São Paulo (AUN - USP) - Sabe aquela história de que musculação é coisa para jovem? Que idoso precisa repousar? Esquece! O projeto "Treinamento resistido em idosos", coordenado pelo professor José Maria Santarém, tem mostrado que os exercícios com pesos são muito eficientes para garantir qualidade de vida aos idosos, sem riscos.

O projeto é realizado pelo Cecafi – Centro de Estudos em Ciências da Atividade Física – em conjunto com o Laboratório de Estudos do Movimento, ambos da Faculdade de Medicina da USP. A idéia é acompanhar o treinamento de 160 idosos ao longo de vários anos, sem outro exercício associado. As pessoas que participam são clientes da geriatria do Hospital das Clínicas, ou particular, e têm no mínimo 60 anos.

Uma pessoa que leva uma vida sedentária chega à velhice com dor muscular, fraqueza e tem dificuldade para realizar tarefas simples do dia-a-dia, como andar de ônibus, pegar objetos, subir escadas, carregar sacolas ou andar nas calçadas esburacadas da cidade para comprar um pão. É comum o idoso viver dependendo das outras pessoas por não ter força para agir sozinho. E, para garantir força e flexibilidade, a melhor atividade física é a musculação.

A dúvida era se o idoso poderia levantar pesos sem riscos para sua saúde. E o que os estudos mostraram foi uma surpresa. Segundo o professor Santarém, que também é membro da Diretoria do Centro de Estudos HC-FMUSP de Medicina Esportiva, o exercício com peso "se mostrou, para o idoso, mais seguro que qualquer outro tipo de exercício".

E a caminhada? É ótima para fortalecer o coração, perigosa quando feita sem o controle dos batimentos cardíacos. Quando a pessoa caminha, o coração acelera como em qualquer atividade física. Já a musculação é feita em séries de 8 a 12 apenas, com um intervalo de um a dois minutos para descanso, duas vezes por semana. Enquanto os jovens usam cargas máximas para se exercitar, os idosos param quando começa a ficar difícil. Quer dizer, o coração nem chega a acelerar muito. É extremamente seguro até para pessoas com mais de 90 anos, ou que tiveram um infarto há poucas semanas.

Apesar de não ser um exercício para o coração (para isso, é necessário combinar uma atividade controlada por um cardiologista), a musculação traz diversos benefícios ao idoso. Em apenas três meses, ele sente uma grande diferença em sua autonomia. Com o fortalecimento dos músculos, a freqüência cardíaca e a pressão sobem menos nas atividades cotidianas. A capacidade para caminhar longas distâncias aumenta. A osteoporose pára de progredir e, em alguns casos, é até revertida. As dores musculares acabam. Com tudo isso, eles se sentem muito bem.

Os idosos que participam adoram. Maria de Cássia, 83, sai do treinamento com um sorriso imenso no rosto. "Aqui são todos meus queridos. Eu amo todos!" Ela conta que antes tinha dificuldade para andar, "agora eu ando retinha, direita". Sua filha, de 63 anos, também participa. É comum pessoas com hérnia de disco, bico de papagaio, contarem que não sentem mais dor nenhuma e fazerem os exercícios sem dificuldades. Em um mês, eles já relatam melhoras na vida diária, adquirem segurança e independência. É só olhar para os sorrisos deles para ter certeza.