ISSN 2359-5191

01/03/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 23 - Ciência e Tecnologia - Escola Politécnica
Uso de espuma asfáltica em reciclagem de pavimentação é opção barata e sustentável
Pesquisa estudou comportamento do material e indica que melhor utilização dele é nas camadas mais profundas das vias
Foto: Diogo Moreira/A2 FOTOGRAFIA

Técnica de reciclagem para preenchimento de vias automobilísticas que se utiliza de espuma asfáltica foi estudada por pesquisador da Escola Politécnica. Frederico Guatimosim indica a forma mais apropriada de utilizá-la para se obter maior durabilidade e qualidade tendo melhor relação custo-benefício. Segundo ele, em vez de encarar o material como o tradicional concreto asfáltico e usá-lo para recobrir o caminho desde sua superfície, é preciso utilizá-lo sempre em camadas mais inferiores da via, para, assim, garantir maior resistência do material na estrada.

O estudo de Guatimosim procura analisar o processo de reciclagem que utiliza a espuma asfáltica como ligante dos pedaços retirados da cobertura rodoviária. “Em vez de um ligante asfáltico convencional, você passa ele por um processo onde você o expande com água e ar, transformando-o em uma espuma. Aumentando o volume dela muitas vezes, você facilita a trabalhabilidade, é muito mais fácil de se manusear e de se misturar com os agregados”, diz o pesquisador. Quando o ligante de espuma é misturado aos pedaços antigos retirados do pavimento de rodovias (chamados de agregados), porém, nem todos são completamente envolvidos pelo material, e são pintados separadamente pelas bolhas da espuma. As ligações presentes dentro do material reciclado são mais frágeis e descontínuas, e por isso apresentam menos chances de trincarem por inteiro quando quebradas.

Por isso, a recomendação de melhor uso para a espuma asfáltica é nas camadas mais profundas da pavimentação. As ligações feitas com ela são mais frágeis daquelas produzidas no concreto asfáltico normal, porém a produção do material é bem mais barato também, já que a espuma permite que se use uma pequena quantidade de asfalto para uma área bem maior de agregados. Então, visando um melhor aproveitamento a longo-prazo, Guatimosim recomenda que na superfície seja aplicada uma camada de pavimento feito a partir de asfalto comum para dar a maior resistência possível, e então, abaixo dele, o preenchimento seja derivado do material produzido junto da espuma.

O pavimento feito a partir de concreto asfáltico ou concreto tradicional tem uma resistência maior em suas ligações, tornando-as contínuas. Porém é justamente isso que pode prejudicar a via como um todo: “Por ser uma ligação contínua, se aparece alguma fissura ou trinca, elas se propagam porque o meio é contínuo”. Já na espuma, por causa das ligações pontuais e descontínuas que possui, caso haja o rompimento de uma dessas ligações, não há propagação da fissura e ela não chega a prejudicar toda a massa de pavimento, nem chegar à superfície.

Existe uma diminuição de custos e no desperdício de tempo e energia na aplicação do pavimento feito a partir da espuma asfáltica. Segundo o doutorando, não é preciso buscar novos agregados, já que é possível retirá-los do local onde acontecerá a restauração. Se possuírem uma usina móvel, o processamento com a espuma asfáltica é feito ali perto, evitando custos e emissões de poluentes derivados de transporte. Além disso, a pavimentação com o material é rápida, podendo ser colocada de noite e a via estar pronta para uso pela manhã, diferentemente do cimento, por exemplo, que leva uma semana para estar finalizado.

Gautimosim analisou vários casos de uso do material para fazer sua pesquisa de análise de comportamento da espuma asfáltica. Ele acompanhou o processo de restauração da rodovia Ayrton Senna, que dá acesso à Zona Oeste do estado, que foi feito aproveitando-se da mesma técnica. Segundo o pesquisador, a aplicação deu muito resultado e foi reconhecida até mesmo internacionalmente, e por isso usou como exemplo na tese. Ele também manteve contato com algumas pessoas que desenvolveram a técnica na África do Sul, que a utilizavam por apresentar bons resultados, quando aplicada corretamente, e a baixo custo. Segundo o pesquisador, o uso da espuma é algo antigo que tem sofrido várias alterações na metodologia de projeto e de aplicação. Ele já foi muito utilizado aqui no Brasil, mas alguns insucessos aconteceram, o que gerou uma má reputação para a técnica. “Um dos pontos do meu trabalho é exatamente tentar olhar pra esse material de uma forma diferente, e aproveitar ele de uma outra forma que não como tínhamos feito no passado. Antigamente, a espuma era feita na mesma forma, a diferença é que no começo da década a técnica olhava para esse material como se ele fosse um concreto asfáltico tradicional. Só que o material é muito bom se você tratá-lo como ele é. Se você tentar usá-lo na superfície, ele não vai servir.”

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