ISSN 2359-5191

08/04/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 35 - Ciência e Tecnologia - Faculdade de Ciências Farmacêuticas
Pesquisadores produzem pele humana reconstruída na USP
Tecido produzido em laboratório apresenta resultados mais seguros e substitui testes em animais
Camadas da pele em ilustração/Fonte: artigo Artificial skin in perspective: concepts and applications

Um grupo de pesquisa da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo vem desenvolvendo pele humana in vitro. Tendência mundial, a produção em laboratório deste material permite substituir os testes de cosméticos em animais. Além disso, as características da pele reconstruída já se aproximam mais da pele humana do que as dos camundongos normalmente utilizados.

A substituição de diversos testes de cosméticos em animais será uma exigência no Brasil a partir de 2019, segundo a resolução normativa nº18 do Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (CONCEA) que determinou a substituição destes testes sempre que houver alternativas validadas disponíveis. O conselho é responsável por monitorar e regular a utilização de animais em pesquisas, além de estabelecer os parâmetros desse uso permitidos no país, de acordo com as convenções internacionais das quais o Brasil é signatário. A resolução citada reconhece 17 métodos alternativos de testes, ou seja, “que tenham por finalidade a redução, a substituição ou o refinamento do uso de animais em atividades de pesquisa”. A partir do momento que o conselho estabelece essas normas, as empresas têm cinco anos para se adequarem, substituindo os métodos tradicionais.

As pesquisadoras Paula Pennachi e Thalita Zanoni participam da equipe de pesquisa coordenada pela Professora Doutora Silvya Stuchi Maria-Engler e trabalham com a pele reconstruída em testes de cosméticos antienvelhecimento e de corantes presentes em tinturas de cabelo, respectivamente. As pesquisadoras reforçam que, diante de um quadro como o atual, ter uma produção de pele in vitro nacional e de qualidade dá ao Brasil autonomia em suas pesquisas científicas.

Thalita explica que, para produzir a pele in vitro, é necessário partir de células humanas. Mas o Brasil não permite que a importação deste tipo de material: nem das células, nem das peles produzidas a partir delas. Para realizar o trabalho na Faculdade, a equipe utiliza células humanas isoladas de amostras de prepúcio de bebês e de crianças até 15 anos, submetidas à cirurgia de postectomia, no Hospital Universitário e no Hospital das Clínicas.

As células, depois de purificadas, são conservadas em bancos de células em nitrogênio líquido. No momento de produção, são incorporadas à uma matriz de colágeno ou plaqueadas em bases específicas para a diferenciação do tecido. De acordo com a necessidade, pode-se utilizar células de diferentes pacientes, o que dá às peles in vitro diversas possibilidades como maior ou menor pigmentação e estágios diferentes de envelhecimento.

Além disso, a pele humana produzida em laboratório tem qualidade maior para testes do que a dos animais. Paula explica que “há uma diferença muito grande entre a estrutura da pele, derme e epiderme, de um animal de laboratório e a pele humana. Buscamos produzir um modelo cada vez mais ‘espécie específico’ para ter resultados mais fiéis e conseguir prever o efeito das substâncias de uma forma mais segura”.

Imagem mostra diferença entre pele de camundongos (esq.) e pele humana (dir.)/ Fonte:artigo Artificial skin in perspective: concepts and applications

Imagem mostra diferença entre pele de camundongos (esq.) e pele humana (dir.)/ Fonte: artigo Artificial skin in perspective: concepts and applications

O material produzido pela universidade é economicamente viável e já está pronto, possível de ser disponibilizado para empresas e indústrias.

Pesquisas em andamento: As pesquisadoras fazem parte de um mesmo núcleo que tem como objeto a produção da pele humana reconstruída, mas cada uma define seu recorte de estudo e adapta o material do laboratório para as suas necessidades.

Cosméticos anti-envelhecimento

O foco da pesquisa de pós-doutorado de Paula são os cosméticos antienvelhecimento. A primeira etapa, antes de começar a realização de testes, foi a produção de uma pele que se assemelhasse à pele humana envelhecida. A chamada pele glicada foi desenvolvida pela pesquisadora em parceria com o laboratório da L’Oréal na França e se mostrou uma alternativa positiva para os testes.“Mostramos que o nosso modelo in vitro corresponde ao que acontece na realidade de uma pele idosa, inclusive testando duas substâncias anti-glicantes disponíveis no mercado”, explica Paula.

Corantes de cabelo

Thalita utiliza a pele em laboratório para testar a toxicidade de corantes de cabelo. Há dois tipos principais de corantes, os permanentes, que compõem as tintas de cabelo, e os não permanentes, presentes em tonalizantes, por exemplo.

A pesquisa de Thalita sinalizou que, em muitos dos produtos comercializados, há presença de uma substância que quando oxidada libera radicais livres (a hidroxila) que podem induzir danos no DNA da pele humana. Esse processo gera sensibilização da pele, ou seja, independente de predisposição genética, o contato com a substância pode gerar uma alergia que se manifesta em um próximo uso do cosmético.

“Os corantes de cabelo dependem de reações muito complexas entre diversas substâncias, e vimos que os produtos formados [pelas reações] podem ser muito mais tóxicos para a pele do que o corante inicial”, afirma Thalita.





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