ISSN 2359-5191

28/01/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 3 - Educação - Faculdade de Educação
Professores e alunos têm diferentes visões do que é ser um bom educador
Entrevistas mostram o quanto alunos valorizam professores que trabalham para além do conteúdo curricular pré-estabelecido
Alguns dos aspectos que os alunos mais comentaram sobre os professores são: paciência, bom humor e atenção. Imagem: Revista de História

Professores e alunos têm a mesma visão sobre uma boa atuação docente em sala de aula? Que aspectos consideram? Que prejuízos a multiplicidade de visões pode acarretar? Foi procurando respostas para essas questões que a pesquisadora Gabriela Dias investigou o conceito de qualidade em educação em seu trabalho de mestrado pela Faculdade de Educação da USP. Entrevistas com educadores e alunos sobre a visão que eles tinham sobre o que é ser um bom professor ajudaram a reforçar o papel da escola para além da transmissão de conhecimentos.

Tendo como parâmetro a Sociologia da Experiência, formulada pelo sociólogo francês François Dubet, em que leva-se em consideração pesquisas realizadas com a colaboração dos atores investigados, Gabriela entrevistou professores a alunos do 5º ano de duas escolas públicas. As perguntas foram abertas para possibilitar respostas pessoais e espontâneas. Foram abordados um total  de 179 alunos e oito professoras.

A opinião dos estudantes

Em suas falas, os alunos valorizaram muito os professores que têm os seguintes perfis: paciente, divertido e atencioso. “Muitos alunos associaram o fato de ensinar bem e dar aulas legais ao bom humor do professor. Outra característica abordada pelos alunos de maneira positiva foi exigência, associada ao compromisso com a aprendizagem”, diz a pesquisadora.

Um aspecto muito elogiado foi a paciência dos professores. As crianças citaram aqueles que não se incomodavam em explicar novamente o conteúdo e criavam espaço para que a turma ficasse à vontade para expor suas dúvidas.

Outro ponto bastante interessante levantado por eles foi o fato de que os professores ensinavam valores. Muitas crianças descreveram a relação professor-aluno de maneira extremamente afetiva, chegando a utilizar as palavras mãe e filho, o que demonstra a  valorização de professores que destinavam um tempo de aula para o diálogo.

O que pensam as professoras

As professoras tinham opiniões divididas. Algumas falaram sobre a mudança do perfil do aluno e como os educadores precisavam se adaptar, outras falaram sobre a indisciplina, mas não citaram nenhuma atitude que poderiam tomar como professora para lidar com os problemas de comportamento.  Segundo a pesquisadora, “não existe um questionamento por parte das professoras sobre seu grau de envolvimento com as questões apresentadas em sala: se queixam sobre a família, mas não buscam alternativas para melhorar a questão no âmbito escolar”.

Enquanto as professoras da Escola 1 sentiam-se autônomas para escolher o que e como trabalhar no que diz respeito ao conteúdo e usaram a palavra “privilégio” para expressar tal autonomia , as professoras da Escola 2 contaram que a seleção de conteúdos é fechada e que cabe a elas apenas “encaixar” todo conteúdo no ano letivo. Gabriela aponta em sua pesquisa que isso é bastante problemático, uma vez que ao perderem o controle do que deve fazer, os educadores também perdem os objetivos e o processo de seu trabalho.

Outra coisa que chama bastante a atenção é o fato de que as professoras afirmaram desenvolver práticas da época em que eram alunas. Uma professora entrevistada trouxe também o fato de perpetuar práticas que não são boas e começou a se reavaliar diante dessa situação. Isso comprova que boa parte do que os professores sabem sobre o ensino vem da sua história de vida, algumas vezes do tempo em que eram alunos. Ou seja, existem conhecimentos  que vem antes da formação universitária.

“Todas as professoras participantes da pesquisa consideram-se boas professoras, porém somente duas das oito entrevistadas justificam a boa atuação pela capacidade de se avaliar”, diz Gabriela. Uma das professoras fala que antigamente os alunos ficavam quietos em sala, reforçando não só uma visão saudosista, mas sua incapacidade em perceber que ainda vê os alunos de maneira passiva.

A pesquisa mostra que os discursos entre alunos e professores sobre a prática docente está em descompasso. Enquanto os alunos valorizam paciência, bom humor e atenção, as professoras não comentaram nenhum destes aspectos durante as entrevistas.

Gabriela Dias declarou estar surpresa com a desvalorização do magistério entre os próprios educadores. “O professor deve se adaptar ao novo perfil de aluno. Enquanto professora, sei que esta não é uma tarefa fácil, no entanto, ela é extremamente necessária. Temos que repensar nosso modelo de educação, que se remete ao passado, para pensar em um aluno atuante no processo de ensino-aprendizagem”, defende ela. “A escola tem de se reinventar em novos tempos de fácil acesso à informação e em contextos diversificados. Temos que ter consciência deste novo perfil de aluno e refletir sobre as mudanças necessárias”.

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