexões e, ainda que isso não elimine as distâncias de fato, torna possível transportar e até transformar os espectadores em alguma medida. É um cinema sonho daquilo que pode ser, que possibilita um olhar para o Outro além das percepções binárias", conclui.

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