ISSN 2359-5191

18/04/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 41 - Arte e Cultura - Museu Paulista
Dicionário de moda remonta a sociedade paulistana do século 19
Ilustração impressa no Jornal da Senhora, publicação semanal que circulou entre 1852 e 1855

A moda fala muito sobre épocas, povos e comportamentos. Porém, apesar de sua importância para o entendimento da história, o estudo do vestuário ainda é deficiente no Brasil. Pensando nisso, Alice Aparecida Labarca Puelles resolveu se aprofundar na moda da São Paulo do século 19. Tendo como base textos de jornais e fotografias, o objetivo principal da pesquisa foi a criação de um dicionário temático que tem como finalidade ajudar museólogos da área.

A estudiosa abre o jogo: “Eu sei que algumas pessoas tendem a achar que moda é fútil. Mas a moda não é só o vestir. Ela é toda a aparência que você cria, é a imagem que quer passar”. No caso da São Paulo do século 19, tratava-se de uma representação bem diferente da notada no Rio de Janeiro, capital do Império. Enquanto o visual carioca era mais elaborado e tomado por acessórios, a aparência paulistana era mais básica. “As mulheres de São Paulo eram bem recatadas. Elas usavam mantilhas, um tipo de tecido que cobria o corpo inteiro”, conta Alice Puelles.

No caso dos homens, a vestimenta era notoriamente padronizada. Devido à consolidação da Faculdade de Direito na capital paulista, as informações relacionadas à moda eram abundantes. “Todos os alunos iam da mesma forma: calças brancas, colete, sobrecasaca azul-marinha”. As barbas possuíam termos característicos, e suas tendências vinham de políticos e reis da época.

Alice ressalta: “Quando eu falo de moda no século 19, estou me referindo a uma elite. Dificilmente você vai ver o que escravos e pessoas mais pobres usavam. O que sobra nos museus é o que a elite guardou”. A indumentária possuía valores consideráveis, e era comumente acrescentada em testamentos. Em uma das descrições estudadas, um sujeito havia deixado fitas, botões, agulhas e linhas (aviamentos) como herança. Fazendo os cálculos aproximados do valor de uma caixa com aviamentos, seria o equivalente a dois meses de moradia de um estudante na São Paulo daquele tempo.

A pesquisa teve como resultado a criação de um dicionário com termos da época, que tem o intuito de auxiliar funcionários de museus que precisem se relacionar com acervos de moda. Para sua realização, Alice utilizou-se de reclames retirados do jornal Correio Paulistano. “Conforme via os anúncios, ia tirando o que interessava, o que era relacionado ao que eles vendiam. Até peguei a parte de higiene e perfumaria”. Segundo a estudiosa, por se tratar da criação de aparências, a moda também deve incluir o cheiro que uma pessoa deseja que as outras sintam. A pesquisadora também relatou que em muitos jornais a moda feminina era zombada por homens. “Em algumas críticas, falava-se que a mulher estava matando a elegância enquanto usava determinada roupa. Achei parecido com o que é escrito na Internet dos tempos atuais. Passaram-se 150 anos e o discurso continua o mesmo”.

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