ISSN 2359-5191

31/03/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 29 - Ciência e Tecnologia - Faculdade de Odontologia
Pesquisa propõe uniformização da análise de lesões odontológicas em acidentes
Adaptação de método espanhol é validada para a realidade brasileira
Pesquisador utiliza maquiagem de efeitos especiais para simular lesões

Com base na legislação espanhola, pesquisadores da Faculdade de Odontologia da USP buscam padronizar os procedimentos de análise do dano estético na perícia brasileira. Atualmente, não há diretrizes explícitas a respeito desse processo no Código Civil Brasileiro. Isso significa que a forma da compensação das pessoas envolvidas em acidentes varia de acordo com os peritos cirurgiões-dentistas e os juízes.

Segundo o pesquisador Mário Marques Fernandes, a Espanha fez um grande avanço nessa área ao aprovar a Lei 35/2015, que padroniza a atuação desses profissionais. “Nessa Lei, existe claramente uma divisão entre os diferentes tipos de danos (materiais, morais e estéticos), contendo tabelas com valores passíveis de enquadramento das vítimas de acidente conforme o resultado da avaliação”, ele afirma. Nesse método, os peritos contam com o auxílio de um questionário para avaliar os danos causados e, assim, recompensar as vítimas de forma justa.

A análise do dano

O segundo capítulo do Código Civil Brasileiro trata de indenizações. Os incidentes previstos na lei incluem homicídio, impedimento da exerção de trabalho remunerado e lesão ou ofensa à saúde. É nesse terceiro item que se exerce a análise do dano: nesses incidentes, a indenização à parte ofendida depende da análise do perito e da interpretação do juiz - o código afirma que “a indenização mede-se pela extensão do dano”. O uso de um protocolo unificado pode reduzir discrepâncias nesse sentido, uma vez que diminui a dependência de fatores subjetivos.

O grupo de pesquisa fez uma visita técnica ao município de Saragoça, na Espanha, para conhecer o precursor do método no qual a lei se baseia: Juan Antonio Cobo Plana. Nessa visita, analisaram a sua aplicação em pessoas acidentadas e comprovaram a possibilidade de seu uso forense. O próximo passo foi traduzir e adaptar para a cultura brasileira o questionário utilizado pelos peritos.

Para garantir uma tradução fiel, os pesquisadores reuniram um grupo de especialistas para sanar dúvidas sobre a correspondência de palavras e expressões específicas. Nesse comitê, estavam presentes um professor de espanhol e um de português, o criador do método espanhol e os responsáveis pela pesquisa. Dessa forma, o questionário brasileiro se tornou aplicável à realidade do país sem perder sua essência.

Os métodos e a sua prática

Depois de elaborar o questionário, os pesquisadores partiram para a fase seguinte do estudo: a verificação do método na prática. O principal obstáculo nessa fase foi a impossibilidade de produzir o dano em laboratório - afinal, não seria viável criar lesões nos modelos voluntários. A princípio, só havia duas opções: analisar uma pessoa que já tivesse lesões supondo como ela era antes ou analisar um modelo sem qualquer lesão. Nenhuma das duas possibilitaria a validação do método.

A solução foi simular as lesões com maquiagem - a mesma técnica utilizada em efeitos especiais. “Talvez neste momento entre a nossa contribuição para as pesquisas forenses”, afirma Marques. Com essa técnica, os peritos puderam analisar fotografias das mesmas pessoas com e sem lesões. Assim, foi possível aplicar o método sem infringir nenhuma norma ética de pesquisa.

Os resultados dessa verificação foram positivos, e demonstram que o método espanhol pode ser aplicado à realidade brasileira. Contudo, Mário afirma que sua pesquisa não engloba todo o processo de análise do dano estético: “Validamos o método para uso com cicatrizes na face, porém mais estudos ainda precisam ser feitos incluindo outros aspectos da avaliação, como, por exemplo, quando se perde dentes.”

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