ISSN 2359-5191

11/11/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 108 - Saúde - Faculdade de Saúde Pública
Infância da mãe pode influenciar na obesidade de seu filho
Algumas mulheres projetam em seus filhos carências que tiveram quando criança, tanto de comida como também de afeto
Foto: Marcos Santos/USP Imagens

A vivência das mulheres com suas mães na infância pode influenciar no surgimento e persistência do quadro de obesidade de seus filhos. Esse contexto foi analisado pela pesquisadora Ana Bechara da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP. Orientada pela professora Maria da Penha Costa Vasconcellos, ela buscou compreender como os sentimentos trazidos da geração anterior estão associados à forma com que as mães lidam com a alimentação das crianças. A pesquisa teve apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). 

Segundo a nutricionista, muitas mulheres projetam em seus filhos as carências que tiveram na infância, tanto de comida como também de afeto. Elas tentam compensar essa lacuna a partir da alimentação. Assim, compram alimentos em excesso e não conseguem mudar determinados comportamentos alimentares, mesmo seus filhos estando em um quadro crítico de obesidade. “É uma impossibilidade nela de lidar com essa falta, que é projetada na relação com a  criança”, afirma a pesquisadora.

O diálogo com as mães

Para realizar o estudo, Bechara entrevistou 12 mães de crianças ou de adolescentes diagnosticados com obesidade. Elas estavam fazendo tratamento no Ambulatório de Obesidade Infantil do Hospital das Clínicas (HCFMUSP). O número de participantes foi limitado com base na repetição dos discursos.

Muitas vezes, as mulheres relatavam algumas condutas contraditórias, menciona a pesquisadora. Em um dos casos, a mãe comprava a coxinha para o filho e colocava na mesa, porém dizia que ele não iria comer. Para a nutricionista, é necessário avaliar as raízes desse comportamento, ou seja, o que nela a leva agir desta forma.

Isso pode estar relacionado com a disponibilidade de alimento que essa mulher tinha na infância. Algumas delas narravam que iam ao mercado e eram impedidas pelas mães de comprar aquilo que queriam. Apenas com um tratamento multidisciplinar é possível perceber como as vivências anteriores interferem na alimentação do filho, destaca a pesquisadora.

As crenças moldam o comportamento

“Mãe não nega comida e está sempre presente” são crenças enraizadas na sociedade, mas que podem trazer consequências significativas para o tratamento da obesidade infantil. De acordo com Bechara, muitas mães se sentem angustiadas por não estarem a todo o momento com as crianças e acabam tentando compensá-las ou agradá-las com o alimento. Além disso, também existem casos de mulheres que se sentem impossibilitadas de dizer “não”, estando esta postura de negação do alimento relacionada ao despertar de sentimentos negativos, como culpa.

Em uma das entrevistas, a pesquisadora ouviu o relato de uma mulher que tinha uma filha de um ano de idade com obesidade. Ela trabalhava e precisava que a irmã cuidasse da menina, porém essa não colocava limites na alimentação da criança. Ela podia comer doces, salgadinhos e refrigerantes em excesso. A mãe não conseguia mudar essa relação por se sentir culpada, devido a sua ausência.

Para a nutricionista, muitos desses comportamentos são inconscientes e o papel do profissional de saúde e ajudá-las a compreender esses sentimentos. Essas crenças socioculturais, nas quais as mães devem estar sempre presentes, precisam ser reavaliadas. “Ela também está acreditando nessa história. Ela tem que entender que é uma crença”, ressalta Bechara.

 

Foto: Marcos Santos / USP Imagens

 

Educação nutricional

Uma das ferramentas usadas no tratamento da obesidade é a educação nutricional. Ela orienta como as pessoas podem montar pratos saudáveis, alerta sobre a composição dos alimentos e ensina conceitos relacionados à pirâmide alimentar. No entanto, para a pesquisadora, esse meio não pode ser a única forma de cuidado.

Ela explica que, mesmo sendo orientadas, muitas mulheres continuam com comportamentos contrários aos esperados com o tratamento para a obesidade. Eles, na maioria das vezes, são obscuros. Assim, é necessário investigar essas questões mais profundas, que podem estar ligadas aos sentimentos e vivências das mães, ressalta a nutricionista.

Para mais informações: anapaula.v.bechara@gmail.com


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