ISSN 2359-5191

07/07/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 65 - Arte e Cultura - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Dicionário Português-Inglês da Culinária Brasileira é criado na FFLCH
Pesquisadora identificou existência de quase 300 livros de culinária do Brasil escritos em língua inglesa, maior parte foi publicada nos Estados Unidos
Dicionário Português-Inglês da Culinária Brasileira visa minimizar a ocorrência de traduções equivocadas de nomes de ingredientes típicos, as quais podem comprometer a confecção de pratos. Imagem: www.cedlab.com.br

O antropólogo Claude Lévi-Strauss coloca a culinária ao lado da linguagem como elemento de forte manifestação cultural, capaz de contar histórias sobre um povo. Sendo assim, receitas culinárias típicas de uma determinada cultura podem ser vistas como uma forma de evidenciar e difundir essas histórias. Mas, com a popularização da Internet e consequente facilitação do acesso às diversas culinárias ao redor do mundo, como garantir a qualidade da tradução de terminologias de ingredientes típicos de uma localidade para o idioma de outra cultura? Tendo esse problema em mente, a pesquisadora Rozane Rodrigues Rebechi desenvolveu um Dicionário Português-Inglês da Culinária Brasileira, trabalho que foi apresentado como tese de doutorado na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP e deve ser publicado em versão digital em breve.

"Atuando como professora de inglês, diversas vezes fui questionada por alunos em relação a como dizer ‘coxinha’, ‘pastel’, ‘feijoada’ e outras palavras similares no idioma estrangeiro. A resposta era sempre a mesma: não há tradução para esses termos, pois são próprios da culinária brasileira", conta a pesquisadora. Mas ela notou que essa resposta padrão nem sempre correspondia à realidade da utilização da língua inglesa em receitas culinárias. A partir da análise de livros de culinária brasileira escritos em inglês e escritos em português e traduzidos para o inglês, Rozane Rebechi selecionou os verbetes que compõem seu dicionário.

Traduções equivocadas

Para ela, a inexistência de materiais que auxiliem tradutores frequentemente resulta em equivalentes equivocados, falta de naturalidade e adaptações que acarretam a descaracterização de referências culturais. Como exemplo, cita o caso da cachaça, bebida originalmente desenvolvida no Brasil durante o período colonial. "Não raro deparamos com a tradução desse termo por meio de ‘equivalentes’ genéricos tais como spirit e liquor, ou mesmo rum, por semelhança com a bebida caribenha devido ao ingrediente principal – cana de açúcar", explica Rozane. "Outro problema observado é em relação ao ingrediente ‘farinha de milho’, recorrente em receitas de cuscuz de milho. Na falta de um equivalente padronizado em língua inglesa é frequentemente traduzido nesse idioma por cornmeal e corn flour, termos comumente utilizados para se referir ao fubá, outro produto derivado do milho. Essa ‘confusão’ terá consequências para a devida confecção do prato", indica a pesquisadora.

Por conta da necessidade de imersão cultural, que é parte do trabalho de todo tradutor que deseja realizar seu ofício com excelência, o dicionário não traz apenas ‘equivalentes’ em língua inglesa para os termos mais representativos da culinária brasileira, mas, também, exemplos de uso, comentários adicionais e fraseologias, como forma de ajudar na produção de um texto que flua com naturalidade. "Afinal, uma tradução adequada não está restrita à escolha dos equivalentes apropriados, mas envolve também aquilo que está ‘ao redor’ desses termos", reflete Rozane.

O caso da mandioca

Sabe-se que, mesmo dentro do território brasileiro, em alguns casos, há uma grande variedade de termos para se referir a determinado prato ou ingrediente, como ocorre com a mandioca, que, fora de São Paulo e Minas Gerais, é conhecida como aipim e macaxeira, citando apenas os nomes mais populares. Outros alimentos oferecem o mesmo desafio, de acordo com Rozane: "A paçoca conhecida aqui – doce feito de amendoim – é bastante diferente da paçoca resultante da pilagem de carne-seca e farinha de mandioca, comida típica do Nordeste e de outras regiões do país".

Mas o caso da mandioca é o mais emblemático das dificuldades de tradução para o idioma estrangeiro. Para resolver esse impasse, a pesquisadora levou em consideração a recorrência de uso dos diversos termos em todo o Brasil e também nos livros analisados. "Em todo o país, ‘mandioca’ é o termo utilizado para se referir à espécie venenosa dessa raiz, mas apenas em algumas regiões – como na maior parte do Sudeste – é também utilizado para se referir à espécie não venenosa, enquanto que ‘aipim’ e ‘macaxeira’ são os termos utilizados em outras regiões para se referir a esse produto", afirma Rozane. Em relação à realidade encontrada nos livros de culinária, a pesquisadora explica as particularidades que foram levadas em consideração na elaboração de sua obra: "Em língua inglesa, cassava, manioc e yuca são termos utilizados para se referir à mandioca-doce, não venenosa, mas apenas cassava e manioc são termos utilizados com flour e meal para designar a farinha resultante do processo de manipulação dessa raiz".

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