ISSN 2359-5191

08/07/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 66 - Saúde - Faculdade de Ciências Farmacêuticas
Extrato de pariparoba é promissor no tratamento de úlceras
Pesquisa realizada na USP conseguiu ótimos resultados na prevenção de úlceras gástricas utilizando raiz do arbusto
Pariparoba é nativa das Américas. Foto:Tony Rodd (https://www.flickr.com/photos/tony_rodd/)

O extrato das raízes da planta pariparoba é promissor no tratamento de úlceras gástricas. Foi o que revelou uma pesquisa recente realizada na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, a partir de testes em animais com o extrato da raiz, que conseguiram grande redução na lesão provocada pelas úlceras. Futuramente, a planta medicinal pode se tornar um importante remédio no tratamento dessa enfermidade.

A pariparoba é um vegetal nativo da região das Américas. É conhecida no Brasil por várias outras alcunhas, entre elas caapeba, guaxima, catajé e jaguarandi. Seu nome científico é Pothomorphe umbellata (L.) Miq., embora também seja chamada de Piper umbellatum L. É da mesma família da pimenta-do-reino (Piper nigrum L.), a Piperaceae.

Na pesquisa, o extrato bruto da raiz de pariparoba conseguiu inibir a área de lesão causada pela úlcera gástrica em ratos em cerca de 84%, em doses de 400 mg/kg. Quando uma fração do extrato de pariparoba foi obtido com uso do solvente acetato de etila, a formação de úlcera foi inibida em 90%, com uma dose pela metade, de 200 mg/kg. Essas foram as principais conclusões do trabalho de mestrado de Leandro Santoro Hernandes, que em seu doutorado continuou estudando a planta e tentando veicular seu extrato em uma formulação de nanocápsulas.

Leandro Santoro Hernandes é pesquisador na FCF-USP            Leandro Santoro Hernandes é pesquisador na FCF-USP.  Foto: Matheus Sacramento/AUN

"Os extratos vegetais, por serem misturas complexas, têm substâncias de diferentes polaridades. Nem sempre eles são solúveis em água, que é o veículo mais comum que a gente usa para administrar aos animais. Então, com essa formulação [de nanocápsulas], conseguimos melhorar essa propriedade de solubilidade e obtivemos bons resultados”, afirmou o pesquisador. Foi analisado ainda o extrato das folhas da pariparoba que, segundo conhecimentos populares, poderia ter atividade antiúlcera. No entanto, os resultados não foram positivos.


Desmatamento atrapalhou pesquisa com outras plantas

Apesar de também ter estudado a pariparoba em seu doutorado, o principal foco de Hernandes era em outras plantas: os jacarandás. Segundo estudos de iniciação científica realizados no mesmo laboratório em que trabalha, na cidade de São Paulo, extratos desse vegetal possuíam excelentes resultados na prevenção de lesões gástricas. Sua ideia inicial era aprofundar essa pesquisa e conseguir mais resultados.

Entretanto, nos testes realizados com as espécies Jacaranda caroba (Vell.) DC e Jacaranda decurrens Cham., não houve melhora na prevenção de lesões gástricas nos ratos. E a causa pode ter sido o desmatamento, uma vez que as amostras estudadas desses vegetais não foram conseguidas no mesmo local onde foram recolhidas as da pesquisa de iniciação científica realizada pouco antes do ano 2000: a cidade de Leme, no interior de São Paulo.

"A gente não conseguiu mais amostras lá, porque a vegetação original, que seria o cerrado, foi substituída por cana-de-açúcar, algodão e outras culturas. A gente espera, no futuro, conseguir, nem que seja um só indivíduo de uma planta de lá, para tentar reproduzi-la em outros lugares e ver o que tinha de especial naquela amostra que não tinha na dos outros locais”, comenta Hernandes. "Um medicamento que seria muito promissor, estamos jogando fora devido ao desmatamento”, lamentou.

Processo de extração

Conseguir o extrato de uma planta não é muito diferente de fazer café. No caso da bebida, passa-se água quente no pó do vegetal moído. Na raiz de pariparoba, por exemplo, utiliza-se um método parecido, porém com solventes orgânicos ou uma mistura deles.

Primeiro, a planta é secada, para evitar a degradação de seus componentes. Depois, ela é moída e do seu pó se obtém o extrato, com a utilização de solventes como o etanol 70%.

Os testes para revelar se uma planta tem determinadas propriedades medicinais podem ser feitos em ratos, como foi o caso na pesquisa de Hernandes, embora tenham sido feitos outros ensaios adicionais, por exemplo, em bactérias.

O procedimento utilizado foi o de gavagem, no qual se administra o extrato diretamente no estômago do rato, por meio de uma sonda colocada na boca do animal. "A gente administra o extrato, aguarda meia-hora e aministra o indutor de úlcera. Depois de uma hora, no final do processo, avaliamos se houve maior ou menor formação de lesões no estômago", explica o pesquisador.

Pesquisa continuará no Canadá

Leandro Santoro Hernandes, que foi orientado pela professora Elfriede Marianne Bacchi, pretende continuar analisando os extratos de pariparoba a fim de, no futuro, conseguir um medicamento para o tratamento de úlceras gástricas. A pesquisa continuará no Canadá, na Universidade de Alberta, onde o pesquisador realizará seu pós-doutorado.

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