O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) atinge, em média, 3% da população mundial segundo pesquisas nacionais e internacionais, tornando-se, portanto, um dos transtornos mentais mais recorrentes no mundo. Ainda muito estigmatizado pela maioria das pessoas como "mania" associada à limpeza e arrumação ou aversão à sujeira, o TOC em 80% dos casos em adultos pode ser identificado antes dos 18 anos, tendo assim medidas de prevenção e tratamentos possíveis em diversas unidades de saúde.
Em recente pesquisa publicada pelo Instituto de Psiquiatria da Universidade São Paulo (IP - FMUSP), a psicóloga Priscila Chacon Neder fez uma análise dos aspectos genéticos e do ambiente que permitem identificar crianças e jovens que possuem esse distúrbio para assim encaminhar melhores formas de tratamento da doença. "Eu já trabalhava com TOC desde a faculdade e no caminho surgiu a possibilidade de trabalhar com algo produtivo e com reflexo na área clínica. A minha pesquisa coincidiu com o interesse do Instituto de Psiquiatria do Desenvolvimento [INPD] e tivemos a oportunidade de identificar o transtorno através de testes de viés de atenção."
Para tais teste, Priscila e sua equipetiveram que realizar uma seleção de pacientes que já tinham familiares de 1º grau com histórico do distúrbio no Consórcio Brasileiro de TOC para assim conseguirem identificar aqueles que tinham alto risco de desenvolver a patologia, já que estudos de meta-análise indicaram a hereditariedade de diversos distúrbios menos comuns. "A grande dificuldade foi de encontrar esses pacientes, porque era muito difícil a família trazê-los, tínhamos uma amostragem muito pequena", comenta.
Feita a seleção, os pacientes foram divididos em três pequenos grupos classificados como "TOC", "Risco" e "Controle", este último correspondente a crianças sem histórico algum e consideradas "normais", e submetidos a uma série de imagens que em menor ou maior grau causariam desconforto nas classes de simetria e contaminação. "Pudemos observar que as crianças já identificadas com TOC descreviam um desconforto muito maior em relação às imagens, e as na classe de risco em um nível menor, porém ainda superior às da classe controle", explica a pesquisadora.
Os resultados ainda são estatísticos devido à amostragem, porém reforçam a conclusão de que o fator genético associado a fatores do ambiente são possíveis causadores do distúrbio e podem ser cuidadosamente identificados, pontua Priscila. Ainda que os tratamentos de TOC necessitem de mais estudos para indicar mais outros possíveis para cada tipo de paciente, a pesquisa de viés atencional é grande divisor de águas na caracterização de crianças e jovens com sintomas da patologia.