ISSN 2359-5191

09/12/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 126 - Saúde - Faculdade de Saúde Pública
Condições socioeconômicas podem impactar alimentação de migrantes em São Paulo
Alimentos como frutas e legumes, algumas vezes, acabam não encontrando espaço no cardápio dos migrantes
Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Migrantes nordestinos que atravessaram o Brasil em busca de uma nova vida em São Paulo, durante as décadas de 40 e 50, podem possuir padrões de saúde e de alimentação diferentes dos nativos da metrópole paulista. Essa é uma das questões abordadas no doutorado do pesquisador Augusto Carioca da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP e bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Orientado pela professora Dirce Marchioni, o nutricionista iniciou um estudo com base nos dados do Inquérito de Saúde do Município de São Paulo (ISA-Capital). O intuito é avaliar as condições de saúde e nutrição da população que participou do processo de migração interna, tanto dos nordestinos como de pessoas oriundas de regiões próximas à São Paulo.

Com base em dados preliminares, o pesquisador identificou que os migrantes nordestinos, em comparação com os nativos, possuem piores condições socioeconômicas. Esse contexto social acaba refletindo em suas escolhas alimentares. De acordo com Carioca, essa população, em geral, adere a um padrão de alimentação tradicional, em que são priorizados mantimentos como arroz e feijão.

Essa dieta tem um valor nutricional importante, o problema é quando essa composição não abrange frutas e legumes, alimentos que são um pouco mais caros. “Sabe-se pela literatura, que a escolha alimentar de frutas e legumes é positivamente associada à renda e escolaridade do indivíduo”, ressalta o nutricionista.

Já a população nativa adere ao padrão moderno de alimentação. Consomem produtos de alta densidade energética, bebidas alcoólicas e refrigerantes. Os migrantes que participaram do estudo dificilmente incorporam essa dieta, explica o pesquisador. No entanto, em alguns casos, o tempo de residência influencia na adesão ao estilo de vida paulista. Os mais antigos na cidade acabam sofrendo um processo de aculturação e passam a consumir mais frutas e produtos industrializados.

Foto: Marcos Santos/ USP Imagens

 

Um perfil de saúde diferente

Os dados coletados pertencem ao ISA Capital. Realizado em 2008, é um estudo de base populacional feito com residentes migrantes do Estado de São Paulo (Parceria entre a Faculdade de Saúde Pública e a Secretaria Municipal de Saúde). Carioca teve acesso às informações deste inquérito, como condições de saúde e perfil lipídico dessa população.

Avaliada a mudança do padrão alimentar, o próximo passo da pesquisa é analisar, estatisticamente, se as condições de saúde dos migrantes também são diferentes, comparada a dos nativos. Assim, busca-se identificar se essa população possui mecanismos metabólicos distintos como perfil lipídico, glicemia e obesidade.

Uma das alterações no organismo que será analisada é a síndrome metabólica. Ela pode aumentar os riscos do indivíduo desenvolver doenças cardiovasculares e diabetes tipo 2.  Para um indivíduo ser classificado com essa síndrome, ele deve possuir três alterações metabólicas: ser obeso, ter pressão arterial elevada e modificações no perfil lipídico e glicêmico (como resistência à insulina). A escolha por analisar a sua recorrência é devido à possibilidade de perceber as mudanças ocorridas no corpo antes do surgimento das doenças crônicas, menciona o nutricionista.

Uma ferramenta inovadora  

Para coletar e analisar os dados, o estudo utiliza uma ferramenta nova na ciência a metabolômica. A partir dela, é possível perceber se existe algum biomarcador para alterações moleculares no sangue da pessoa, isto é, predisposição para o desenvolvimento de doenças. De acordo com o pesquisador, essa tecnologia apresenta um quadro muito mais detalhado dos efeitos do padrão alimentar na saúde. Um dos exemplos é a mudança para uma alimentação mais saudável, essa alteração, provavelmente, irá influenciar na glicemia. “É uma ferramenta de varredura de como é o organismo daquele indivíduo”, aponta o nutricionista.

Além da alimentação, outros fatores também influenciam nas condições de saúde dos migrantes. O desenvolvimento de doenças crônicas, por exemplo, está associado a aspectos multifatoriais. São Paulo sempre foi conhecida pelo seu ritmo acelerado de viver, os congestionamentos, poluição e o grande aglomerado de pessoas tornam o seu ambiente, muitas vezes, estressante. Sendo assim, aqueles que chegam à cidade paulista podem ter sua saúde comprometida devido aos problemas de se adaptar.

Segundo o pesquisador, os resultados desse estudo também serão importantes para evidenciar a necessidade de políticas de inclusão desses migrantes. Dessa maneira, pensar em formas de modificar o perfil alimentar dessa população, com intuito de acrescentar alimentos mais saudáveis em seu cardápio. Para isso, é essencial avaliar suas condições socioeconômicas, pois ela influencia profundamente nos alimentos disponíveis na mesa dessas pessoas. ”Falta um pouco de visão pública direcionada a essa população”, conclui Carioca.

 

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