ISSN 2359-5191

08/07/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 66 - Sociedade - Pró-Reitoria de Pesquisa
Núcleo de pesquisa retrata experiências de mídias alternativas latino-americanas
Pesquisa busca diferenciar mídia popular da grande imprensa nos países da América Latina
A análise buscou retratar as mídias populares e suas diferenças em relação à grande mídia

Uma pesquisa buscou retratar as experiências de mídias alternativas da América Latina e sua diferenciação em relação aos grandes meios de comunicação. A análise, realizada pelo Centro de Pesquisas Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicação (Celacc), teve o intuito de ver como essas mídias mais populares dão voz a diferentes grupos e vão contra a uma padronização cultural e de comportamento que a grande imprensa acaba instaurando.

Criado em 1996, o Núcleo de Apoio à Pesquisa (NAP), vinculado à Pró-Reitoria de Pesquisa da USP (PRP), tem como meta analisar a construção de uma integração do povo latino-americano a partir de sua singularidade, além da ótica de mercado gerada pelos blocos econômicos como o Mercosul, que, segundo Dennis de Oliveira, coordenador do núcleo, gera problemas e não atende à população desses países. Com povos originários de grande riqueza cultural, dizimados a partir da colonização do século 15, a América Latina consolidou o capitalismo numa época tardia, enquanto na Europa já se assistia ao processo de imperialismo.

A grande questão que se coloca até hoje é se esse sistema latino-americano seria independente ou subalterno às grandes potências mundiais. A prevalência dessa dependência gera uma burguesia autocrática que, a partir de um sistema de opressão sofisticado e de uma democracia intermitente, busca manter esse sistema imperialista. A cultura popular surge como forma de resistência a esse processo, sendo a mídia alternativa – meios de comunicação de massa não vinculados aos grandes grupos econômicos, vinculados a movimentos sociais e com objetivos não comerciais – uma maneira de ir contra o mecanismo ideológico das grandes corporações midiáticas. Segundo Oliveira, “vivemos em uma sociedade que a mídia é o elemento central”, portanto, a análise desses veículos populares é essencial para o estudo desse embate cultural-ideológico na América Latina.

Para tal, foram estudadas experiências de mídias alternativas na Argentina, Colômbia, Equador e Brasil – como representante o jornal Brasil de Fato –, que teve como base a análise de fontes e de conteúdo. Segundo o professor, a segunda fase da pesquisa, ainda não realizada, consistiria na visita à esses países e na conversa com os editores desses veículos para a discussão de suas funções, ideologias e demais aspectos.

Entre as diferenças observadas em relação à “grande imprensa”, uma delas é a presença de diferentes fontes, além das “oficiais” – privilegiadas pelos grandes veículos -, ligadas ao mainstream do poder e dentro do aparelho político-institucional e econômico do país. Principalmente ligadas a movimentos sociais, as fontes das mídias alternativas não aparecem apenas para discutirem sobre as mobilizações que fazem parte, mas são colocadas como fontes qualificadas para análises político-econômicas: o dirigente de uma associação de moradores discutindo sobre o aumento da taxa básica de juros é um exemplo citado pelo pesquisador. Além disso, a presença de intelectuais e acadêmicos também é mais presente, o que abre o leque de discussões: “A mídia alternativa amplia o espaço público a medida que traz novas vozes para fazer a reflexão sobre os processos políticos”.

Além das fontes, a temática foi um ponto analisado: a pauta central dessas mídias é a questão da violência, relacionada aos direitos humanos. No entanto, é pouco presente, de acordo com Oliveira, a percepção das culturas populares como expressões de resistência às opressões geradas pelo sistema imperialista, pois ainda não está associada a visão da política institucional como política cultural.

De acordo com o coordenador do núcleo, a cultura não é um produto, mas um processo de construção de significados, com implicações diretas nos mais diversos âmbitos da sociedade e de suas relações. Assim, a mídia exerce um papel importante pois gera imagens e ideias, que se refletirão nos comportamentos das pessoas. A análise das mídias alternativas seria uma maneira de se estudar o processo de combate à opressão do sistema latino-americano para criar uma integração cultural na região, além das interações econômicas do Mercosul.

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