ISSN 2359-5191

24/02/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 19 - Saúde - Faculdade de Odontologia
Saúde bucal em crianças hepáticas é preocupante
Estudo demonstra que maioria dos pacientes com falência no fígado apresenta alterações bucais
Foto: Prof. Dr. Fábio A. Alves

A pesquisadora Evelyn Alvarez Vidigal estuda, em sua tese de pós doutorado, o impacto da saúde bucal na qualidade de vida de crianças hepáticas programadas a transplante. Tais pacientes têm seus dentes, lábios e mucosa atingidos por doenças que acometem o fígado. Além disso, para realizar o transplante, eles precisam estar livres de quaisquer infecções, como cáries e placa bacteriana. Assim, é fundamental o trabalho conjunto de dentista e médico nestes casos.

Foram analisadas 33 crianças, de 12 a 48 meses de idade, no A. C. Camargo Cancer Center, em São Paulo, e todas elas apresentavam algum tipo de alteração bucal, sendo que mais de 60% do grupo estudado tinha mudanças na pigmentação dentária, com dentes verdes em muitos casos devido a alta produção de bilirrubina, substância gerada na bile e conduzida aos tecidos pelo sangue.

Também foram averiguadas a presença de cárie, índice de placa bacteriana, sangramento gengival, alterações no esmalte e nível de higiene bucal. Nestes casos é comum também a hipoplasia, uma alteração no esmalte, que fica mais opaco e quebradiço pela perda de estrutura, se assemelhando a uma casca de ovo. Se alinhada a falta de higiene e alimentação inadequada, tal condição aumenta o risco de cárie. Os pacientes na lista de espera também apresentam lábiosinchados e fissurados.

Para mensurar o impacto destas alterações na qualidade de vida destes pacientes e sua família foi aplicado o questionário ECOHIS (Early Childhood Oral Health Impact Scale), aos pais. Nele, foi avaliada a percepção quanto a condição odontológica dos filhos. Nas respostas foi possível avaliar a angústia dos responsáveis quanto aos dentes verdes, “talvez por sua percepção estética dos problemas odontológicos dos filhos”, comenta a pesquisadora. No entanto, foram as cáries que tiveram o maior impacto negativo psicológico nas crianças, resultando em dificuldade de dormir e irritabilidade.

Houve também um indicativo de impacto econômico e psicológico na família. Isto porque os pais ficam muito preocupados e pela maioria ser do nordeste e viver em condições socioeconômicas desfavoráveis. Quando vêm a São Paulo para o tratamento, as famílias ficam alojadas em péssimas condições, em cortiços e pensões. 

Há também, a falta de instrução de higiene bucal dentre as famílias em situação de vulnerabilidade, além da existência de uma condição mais grave causar a despreocupação ou falta de identificação de demais problemas de saúde, como os odontológicos. Evelyn ressalta que o questionário “é um pontapé para prevenção e tratamento destes pacientes”, já que não havia sido aplicado em pacientes hepáticos, até então.

Após a avaliação clínica e a aplicação das perguntas, foi feito o tratamento e a mensuração de seus resultados positivos. Jenny diz que os pais estão mudando muito a sua postura quanto a promoção e preocupação com a saúde bucal. “É preciso se trabalhar mais na promoção de saúde destes pacientes tanto na prevenção, com a orientação da criança e de seus pais, quanto no tratamento clínico”. 

Figura 1: Criança pré-escolar com doença hepática apresentando dentes pigmentados (esverdeados) por excesso de bilirrubina (hiperbilirrubinemia). Foto: Prof. Dr. Fábio A. Alves

Figura 2: Criança pré-escolar com doença hepática apresentando amplas lesões de cárie dentaria e lábios ressecados. Foto: Evelyn A. Vidigal

 



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