ISSN 2359-5191

19/08/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 78 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Geociências
Pesquisa busca conservantes para arenito da fachada do Theatro Municipal
Apesar de intervenções, Arenito Itararé continua frágil devido à permeabilidade da argila em sua composição
Theatro Municipal, no centro de São Paulo. Foto: Vagner Campos

O Theatro Municipal, construção emblemática no centro de São Paulo, tem apresentado alguns problemas quanto ao seu estado de conservação. O Arenito Itararé, uma das rochas constituintes da fachada, possui minerais sensíveis à água, o que fragiliza a pedra e chega a fazê-la despedaçar. Buscando encontrar produtos que minimizem esse efeito, Danielle Grossi realiza testes para sua tese de doutorado, desenvolvida no Instituto de Geociências (IGc/USP).

A argila expansiva presente no arenito sofre com dilatação quando em contato com a água, o que acaba degradando a rocha. A intenção da pesquisadora é buscar um produto que evite o contato da água com a argila e prolongue a vida desta pedra. A partir de amostras de arenito retiradas da pedreira original, na Flona (Floresta Nacional) de Ipanema, Grossi realizou experimentos na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, onde há uma metodologia mais consolidada.

O procedimento se baseava em simular o efeito danoso da umidade nas rochas e comparar diferentes produtos de tratamento. Foram utilizados dois consolidantes, um que forma hidroxiapatita e outro à base de silicato, os quais funcionam como uma “cola” unindo os grãos, além de mais dois pré-consolidantes. Foram feitos testes de ascensão capilar, ciclos de umedecimento e secagem, medidas de dilatação em presença da água e velocidade de ondas ultrassônicas, para mensurar a degradação: quanto maior o espaço vazio dentro da rocha, mais devagar se propagam as ondas.

Dos dois consolidantes, a hidroxiapatita se saiu melhor, já que aquele à base de silicato fechou muito os poros da rocha. É importante que o produto não crie uma nova condição de permeabilidade, funcionando como “tapa-poros” e impedindo que a água saia da rocha, o que traz problemas a médio prazo. “A água gera uma pressão atrás dessa ‘parede’ que o produto criou, o que faz com que tenha desplacamento da superfície em alguns milímetros”, explicou Grossi. Os pré-consolidantes apresentaram bons resultados, coisa que não se esperava.

A pesquisadora deve repetir alguns testes para verificar a ligação que existe entre o produto e os grãos da rocha. No Brasil, ela montará os equipamentos norte-americanos para uma avaliação mais completa, levando em conta a ação do sol e da umidade. A influência dos sais e dos poluentes também será testada. O objetivo é conseguir um produto que aumente a dureza da rocha, seja quimicamente compatível e resistente aos raios UV e ao ataque biológico.

Intervenções

O Arenito Itararé está presente na parte inferior da fachada do Theatro Municipal, bem como nas sacadas e nos balcões laterais. Sua degradação já foi notada nas duas últimas intervenções feitas no local, uma em 1989 e outra em 2011, durante reforma que levou quase três anos.

Na ocasião, centenário de inauguração do teatro, testes do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT/USP) encontraram poros que não são originais da rocha. “Isso mostra que a água já passou ali e levou embora alguns minerais. A pedra vai ficando cada vez mais frágil, até poder ser quebrada com a mão”, afirmou Grossi. Foram feitas obturações, reconstruções de algumas partes que já haviam caído e a aplicação da resina Paraloid. No entanto, a fachada continua a apresentar problemas. Já foi cogitado até mesmo trocar todo o arenito do teatro. “Não é uma boa rocha para se usar numa fachada, num lugar que tem umidade”, observa a pesquisadora.

Conservação de monumentos

O estudo está sendo financiado pela Fapesp e tem previsão de conclusão para meados de 2016. A pesquisadora já havia estudado a conservação do patrimônio cultural no mestrado, no qual analisou, com métodos não-destrutivos, o Monumento a Ramos de Azevedo, localizado desde 1973 na Cidade Universitária (USP). O monumento é feito do resistente Granito Itaquera, que, apesar dos poucos cuidados, encontra-se em bom estado de conservação.

Ambos os estudos de Grossi integram projeto de pesquisa em patrimônio histórico e cultural no IGc, coordenado pela professora Eliane Aparecida Del Lama.

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