ISSN 2359-5191

02/12/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 121 - Saúde - Faculdade de Saúde Pública
Centro de Saúde da FSP chega aos 90 anos com desafio de formar profissionais qualificados
USP possui papel importante neste contexto, já que quase um terço dos seus cursos é ligado à área da saúde
Foto: Adilson M. Godoy.

Este ano, o Centro de Saúde Escola Geraldo de Paula Souza vira mais uma página em sua história. São 90 anos prestando assistência médica à população de São Paulo. Para comemorar esta data especial, a Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP recebeu, entre os dias 26 e 27 de novembro, o "1ª Simpósio Internacional Educação e Redes de Atenção à Saúde: Interfaces, Conquistas e Desafios". Segundo o professor e diretor do Centro, Paulo Gallo, a universidade possui uma grande responsabilidade na formação de recursos humanos para a saúde, já que praticamente um terço dos seus cursos é vinculado a essa área. Assim, a experiência prática do aluno é essencial para sua formação e aprendizado.

O evento contou com a presença do professor e reitor da USP, Marco Antonio Zago. Segundo ele, hoje, o perfil de doença  (morbidade) e mortalidade da população mudou. Dessa forma, é necessário formular práticas de saúde diferentes, que estejam adequadas com as necessidades da população. Ele menciona que uma das funções da Faculdade de Saúde Pública é discutir modelos e propor soluções nessa área. “Esperamos que os próximos 90 anos do Centro Escola sejam apontados para a interação da universidade com a sociedade", ressalta Zago.  

O diretor da FSP, Victor Wünsch Filho, discutiu um pouco sobre os desafios de renovação do Centro. De acordo com ele, a incorporação de inovação não se dá apenas no campo tecnológico. Procedimentos operacionais que racionalizem o atendimento dos pacientes, com intuito de melhorar o seu bem-estar, também são considerados mudanças positivas. O evento ainda teve a presença do coordenador de saúde da região oeste do município de São Paulo, Alexandre Nemes Filho.

Os percursos históricos

Durante seus 90 anos, a instituição foi aos poucos consolidando sua história. Os aspectos relacionados as suas origens foi discutido pelo professor Arnaldo Franco Siqueira. Segundo ele, o Centro Escola surgiu, em 1925, e com ele nasceu simultaneamente o Instituto de Higiene (Futura Faculdade de Saúde Pública), que se desvinculou da Faculdade de Medicina. O idealizador dessa proposta foi o médico sanitarista Geraldo de Paula Souza. Em 1918, ele, junto com o professor Francisco Borges Vieira, foi estudar na universidade de Johns Hopkins, em Baltimore, Estados Unidos.

Essa universidade tinha como meta construir diferentes redes de saúde pública pelo mundo. Após a experiência com as propostas americanas, Paula Souza voltou ao Brasil e fundou o primeiro Centro de Saúde da América do Sul. O objetivo da instituição era promover ações permanentes de educação sanitária e de métodos para prevenção de doenças. De acordo com o professor Siqueira, uma das questões apontadas, na época, era que a formação dos médicos voltava- se para as pessoas que já estavam doentes. Assim, não havia uma preocupação prévia em evitar os quadros mórbidos.

Em 1938, o Centro de Saúde, além da parte assistencial, passou a abranger também o ensino e a pesquisa. Dessa forma, se tornou um espaço de formação e treinamento dos estudantes, oferecendo conhecimento prático aos alunos dos diferentes cursos. Sua função era realizar a triagem dos pacientes, encaminhando alguns para Santa Casa ou para os médicos do Instituto de Higiene.

Prestando esta atenção primária, a instituição atendia pacientes com doenças venéreas como sífilis, assim como aqueles que necessitavam de higiene pré-natal ou higiene escolar. Além disso, as mães que eram usuárias da unidade também recebiam, por meio das educadoras sanitárias, orientações sobre alimentação. Hoje, o Centro de Saúde tem sobre sua responsabilidade 110 mil moradores do município de São Paulo, menciona o diretor.

Foto: Adilson M. Godoy.

Uma trajetória de desafios

Segundo o professor Gallo, há uma dúvida emblemática no campo da saúde referente à função assistencial de um Centro de Saúde. Ele menciona que algumas pessoas acreditam que não há espaço para essa instituição dentro de uma universidade, pois o papel de assistência deve ser cumprido pelo município de cada estado.

No entanto, não se pode esquecer a importância da USP em formar recursos humanos para as áreas da saúde, afirma o diretor. Para ele, é fundamental que o município arque com o ônus financeiro assistencial, pois recebe recursos para esse fim. Porém, a universidade também é responsável por qualificar os profissionais que irão atuar no mercado.  “Eu tenho que fazer um casamento entre a universidade e o município de São Paulo”, ressalta Gallo.

O atendimento na atenção primária é um dos pontos de diálogo entre a sociedade e os profissionais de saúde. Por meio dela, é possível atuar preventivamente na instalação de quadros mórbidos e preparar o estudante para lidar com isso. O professor cita o exemplo de um dos alunos do Centro. Ele foi procurado por uma senhora, que estava muito bem de saúde, mas o questionou como poderia continuar daquela forma. “Esse é um dos maiores desafios hoje, como você age de maneira preventiva para que as pessoas tenham melhores condições de vida”, aponta o diretor.  

Outra questão que é muito discutida, atualmente, é como promover a interdisciplinaridade entre as áreas. De acordo com o Gallo, isso só pode ser feito de forma prática, a partir das experiências com a realidade dos pacientes. O professor levanta o caso de um senhor que convivia com seis cachorros dentro de sua residência. Ele possuía uma úlcera na perna e precisava fazer curativos diariamente. Contudo, toda vez ao chegar em casa, eles eram retirados pelos cachorros.

O professor diz que esse quadro exige presença de outros atores no tratamento, porque são situações de afeto. A solução encontrada foi envolver o canil da força pública para que o paciente fosse internado por um curto período de tempo, enquanto seus cachorros fossem cuidados por um especialista de confiança. Para o professor, não basta treinar o estudante, é preciso também qualificá-lo. Isso só é possível quando ele está inserido na realidade da população.

 

 Foto:Adilson M. Godoy



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