ISSN 2359-5191

16/02/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 13 - Educação - Faculdade de Educação
Pesquisa propõe possibilidade de filosofia humanista para educação
Estudos do pensador Viktor Frankl podem ser aplicados no modo de se pensar ensino
Viktor Frankl foi um médico psiquiatra, fundador da escola da logoterapia, que explora o sentido existencial do indivíduo e a dimensão espiritual da existência. Imagem: reprodução

Após refletir sobre a ausência, nas escolas brasileiras, de uma filosofia da educação autenticamente humanista e de uma antropologia filosófica sobre a qual o projeto pedagógico esteja baseado, a pesquisadora Eloisa Miguez desenvolveu sua tese “Educação em Viktor Frankl: entre o vazio existencial e o sentido da vida”. Com o objetivo de contribuir para a discussão e a prática educativa, a pesquisadora trabalha as ideias propostas pela Análise Existencial de Viktor Frankl, segundo as quais o processo educativo ocorre junto à formação pessoal do indivíduo.

Viktor Frankl (1905-1992) foi um neurologista e psiquiatra austríaco que defendeu ideias sobre o significado expressivo e não apenas instrumental das neuroses, consideradas “heterodoxas” e que o levaram ao rompimento com a chamada psiquiatria clássica. Frankl passou por quatro campos de concentração, entre eles Auschwitz, e usou sua experiência para criar uma psicoterapia que possibilitava às pessoas reconfigurar a própria vida quando parecia muito fácil desistir. Desenvolveu um conceito antropológico fundamental: a “vontade de sentido” como a motivação mais primária e irredutível da existência.

“A busca por um sentido na vida e a necessidade incondicional de encontrá-lo vem orientar não apenas uma nova abordagem psicoterápica, mas também uma visão de homem que oferece novas referências para as ciências humanas, entre elas a educação”, conta Eloisa. “Somente nessa perspectiva há autoeducação, isto é, à medida que o homem decide sobre algo, está decidindo sobre ele mesmo, configurando a própria existência. Essa busca de sentido pessoal, como também a construção de significados partilhados no campo educativo estaria no centro do processo pedagógico”, explica a pesquisadora.

Segundo o que é defendido na tese, o processo educativo-formativo acontece no espaço existencial entre o ser e o dever-ser. Frankl o entende como um processo de autoconfiguração da pessoa. “A formação pessoal, finalidade da educação, pressupõe reconhecer a vocação mais íntima de cada pessoa e sua dimensão de liberdade e autodeterminação. Para que isso seja possível, é necessário criar espaços de fomento do sentido”, defende a pesquisa.

Eloisa coloca que, no âmbito das relações educativas, lidamos com um conjunto de “polaridades” que não se excluem, mas se complementam: processo de diferenciação ("sê o que tu és") e processo de complementaridade, algo como "sê o que tu és com os outros", no encontro e na comunicação existencial; a ideia de Bildung, como a assimilação da cultura e da técnica, e a ideia de Gestaltung, como o desenvolvimento da personalidade, mediante o qual a pessoa vai fazendo-se cada vez mais independente e distinta das demais; e conservação e transformação como duas vertentes também complementares da educação.

Valorizar o passado e a autoridade do professor como representante de um mundo no qual deve introduzir os novos é muito importante. Porém, é preciso dar espaço para que os novos possam renovar o mundo. Por isso, é papel crucial da atividade educativa "afinar a consciência" para a percepção de sentidos únicos de cada indivíduo; por outro lado, há que considerar a responsabilidade numa dimensão mais ampla: “O papel político da educação é manter a tensão entre um projeto para cada pessoa em sua vocação singular e para o conjunto dos homens, pensando na humanidade como totalidade”.

Assista a entrevista de Viktor Frankl e conheça um pouco mais sobre o seu pensamento:

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