ISSN 2359-5191

15/04/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 40 - Saúde - Escola de Enfermagem
Enfermagem testa alternativas para reduzir sintomas de câncer
Pesquisa envolve estratégias educativas, técnicas de relaxamento e suporte emocional para melhorar qualidade de vida de pacientes
Combate ao câncer / Fonte: Divulgação

Quando se pensa em tratamento de câncer as primeiras ideias que vêm à mente são relacionadas a pessoas debilitadas devido à grande quantidade de medicamentos e sessões de quimioterapia ou radioterapia às quais são submetidas. Porém, uma proposta do grupo de pesquisa “Dor, Controle de Sintomas e Cuidados Paliativos” da Escola de Enfermagem da USP (EE) pretende mudar essa realidade. O projeto se baseia em estratégias educativas, técnicas de relaxamento e suporte emocional para auxiliar os pacientes no manejo de sintomas relacionados aos tratamentos. O estudo está sendo desenvolvido no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp). A expectativa é de que essa nova abordagem melhore a qualidade de vida de indivíduos que estão na luta contra a doença.

O câncer ainda é estigmatizado como uma enfermidade fatal, o que afeta muito o aspecto psicológico dos doentes, acarretando em insônia, fadiga, ansiedade e até depressão. Para piorar, os tratamentos, além de agravarem a tristeza e a preocupação, causam dor, náusea e outros problemas digestivos nos pacientes. Assim, além do tratamento médico convencional, é preciso de apoio para lidar com a doença.

Por isso, o grupo de pesquisa focará tanto em sintomas físicos quanto emocionais dos pacientes. A professora Marina explicou que uma coisa não está dissociada da outra e os sintomas se influenciam mutuamente. A depressão, por exemplo, pode agravar a dor, dificultando o combate à doença e até a adesão ao tratamento. A dor, por outro lado, pode provocar fadiga, insônia, entre outros problemas. Portanto, o tratamento proposto no estudo deve ajudar a minimizar vários sintomas.

O projeto prevê a aplicação de seis sessões individuais, nas quais os enfermeiros escutam as queixas do paciente e ensinam diferentes maneiras de prevenir e tratar os sintomas que os incomodam. A consulta de enfermagem já é realizada no cuidado usual dos hospitais, mas em geral o paciente recebe muita informação e de forma rápida, nem sempre compreendendo o que foi passado. A diferença nesta nova proposta está no acolhimento, no estabelecimento de vínculo e no acompanhamento do paciente ao longo do tratamento.

Outra atividade realizada, em todas as sessões, é a técnica de relaxamento. Essa estratégia tem o objetivo de aliviar o estresse, controlar a ansiedade e minimizar a insônia e os sintomas depressivos. Dura de 10 a 15 minutos, é acompanhada de música instrumental, utiliza respiração rítmica, relaxamento muscular progressivo e imaginação dirigida. Os pacientes também recebem um CD para praticar o relaxamento em casa.

Tratamento usual

Há nos hospitais programas de suporte emocional para pessoas com câncer, mas eles parecem insuficientes. No caso do Icesp, os pacientes podem contar com a orientação de enfermeiros para controle de sintomas, com a atenção de voluntários para distrair e relaxar, e com o “Alô enfermeiro”, um atendimento telefônico 24h para sanar dúvidas e angústias sobre a doença. Contudo, essas iniciativas não conseguem por si só diminuir significativamente os sintomas da doença, possivelmente devido à sobrecarga de emoções e de sintomas que esses pacientes enfrentam.

A líder do grupo de pesquisa e responsável pelo estudo, professora Marina de Góes Salvetti, explicou: “Por mais que estudos mostrem que os profissionais percebem esses sintomas, nem sempre eles são eficazes para controlá-los, pois o tratamento médico do câncer é muito complexo. Os enfermeiros ficam muito atento aos aspectos técnicos e à segurança, que são fundamentais, mas o aspecto humano e as questões emocionais muitas vezes ficam em segundo plano.”

Antes e depois

A fim de saber se de fato os novos tratamentos propostos são eficientes em melhorar a qualidade de vida dos pacientes e controlar os sintomas da doença, os pesquisadores usarão o método de comparação antes-depois entre o tratamento usual feito no hospital e as novas estratégias.

Para isso, serão divididos dois grupos com 30 pacientes cada, com distribuição de tipo de câncer, idade, gênero e indicativos socioeconômicos igual para ambos. O grupo experimental recebe o cuidado usual junto com a nova abordagem, durante 6 semanas. Já o grupo controle recebe apenas o cuidado usual oferecido pelo hospital. Os pacientes analisados estão em fase inicial da doença e devem ter câncer de tipo mama, próstata e cólo-retal devido à periodicidade e duração do tratamento.

Os dois grupos são avaliados antes do início do estudo, ao final de 6 semanas e 3 meses após. Os instrumentos de avaliação dos pacientes incluem questionário com dados sóciodemográficos, escala numérica de dor, pictograma de fadiga, questões sobre qualidade de sono, escala de qualidade de vida e escala de ansiedade e depressão. Os dados serão comparados e espera-se que o grupo experimental apresente menos sintomas e melhor qualidade de vida do que o grupo controle.

Resultados promissores

Até agora a pesquisa apenas passou por sua fase inicial e os resultados são promissores. Foi realizado estudo piloto com a metade do número de pacientes do estudo final e nas mesmas condições. Segundo os primeiros dados preliminares, no grupo controle, a dor e os sintomas de depressão aumentaram, e o contrário aconteceu no grupo experimental. Quanto à funcionalidade física (capacidade de realizar atividades), houve melhora no primeiro e piora no segundo. Embora seja muito cedo para avaliar os efeitos da intervenção, os resultados sugerem que essa nova proposta pode contribuir para melhorar a qualidade de vida de pacientes com câncer.

“Apesar do tratamento do câncer ter avançado muito nos últimos anos, o controle dos sintomas continua ainda muito incipiente. E a maior parte dos estudos relacionados estão focados no controle de sintomas de fases mais avançadas da doença e sempre com terapia farmacológica. Isso ajuda muito e é necessário, mas não é suficiente” diz a professora Marina Salvetti. Assim, a pesquisa da EE vem para inovar o tratamento da doença e pode significar melhora na qualidade de vida de muitas pessoas.

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