ISSN 2359-5191

10/11/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 107 - Arte e Cultura - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Estudo explora contexto político nos EUA representado em filmes hollywoodianos
Pesquisador mostra relação de quatro narrativas com a noção da cidadania norte-americana nos anos 1980-1990

Ciente da influência e dos altos índices de consumo da produção cultural norte-americana no Brasil, o pesquisador Michel Gomes da Rocha desenvolveu sua dissertação de mestrado sobre quatro filmes de Hollywood e a representação da cidadania entre os anos de 1980 e 1990.

"Mississipi em chamas" (1988) do diretor Alan Parker, "Nascido em 4 de julho" (1989) de Oliver Stone, "Um dia de fúria" (1993), de Joel Chumacher e "Clube da luta" (1999), de David Fincher, foram as quatro narrativas fílmicas escolhidas. Isso porque elas evocam problemáticas semelhantes em relação à cidadania nos Estados Unidos e dialogam com o contexto histórico do país no século 20. A contribuição didática de seu mestrado, segundo Rocha, é elucidar as dinâmicas que consumimos ao assistir esses filmes.


Cena do filme

Cena do filme "Clube da luta", um dos quatro analisados, pelo pesquisador

Em sua pesquisa, ele teve que se debruçar sobre os fatos históricos do final do século 19 até o 20. O autor explica que dissertação realiza um percurso de mais de cem anos para pontuar questões importantes sobre as décadas de 1980 e 1990, o seu foco principal. A noção de cidadania nos EUA foi fortemente influenciada pelo desenvolvimento de diversos projetos de promoção social. Rocha destaca três: o progressismo, que teve como objetivo gerar um maior equilíbrio entre as classes sociais; o New Deal, da década de 1930, o programa de recuperação econômica da nação após a quebra da bolsa de Nova York em 1929; e a Grande Sociedade, nos anos de 1960, base para os programas do Estado de bem estar social.

FILMES

Rocha optou por trabalhar com o conceito de cidadania moderno, que se pretende universalista, e analisou os filmes individualmente, além de relacionando-os. "Mississipi em chamas" explora a cidadania da comunidade negra nos EUA e tem como papel lembrar para as gerações daquele momento um passado de lutas, mostrando uma série de elementos vividos pelos negros a longo prazo. "Para mim, é um filme didático que vai tocar diretamente na questão da segregação racial dos Estados Unidos", diz o pesquisador.

"Nascido em 4 de julho" discute a experiência do veterano de guerra, tendo, assim, um papel importante pela força da ideia do conflito bélico na identidade do norte-americano. "A guerra forja a ideia de união e coaduna pessoas que não seriam consideradas cidadãos, como o imigrante e o negro, em um contexto de paz", explica Rocha. A narrativa de Oliver Stone traz a "guerra perdida", que foi a do Vietnã, e "protagoniza um combate de memórias com narrativas que representavam a guerra por um viés conservador", que exalta o conflito bélico, escreve o pesquisador. O filme dialoga ainda com outras culturas políticas, como o feminismo, ativismo anti-guerra e ativismo negro, em um contexto de crise por conta da perda da guerra.


Cena do filme

Cena do filme "Mississipi em Chamas", que evoca a cidadania do negro nos EUA

Abordando o contexto de crise do início dos anos 1990, "Um dia de fúria" mostra a polarização social promovida pelas "políticas neoconservadores e neoliberias após doze anos de governo republicano". A narrativa "mostra violência urbana, preconceito e xenofobia contra minorias, desemprego e os resquícios da guerra fria", conta Michel. Ele traz a crise do modelo cidadão norte-americano, o homem WASP (branco, anglo-saxão e protestante, pela sigla em inglês), que também aparece de forma latente no "Clube da luta".

O filme de David Fincher faz uma forte crítica ao individualismo, consumismo, imperalismo e alienação daquela sociedade, além de apresentar fortes metáforas e conceitos filosóficos, já antes explorados por Rocha em outros trabalhos.

Rocha conclui que a representação da cidadania nos filmes se relaciona diretamente com o contexto político dos anos 1980-90 nos Estados Unidos, evocando as problemáticas dos negros, cujo usufruto da cidadania sofreu retrocessos no período, assim como a dos pobres, "pela ascenção de um projeto de nação neoconservador e neoliberal à Casa Branca".

Cena do filme "Nascido em 4 de julho" mostra experiência do veterano da guerra do Vietnã
Leia também...
Agência Universitária de Notícias

ISSN 2359-5191

Universidade de São Paulo
Vice-Reitor: Vahan Agopyan
Escola de Comunicações e Artes
Departamento de Jornalismo e Editoração
Chefe Suplente: Ciro Marcondes Filho
Professores Responsáveis
Repórteres
Alunos do curso de Jornalismo da ECA/USP
Editora de Conteúdo
Web Designer
Contato: aun@usp.br