ISSN 2359-5191

28/01/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 3 - Saúde - Instituto de Psicologia
Comportamento pós-tratamento do câncer de mama tem ligação à organização de personalidade
Reação de mulheres às intervenções para tratar a doença está atrelada à forma como já encaravam outros momentos de crise
Fonte: site Liketing

O câncer de mama é uma doença que atinge milhares de mulheres por ano. Para tratar o problema é necessário passar por procedimentos rigorosos, que deixam marcas físicas e psicológicas nas pacientes - dificultando assim que retomem suas vidas e levem a mesma rotina de antes. A fim de entender quais são esses sinais que perduram e por qual razão, a psicóloga Diana Espallargas desenvolveu a pesquisa A mulher e o câncer: a vida após diagnóstico e tratamento oncológico.

A pesquisadora tomou como suporte em seu trabalho a psicanálise, avaliando a organização de personalidade das pacientes. “As pessoas estabelecem as bases de sua personalidade assim que nascem, e as mães tem papel fundamental nesse processo, pois são elas que proverão um ambiente no qual a criança poderá se diferenciar e integrar-se como indivíduo”, explica. Essa etapa da vida das crianças é essencial, pois garante que elas tenham as questões psicossomáticas importantes desenvolvidas. Quando elas não conseguem se desenvolver de forma adequada acabam tendo falhas na organização de sua personalidade. “É o que nota-se no caso das mulheres que possuem maior dificuldade para retomar a vida após o adoecimento”, acrescenta.

A ideia da pesquisa surgiu quando Diana percebeu a grande demanda de mulheres que, mesmo após o fim dos tratamentos iniciais, mantinham repercussões psicológicas consideradas importantes, uma vez que o esperado é uma redução gradativa desse quadro. Foram entrevistadas mulheres de 36 a 57 anos, todas encaminhadas pelos médicos e terapeutas ocupacionais da Santa Casa de São Paulo e que estavam em primeira remissão do câncer de mama.

Intervenções e mudanças

O tratamento de combate ao câncer de mama é feito a partir de três procedimentos principais: a radioterapia, a quimioterapia e a cirurgia, que se divide em duas modalidades, a mastectomia (retirada completa da mama) e a setorectomia (retirada parcial da mama). Todas essas intervenções acarretam mudanças significativas, como a queda de cabelo, por exemplo, que provoca grande angústia nas mulheres e faz com que muitas se isolem. “Uma das frases mais ouvidas pelas pessoas em tratamento é ‘vai crescer’ - em referência aos seus cabelos - e isso é uma das piores coisas que podem ser ditas para a paciente, porque ela está doente e quando se olha no espelho aquilo se evidencia”, conta a psicóloga.

A cirurgia de retirada da mama conta com diversas modalidades, sendo possível, além da remoção completa ou parcial, retirar o bico do seio e, posteriormente, fazer a reconstituição ou colocar próteses de silicone. Por isso, a depender do processo, algumas mulheres se adaptam melhor do que outras. No entanto, o procedimento sempre deixará marcas físicas e psíquicas, pois a mulher olhará para suas mamas e notará as mudanças, chegando, em muitos casos, a pensar que aquelas mamas não são suas. Também são comuns as alterações causadas por tratamentos hormonais, que, entre as muitas sequelas, afeta diretamente a vida sexual da mulher, provocando perda de libido e menos desejo sexual.

Todas essas questões físicas e psicológicas repercutem de forma intensa na vida social das mulheres, gerando uma baixa autoestima e um estado de pessimismo que faz com que muitas se distanciem das outras pessoas e não retomem atividades comuns como trabalhar. Além do estado emocional, fator preponderante, há também as sequelas deixadas pela cirurgia, que podem limitar os movimentos do braço e impedir que sejam realizados exercícios similares aos anteriores - o que contribui para um menor engajamento. Na Santa Casa de São Paulo, há programas que visam colaborar com a reinserção da mulher no mercado de trabalho e tornar esse momento mais natural.

Após realizar entrevistas semidirigidas e fazer a avaliação clínica das pacientes, a pesquisadora pôde compreender as bases de repercussão psicológica e atestar seu trabalho por meio do histórico de organização de personalidade das participantes. Dessa maneira, a forma como elas agirão depois do diagnóstico, dependerá de como elas já reagiam a outros momentos de crise. Porém, é essencial levar em consideração acontecimentos recentes, como lutos ou perdas, e a presença de quadros anteriores de câncer na família, pois a depender do seu desfecho pode causar grande influência na pessoa em tratamento.


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