ISSN 2359-5191

17/11/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 111 - Saúde - Instituto de Ciências Biomédicas
Hormônio antidiurético é associado à hipertensão por excesso de sal
Substância foi caracterizada com uma nova função, atuando como um neurotransmissor que sinaliza para aumento da pressão arterial
O sal é posto como o grande vilão de hipertensão (Foto: divulgação)

Para que o organismo funcione adequadamente, é necessário que haja uma pressão que mantenha o fluxo sanguíneo adequado a todas as células do corpo. Quando essa pressão sai de níveis apropriados, instala-se um quadro de hipertensão – uma doença silenciosa, que, aos poucos, lesa cada um dos órgãos alvos. A hipertensão essencial ou primária, relacionada a fatores genéticos, ambientais, a dietas e hábitos alimentares, ainda tem causas desconhecidas, mas sabe-se, hoje, que alterações na neuroquímica do sistema nervoso central exercem um controle muito preciso da pressão arterial. O laboratório do professor Vagner Antunes, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, estuda a fisiopatologia da hipertensão neurogênica causada pela estimulação do sistema nervoso autônomo simpático  e descobriu recentemente que, numa dieta rica em solutos como o sal, o hormônio antidiurético atua como um neurotransmissor elevando a pressão arterial.

O sal é posto como o grande vilão da hipertensão, mas, na verdade, solutos em geral alteram o equilíbrio do nosso corpo, explica o professor Antunes. Quando se ingere substâncias muito concentradas nesses solutos, uma variável chamada osmolaridade, responsável pela manutenção da pressão osmótica da célula, é modificada, de modo que pode impossibilitar a viabilidade celular. "Num suco de caixinha, por exemplo, a osmolaridade é extremamente alta. O soluto, nesse caso, é a sacarose, não o sal", ressalta. Essas moléculas são de alto peso molecular e têm um grande poder de colocar ou retirar água da célula; deve haver um equilíbrio na concentração entre o meio extra e intracelular para que a célula tenha sua maquinaria funcionando.

Uma dieta rica em sal ou em outros solutos altera a pressão osmótica do líquido extracelular; ela sai de níveis adequados e pode fazer a célula turgescer ou murchar. Isso acontece em todos os órgãos, mas principalmente no sistema nervoso central, que é sinalizado por meio de receptores especiais, os osmorreceptores. Esses sensores, ao detectarem a alteração na osmolaridade, são estimulados e ativam o sistema nervoso autônomo simpático. "Quando esse sistema é ativado, há uma resposta cardiovascular bem característica de aumento da pressão arterial", afirma Antunes.

Após essa resposta, acontece uma série de ajustes no organismo, coordenados principalmente pelo rim, a fim de eliminar esse excesso de soluto e de água para restabelecer o equilíbrio e, consequentemente, da pressão arterial. O professor explica que, se o rim tem um bom funcionamento fisiológico, esse excesso será eliminado. No entanto, a medida que o organismo é constantemente desafiado, ocorrem alterações na neuroquímica do sistema nervoso autônomo, sendo que grupos neuronais começam a responder de forma totalmente diferente do normal, pois esses novos estímulos mudam a organização dos processos de informação. Com isso, altera-se a atividade simpática que, uma vez aumentada, eleva também a pressão arterial. Além disso, a sobrecarga de solutos para o rim causa uma série de lesões nesse órgão, o que pode impossibilitá-lo de sua principal função. "O soluto acaba sendo, em excesso, um vilão por alterar todos esses padrões de atividades neuronais e também de neurohormônios que controlam a pressão arterial", esclarece.

Efeitos da dieta hiperssódica (NaCl 2%) nos níveis da pressão arterial pulsátil (PAP mmHg) e média (MAP mmHg) e na atividade do nervo simpático lombar (LSNA) de um animal do estudo: a dieta com sal eleva tanto a pressão quanto a atividade simpática (Foto: modificado de Ribeiro N et al, American Journal of Physiology, 2015)

Nova ação para o hormônio antidiurético

Uma importante substância que atua nesses núcleos do sistema nervoso central de modo a ativar o sistema autônomo simpático e acarretar uma resposta de aumento de pressão arterial é o neuropeptídio vasopressina, o famoso hormônio antidiurético. Segundo estudo realizado pelo grupo do professor Antunes, ao ingerir uma sobrecarga de sal, a vasopressina, que tinha como função inicial única a reabsorção de água no rim, também funciona no sistema nervoso central como um neurotransmissor – mensageiros químicos liberados pelos neurônios e utilizados para a comunicação entre eles.

Essa substância era conhecida por relacionar-se ao aumento da pressão arterial através da diminuição do diâmetro dos vasos sanguíneos – a chamada vasoconstrição. Contudo, a nova ação da vasopressina, em vez de realizar uma ação periférica, caracteriza-a como um importante neurotransmissor no sistema nervoso central. Os estudos recém-publicados mostraram que a substância é liberada no microambiente do núcleo do hipotálamo, onde ela é sintetizada, controlando a atividade simpática quando a concentração de soluto no organismo está fora do normal.

Esses trabalhos desvendam quais os núcleos do sistema nervoso simpático e os neurotransmissores envolvidos no controle da atividade simpática e da pressão arterial. Eles são importantes porque pode-se entender as vias de sinalização e alterações na circuitaria neuronal decorrentes da ingestão, em excesso, de solutos como o sal. "Sempre que você está exposto a uma dieta, o sistema nervoso é influenciado de modo que pode se estabelecer uma hipertensão neurogênica, porque acontece uma alteração de toda a forma de neurotransmissão", aponta. O professor explica que a intenção dos estudos, em princípio, não é a de os transmissores serem alvos para fármacos terapêuticos, mas entender como o organismo e principalmente o sistema cardiovascular responde a essas dietas. A restrição de uma alimentação rica em sal e uma dieta saudável é mais importante, ao menos até esse momento, do que utilizar medicamentos para combater a hipertensão.


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