ISSN 2359-5191

15/04/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 40 - Saúde - Instituto de Ciências Biomédicas
Pesquisadores desenvolvem vacina terapêutica experimental contra a PCM
Negligenciada pelo poder público, doença ataca população rural brasileira
Fungo causador da Paracoccidioidomicose (Foto: Carla Monteiro)

Você provavelmente nunca ouviu falar da paracoccidioidomicose. Conhecida no campo como “doença do capim a PCM é causada por um fungo e atinge, sobretudo, a população mais humilde da zona rural. O professor Carlos Taborda, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB-USP), e sua equipe desenvolveram um modelo experimental de vacina terapêutica para o tratamento da paracoccidioidomicose.

Trata-se de uma micose sistêmica, ou seja, o indivíduo é contaminado através da inalação do fungo. Este, por sua vez, aloja-se no pulmão provocando um foco primário. A partir daí a doença possui três vias de evolução. Na primeira, o fungo pode ser eliminado pelo próprio sistema de defesa, o que acontece quando o indivíduo evolui para uma cura espontânea. Em outra opção, o fungo pode ficar adormecido por anos ou décadas. Por último, o fungo pode espalhar-se rapidamente para o corpo todo, até se tornar aparente através de lesões muco-cutâneas, gânglios, entre outros.

A doença, primariamente pulmonar, é muito grave quando desenvolvida de forma aguda. Se não tratada, pode levar o indivíduo a óbito rapidamente. Esta é uma séria questão de saúde pública, pois as doenças fúngicas não são de notificação compulsória no Brasil, isso significa que os médicos não são obrigados a notificar aos órgãos de saúde oficiais a ocorrência da doença. No caso da paracoccidioidomicose, temos uma situação um pouco mais delicada porque esta doença tem pouca visibilidade já que ela afeta principalmente os trabalhadores rurais. “É muito comum, em uma classe com alunos da área da saúde, nenhum dos estudantes conhecer a paracoccidioidomicose. Se alguém conhece é porque já teve algum familiar com a doença”, comenta o professor Carlos Taborda.

Tratamento e vacina

Hoje, um paciente que apresenta a PCM é submetido a um tratamento medicamentoso que dura, no mínimo, dois anos. No entanto, em muitos casos esse tratamento é interrompido por parte do próprio doente, devido principalmente aos efeitos colaterais dos remédios que causam desconfortos (náuseas e enjoos). Além disso, nos primeiros meses de um tratamento eficaz, os sintomas das doenças são aliviados as lesões visíveis podem desaparecer, o que leva o paciente a interromper o tratamento e para de tomar a medicação. Quando essas interrupções acontecem, ocorre o que os médicos chamam de recidiva, ou seja, a doença volta a atacar o indivíduo de maneira mais agressiva.

A partir desse cenário, os pesquisadores do ICB passaram a buscar alternativas para o tratamento da doença. No caso das micoses sistêmicas, adquiridas pela inalação, foi descartada uma vacina profilática. A vacina profilática é aquela vacina tradicional aplicada na população para proteger o contato prévio, como no caso da gripe, varíola, sarampo, entre outras doenças. É difícil se pensar em fazer isso com micoses, pois os fungos estão no ambiente, na natureza. Não se sabe quando as pessoas se infectam, tampouco qual é, exatamente, o ciclo de vida dos fungos na natureza. “Se fôssemos pensar em uma vacina profilática, teríamos que imunizar quem? A população toda? Seria inviável”, contextualiza o pesquisador.

Então, a equipe do professor Taborda mudou o foco e passou a desenvolver uma vacina terapêutica, que funciona como complemento ao tratamento medicamentoso. Ou seja, os infectados pela doença continuam tomando os remédios, mas receberiam, como complemento, doses da vacina.

Nos modelos experimentais utilizando camundongos, foi observado que animais infectados tratados apenas com medicamentos, sem a vacina, quando suspensa a medicação, a doença foi reativada. Enquanto aqueles que receberam, simultaneamente os medicamentos e a vacina, conseguiram controlar a doença após a medicação ser interrompida. “Essa vacina poderia impedir a recidiva. Estamos avaliando também a diminuição do tempo de tratamento ou redução da dose de antifúngicos”, acrescenta.

Os testes e pesquisas da vacina terapêutica foram todos realizados em modelos experimentais utilizando várias linhagens de camundongos diferentes, o que simula a heterogeneidade e diversidade entre os humanos. Além disso, entre os modelos de vacina testados pelo pesquisador, a de imunização intranasal apresentou ótimos resultados. Ou seja, não é necessária a injeção. Um alivio para aqueles que tem medo de agulha. Porém, o grupo possui cinco patentes da vacina com diferentes formulações e vias de imunização.

Apesar de crescente e dos ótimos resultados coletados nas pesquisas experimentais, o processo para a fabricação de uma vacina eficaz para humanos é longo e está longe da realidade. As etapas de testes clínicos em pessoas são extremamente caras. E, como a paracoccidioidomicose é negligenciada pelo poder público e desconhecida pela população, não existe fontes de investimento financeiro para dar início às etapas clínicas. “Não conseguimos ainda realizar as etapas clínicas devido à questão financeira. Como é uma doença que afeta pessoas humildes do campo e possui baixa visibilidade, essas pesquisas não oferecem retorno financeiro”, lamenta o professor.

Leia também...
Nesta Edição
Destaques

Educação básica é alvo de livros organizados por pesquisadores uspianos

Pesquisa testa software que melhora habilidades fundamentais para o bom desempenho escolar

Pesquisa avalia influência de supermercados na compra de alimentos ultraprocessados

Edições Anteriores
Agência Universitária de Notícias

ISSN 2359-5191

Universidade de São Paulo
Vice-Reitor: Vahan Agopyan
Escola de Comunicações e Artes
Departamento de Jornalismo e Editoração
Chefe Suplente: Ciro Marcondes Filho
Professores Responsáveis
Repórteres
Alunos do curso de Jornalismo da ECA/USP
Editora de Conteúdo
Web Designer
Contato: aun@usp.br