ISSN 2359-5191

03/08/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 67 - Saúde - Faculdade de Odontologia
Pesquisa mostra que HTLV não está associado à Síndrome de Sjögren
Vírus provoca sensação de boca seca, mas diagnóstico da doença é raro

Estudos realizados na Faculdade de Odontologia da USP (FO-USP) comprovam que não há associação direta entre a Síndrome de Sjögren, doença autoimune que causa a destruição de glândulas salivares e lacrimais, e o vírus HTLV. Descoberto antes mesmo da aids, o HTLV foi o primeiro retrovírus humano a ser identificado em laboratório, mas até hoje não recebe a devida atenção da comunidade científica. “Por não causar a morbidade que o HIV causava (e ainda causa), ele nunca foi muito estudado”, comenta Daniela Assis do Vale, pesquisadora da FO responsável pelo estudo. Estima-se que 20 milhões de brasileiros estejam infectados com a doença.

Em números absolutos, o Brasil é o país com mais casos de HTLV no mundo. Apesar disso, a grande maioria da população infectada recebe o diagnóstico somente ao tentar realizar alguma doação de sangue: 90% daqueles que possuem o vírus são assintomáticos. Os 10% restantes, todavia, sofrem de complicações sistêmicas gravíssimas, como cânceres e doenças neurológicas degenerativas que causam, entre outras consequências, a paralisia.

Pertencente à mesma família que o HIV, o HTLV ataca as células de defesa do corpo humano, os linfócitos T. Uma vez contaminadas, essas células se depositam na coluna desencadeando um processo inflamatório. “De maneira bem simplificada, o vírus começa a se infiltrar na medula e vai destruindo ela”, explica Daniela. Causando alterações orais como a sensação de “boca seca”, a doença foi associada no Japão à Síndrome de Sjögren (SS), mas os estudos de Daniela, ao invés de apontar a associação, indicaram que o vírus pode estar também se depositando nas glândulas salivares.

Novas descobertas

Buscando verificar se a associação entre síndrome e vírus tinha respaldo em solo brasileiro, a pesquisadora seguiu por duas linhas: examinou 50 pacientes que foram à Santa Casa de São Paulo com sintomas de SS para investigar se o vírus era encontrado nele, e realizou testes para SS em 129 pacientes soropositivos para HTLV do Instituto de Infectologia Emílio Ribas. Todos eles eram voluntários na pesquisa.

Na Santa Casa, nenhum dos pacientes examinados foi diagnosticado com o vírus, e no Instituto Emílio Ribas apenas dois dos 129 analisados apresentaram a síndrome. Com os resultados à vista, Daniela concluiu que a associação não era possível, mas outros números chamaram a atenção da pesquisadora. Dos pacientes com HTLV, 35,7% tinha a boca seca.

Para entender a alta taxa de xerostomia (sensação de secura na boca), a dentista realizou a biópsia da glândula salivar dos voluntários, e com isso percebeu um fenômeno interessante. “O que eu vi foi um infiltrado inflamatório igual ao que a gente vê na SS”, diz. A descoberta aponta que, mesmo não sendo diagnosticados com a síndrome, os soropositivos para HTLV sofrem de um processo inflamatório semelhante a esta, que pode derivar da infecção causada pelo próprio vírus.

Para ter certeza se a doença é a responsável pela inflamação, Daniela continuará a pesquisa em seu doutorado, que já está em curso.

Prevenção é fundamental

No Japão, um dos locais onde a patologia é endêmica, as campanhas de prevenção contra a doença são grandes. A maior parte da população soropositiva no país é adulta ou idosa, um reflexo do controle da transmissão. Contraído pelas mesmas formas que o HIV – relações sexuais sem proteção, compartilhamento de seringas e agulhas, e transmissão vertical (da mãe para o filho durante o parto ou aleitamento) –, o HTLV é pouco divulgado no Brasil.

O Grupo Vitamore, associação de pessoas com a doença no Brasil, luta para que os exames de diagnóstico sejam feitos de graça na rede pública de saúde, e exigidos durante o pré-natal. Diagnosticadas antes do parto, mães podem evitar a transmissão do vírus para os filhos e causar uma regressão no número de enfermos.

Daniela Assis do Vale é mestra da FOUSP e sua dissertação teve a orientação da professora Karem Ortega.


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