ISSN 2359-5191

06/04/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 33 - Saúde - Faculdade de Medicina
Prática contínua de atividade física garante melhor sistema imunológico
Queda menor no desempenho dos mecanismos de defesa foi notada em idosos praticantes de atividade física a longo prazo
Os idosos ativos apresentam melhor resposta imune do que os sedentários. Fonte: Divulgação

Idosos que praticam atividade física moderada e regular durante a vida possuem melhor conservação dos mecanismos de resposta imunológica do corpo. Essa foi a conclusão de um estudo realizado no Laboratório de Investigação Médica em Dermatologia e Imunodeficiências 56, da FMUSP, pelas doutoras Léia Cristina Rodrigues da Silva e Adriana de Araújo Ladeira, com a participação da mestranda Juliana Ruiz Fernandes.

O retardo da imunossenescência (alterações que o sistema imune sofre durante o envelhecimento, com a desregulação de suas funções), ou seja, uma queda menor no desempenho do sistema imunológico, foi notado em idosos praticantes de atividade física a longo prazo através de dois aspectos avaliados na pesquisa: o comprimento dos telômeros das células de defesa linfócitos T, e a resposta do organismo à vacinação contra o vírus da gripe, que acontece todos anos por meio de campanhas.

“Fizemos dois projetos de doutorado: o meu estudava os sedentários e os moderados, esses últimos indivíduos idosos que praticavam vôlei e basquete adaptados e corrida — menos de 5 km por treino — há pelo menos cinco anos”, conta Léia. No grupo dela, a média de tempo praticando atividade física entre os voluntários avaliados foi de quinze anos, enquanto no de Adriana essa média subia para os vinte e cinco anos.

A partir disso, foi percebido que o comprimento dos telômeros dos linfócitos T, células de defesa, estava mais preservado nos indivíduos ativos. Isso é relevante, pois, como lembra Léia, os telômeros “dizem a respeito da memória das células, da idade cronológica delas e da capacidade delas se dividirem, que são duas funções importantes para o sistema imune”. Ao se dividirem, eles permitem a reposição celular, que renova constantemente o organismo e, no caso dos linfócitos T, auxiliam na resposta imune.

“Nosso organismo utiliza-se de um mecanismo chamado apoptose, que é uma morte celular programada, para retirar as células que já não servem mais — isso corpo sempre faz como forma de renovação. Só que, com o envelhecimento, parece que esse mecanismo é aumentado, então o sistema imune passa a perder mais células. A atividade física diminui essa morte celular programada, tornando-a menos suscetível”, a pesquisadora esclarece.

WBC Apoptosis from Khye Kading on Vimeo.
Vídeo representando a apoptose, morte celular programada, processo que se torna mais frequente com o envelhecimento.

Conforme o corpo envelhece, também há uma diminuição no número das células chamadas naive, as quais respondem a novos estímulos, e um aumento das células de memória, que são células já comprometidas com algum estímulo específico. Além disso, o repertório das células naive é reduzido e, logo, há também uma diminuição do reconhecimento de novos antígenos (corpos estranhos ao organismo). São alterações fenotípicas das células, que já não trabalham da mesma forma do que em um indivíduo jovem.

Portanto, os idosos respondem menos à vacinação. “Não que o indivíduo idoso se torne imunossuprimido, mas a competência do seu sistema imune diminui ao responder a novos estímulos — infecções, neoplasias (surgimento de tumores)”, adiciona Léia. Como consequência, a infecção pelo vírus influenza, causador da gripe, tem uma alta mortalidade na população mais velha. A prática contínua de atividade física, no entanto, foi capaz de melhorar esse quadro, e a resposta à vacinação contra a gripe teve melhor desempenho nos idosos não sedentários.

A pesquisadora nota, contudo, que “em geral, a população idosa vai fazer atividade física porque o médico recomenda. O diferencial do nosso trabalho é que esses indivíduos foram fazer atividade física antes de se tornarem idosos. Esse era nosso intuito: saber se a atividade praticada antes de se entrar na velhice prepara o sistema imune para enfrentar melhor esse envelhecimento, e realmente há uma colaboração. E ela faz bem não só para manutenção da saúde como um todo, mas também para a autoestima, então os idosos ativos estão sempre bem-humorados, têm muitos amigos, competem, saem da cidade. A vida deles tem mais sentido”.

O estudo durou quatro anos: dois entre o recrutamento de voluntários e a coleta de dados, e mais dois de experimentos no laboratório. Foram considerados idosos indivíduos a partir dos 65 anos de idade. Ele também contou com a colaboração do orientador Prof. Dr. Gil Benard e do Instituto de Ortopedia e Traumatologia da FMUSP com a participação de outros profissionais de saúde: Prof. Dr. Luiz Eugênio Garcez Leme, que coordenou o recrutamento de idosos sedentários e atletas no Instituto, Dra. Manuella Matias de Souza Toledo e Dr. Paulo Roberto Silva. Os idosos treinados moderadamente vieram do Programa Saber Viver da Secretária de Esportes da cidade de Cotia (Profa. Magali Ruivo), do Clube Paineiras, da Associação Atlética da FMUSP e da Corpore do Brasil.

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