ISSN 2359-5191

03/08/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 67 - Sociedade - Escola de Comunicações e Artes
Blogs e coletivos são alternativa para jornalistas que buscam maior liberdade de expressão
Estudo da USP identificou que profissionais migram para plataformas digitais em busca de maior autonomia, encontrada em páginas não-vinculadas a empresas de comunicação; pesquisa também mapeou estratégias utilizadas para manter iniciativas independentes
Crescente migração de jornalistas para blogs demonstra busca por liberdade de expressão (Imagem: Shutterstock)

Uma pesquisa realizada na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP buscou entender qual a motivação da crescente migração de jornalistas para blogs e coletivos (sites que reúnem diversos jornalistas) e de que forma isso ocorre. Segundo a autora do estudo, Cláudia Nonato de Lima, a principal conclusão foi que jornalistas veem nas plataformas digitais a possibilidade de desfrutarem de maior liberdade de expressão o que, segundo o estudo, ocorre principalmente em páginas independentes.

De acordo com a pesquisadora, que acompanhou 15 blogueiros famosos entre os anos de 2011 e 2014, os jornalistas buscam nos blogs a realização pessoal. Tanto os mais jovens quanto os mais experientes têm, cada vez mais, criado páginas na internet onde falam sobre aquilo que gostam, diferentemente do que costuma acontecer nas redações.

Independentes x Grandes portais

O nível de liberdade, porém, depende diretamente do blog estar ou não associado a grandes portais. A pesquisadora explica que, quando a página está vinculada a empresas de comunicação, ela deve estar alinhada ao pensamento do veículo. Além disso, páginas que recebem patrocínio de empresas encontram problema semelhante, já que o financiamento pode ser cancelado em caso de críticas ao patrocinador. Cláudia afirma que é nas páginas independentes que o profissional consegue exercer sua atividade mais livremente. Por outro lado, surgem algumas dificuldades financeiras, que nem sempre são encaradas como um empecilho, uma vez que alguns jornalistas chegam a trabalhar inclusive como voluntários – o que ressalta a busca por autonomia.

Para superar tais dificuldades, blogs independentes buscam algumas alternativas. Cláudia identificou que uma delas é a "vaquinha on-line" (crowdfunding), estratégia em que os leitores podem contribuir com quantias a partir de R$ 10 para financiar reportagens. "O leitor agora tem o poder de escolher e apoiar a pauta que ele quiser", afirma. Mas a prática, recente no Brasil, ainda não consegue tornar os blogs um negócio sustentável. "Dá para pagar uma ou outra pauta, mas não é suficiente."

Outra estratégia adotada pelos jornalistas é a criação de coletivos, que unem diversos profissionais na produção de reportagens investigativas. “De uns dois, três anos para cá estão surgindo vários portais, como a 'Agência Pública' e a 'Ponte'”, exemplifica a pesquisadora. “Eles [os coletivos] inclusive têm pautado a grande mídia com grandes matérias”, diz, ressaltando o destaque que as iniciativas têm conquistado.

Conquista do público e perspectivas

Apesar das dificuldades, os blogs ganham cada vez mais espaço entre os leitores. De acordo com o estudo, o que contribui para a formação de uma audiência cativa é o fato dos jornalistas não abandonarem princípios éticos da profissão, como a apuração e a investigação das informações, o que confere credibilidade às páginas. "Os jornalistas têm a mesma ética, a mesma conduta que eles tinham nos jornais impressos, de onde eles vieram originalmente", conta a pesquisadora. Além disso, como os os blogs (com exceção dos coletivos) apresentam textos bastante opinativos, atraem público alinhado com suas características ideológicas. “A grande mudança é a relação com o leitor, que agora pode opinar, criticar, elogiar.”

Para que os blogs e coletivos continuem existindo e atendendo a essa crescente demanda, principalmente em um contexto de crise no jornalismo, a pesquisadora defende a democratização da mídia e a redistribuição de verbas publicitárias do governo, hoje ainda muito concentradas na televisão. “Enquanto isso não muda, essas mídias alternativas vão tentando mudar o caminho, dar uma outra visão da informação para a população.”

A pesquisa foi realizada por Cláudia em sua tese de doutorado “Jornalistas, blogueiros, migrantes da comunicação: em busca de novos arranjos econômicos para o trabalho jornalístico com maior autonomia e liberdade de expressão”, orientada pela professora Roseli Fígaro.


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