ISSN 2359-5191

16/02/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 13 - Ciência e Tecnologia - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia
Índice ecocardiográfico ajuda a avaliar funções cardíacas em cães com doença da valva mitral
Disfunção valvar crônica acomete principalmente cães de pequeno porte idosos, podendo causar insuficiência cardíaca
Cardiopatia é a que mais acomete cães idosos de pequeno porte (Imagem: Wikimedia Commons)

A doença valvar degenerativa crônica mitral é a principal cardiopatia em cães de pequeno porte. Bastante comum em animais idosos, tem uma incidência de 85% naqueles que chegam aos 13 anos de idade. Ela faz com que a valva, devido ao desgaste, não consiga fechar de forma adequada, fazendo com que haja regurgitação de sangue do ventrículo para o átrio. Sua principal complicação é a insuficiência cardíaca, quando o coração não consegue mais bombear todo o sangue que o corpo precisa. Em pacientes doentes, as funções sistólica (contração) e diastólica (relaxamento) do órgão podem estar alteradas, sendo difíceis de serem avaliadas, em certas situações, pelos métodos tradicionais de ecocardiograma.

Caio Nogueira Duarte, médico veterinário, estudou em seu mestrado pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP, entre 2012 e 2015, o dP/dt, ferramenta ecocardiográfica de avaliação de função miocárdica. “Tradicionalmente, utilizam-se índices como fração de encurtamento e de ejeção para analisar a função sistólica e ondas do fluxo transmitral para a diastólica”, relata. Contudo, algumas dessas ferramentas são muito dependentes de variações de volume de sangue e pressão arterial, enquanto outras não podem ser utilizá-las em pacientes com frequência cardíaca muito aumentada ou alguns tipos de arritmias. “Nesses paciente, o dP/dt também seria uma ferramenta extra para avaliação da função diastólica e mais fidedigna para a sistólica”, completa.

Ferramenta complementar

O dP/dt é uma derivada de pressão dividida numericamente por uma derivada de tempo. Utiliza-se o fluxo de regurgitação da valva mitral para fazer o cálculo. “Ele possui uma curva de aceleração, atinge a sua velocidade máxima e, em seguida, apresenta uma de desaceleração  é desse gráfico que se tira o tempo”, explica Duarte. A derivada de pressão corresponde a pressão realizada para o fluxo acelerar ou desacelerar. Um animal que tem a função sistólica normal teria um valor também normal de +dP/dt; quando o paciente possui essa disfunção, o valor é inferior. O mesmo raciocínio é aplicado à função diastólica, mas utilizando-se a curva de desaceleração do gráfico para medir o -dP/dt. “Esse seria um método a mais para as avaliações tradicionais já feitas pelo ecocardiograma e melhor em relação a ferramentas invasivas, as quais precisariam de anestesia geral”, comenta.

Ainda não existe um valor de referência para esses índices, mas eles podem ser considerados como ferramentas complementares para aumentar a precisão do diagnóstico, adequando ainda mais o tratamento a ser realizado em determinado animal dependendo do grau da doença no qual se encontra. Segundo o pesquisador, é difícil achar esse valor basal através porque ele deveria ser obtido através de cães saudáveis. Entretanto, não é possível fazer o calculo de dP/dt nesses animais porque eles não apresentam regurgitação da valva mitral, o que impossibilita a mensuração do índice através do ecocardiograma. Por essas dificuldades, trabalhou apenas com cães doentes.

Todos os cães usados na pesquisa eram pacientes do Hospital Veterinário (HOVET) da USP com doença valvar degenerativa crônica mitral. Após o atendimento, eram feitos exames de triagem  coleta de sangue, eletrocardiograma, aferição de pressão arterial e raio X de tórax  para garantir que eles não tivessem outras doenças associadas as quais pudessem interferir na pesquisa. Foram incluídos 57 cães de pequeno porte no estudo  26 deles com insuficiência cardíaca  todos submetidos ao ecocardiograma completo para realizar a captura das imagens e medir o dP/dt. Foram feitas três medidas de cada dP/dt, em três ciclos diferente, e média delas foi utilizada para realizar as análises estatísticas.

Comparação de valores

Devido a falta de valores de referência para a medição desses índices, Duarte criou números de corte aleatórios e, através de cálculos estatísticos, testou todos eles. Para o +dP/dt, os cães com uma valor maior que 1800 mmHg/s geralmente não tinham insuficiência cardíaca, com estágio bem inicial da doença, enquanto aqueles com valor menor possuíam grande probabilidade de estar com insuficiência cardíaca e ter disfunção sistólica. Em relação ao -dP/dt, o valor de corte encontrado foi de 800 mmHg/s, utilizando-se os mesmo parâmetros em relação à diástole. Por fim, calculou um valor de corte para detectar padrão diastólico restritivo, chegando também a 800 mmHg/s. “Ele é um dos índices a indicar que o animal está ou vai entrar em insuficiência cardíaca congestiva, então é de extrema importância que se tenha uma diagnóstico precoce nesses casos para tratar rapidamente o animal”, explica.

“O trabalho observou que, quando comparados os dP/dts positivos, só havia diferença significativa entre os cães em estágio avançado da doença  que seriam os estágios C e D  e aqueles que se apresentavam em fases mais iniciais: os B1 e B2, com valores superiores aos outros dois”, relata. Em relação ao -dP/dt, os cães em estágio C e e D apresentaram, também, um valor inferior aos de estágio B1; todavia, os animais em B2 não tiveram diferença estatística em relação aos outros. Separando esses cães em relação a ausência ou presença de insuficiência cardíaca, também foram notadas diferenças, pois ambos os valores de +dP/dt e -dP/dt foram menores naqueles que a possuem. A pesquisa de Duarte foi apresentada em 2015 no European College of Veterinary Internal Medicine (ECVIM) Congress.

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