Em regiões metropolitanas, a urbanização afeta o balanço energético superficial, o escoamento das águas sobre a superfície e a disponibilidade de umidade do ar, interferindo no processo de formação de nuvens e na precipitação. Gustavo de Almeida Coelho, engenheiro ambiental e pesquisador da Escola Politécnica, atua há mais de cinco anos com estudos e projetos relacionados ao manejo de águas pluviais e controle de inundações em áreas urbanas. Seu último trabalho foi voltado para a verificação de um comportamento não estacionário (inconstância fora da variabilidade natural) das chuvas na cidade de São Paulo.
Em escala local e regional, o clima pode ser afetado pelas perturbações térmicas geradas pelas ilhas de calor urbanas, pela presença das edificações que desviam os sistemas de precipitação, e pelo aumento dos aerossóis provenientes das emissões atmosféricas. “O processo de urbanização e industrialização é responsável por significativas modificações no tipo de uso e ocupação do solo e pela geração de poluentes”, alerta Gustavo.
Análise pluviométrica
Para verificar se a precipitação na metrópole apresenta um comportamento não estacionário, o pesquisador analisou os registros de precipitação de seis postos pluviométricos. O período de dados é bastante amplo, e variou entre 1888 e 2012. As informação foram obtidas junto ao Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos do Estado de São Paulo (SigRH), ao Departamento de Águas e Energia (DAEE) e à Empresa Metropolitana de Água e Energia (EMAE).
Foram feitas duas análises, sendo a primeira sobre o total de precipitação anual, que verifica a existência de uma média constante ou tendência positiva ou negativa entre os anos. Uma tendência positiva, por exemplo, indica o aumento do volume anual de chuvas em uma determinada região. A segunda análise foi sobre precipitação máxima diária, relacionada aos eventos intensos que causam a maior parte das inundações em áreas urbanas. O aumento do valor da precipitação para uma determinada frequência significa que há uma maior possibilidade de ocorrência de eventos mais intensos em um menor intervalo temporal.
Esquema representativo da variação da temperatura superficial e atmosférica. Fonte: U.S. EPA (2008) adaptado de Voogt (2004).
A análise estatística mostrou que a precipitação total anual possui um comportamento não estacionário em três dos seis postos pluviométricos estudados. Do ponto de vista do gerenciamento de sistemas de recursos hídricos, tais como reservatórios para abastecimento e geração de energia, o aumento da variabilidade implicaria no aumento de ocorrência de valores mais extremos (mínimos e máximos).
Adaptação às chuvas
A pesquisa comprovou o aumento da variabilidade da chuva em algumas regiões da cidade, com maior probabilidade de ocorrerem eventos mais intensos. “Alguns dos postos pluviométricos, mesmo estando relativamente próximos entre si, num raio de aproximadamente 12 km de distância, apresentaram resultados diferentes entre si, evidenciando a influência do microclima e das estruturas físicas da cidade na distribuição espacial das chuvas”, afirma Gustavo. O pesquisador também aconselha sobre os planos de ação: “ao se confirmar a tendência de aumento de eventos intensos e em curtos períodos de tempo, deve-se reavaliar a capacidade atual do sistema de drenagem e determinar um novo nível de proteção do sistema”.