ISSN 2359-5191

19/04/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 42 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas
Crise não deve afetar projeto LLAMA, iniciativa latino-americana de astronomia
Mesmo com crise econômica que atinge os dois países, projeto argentino-brasileiro de astronomia deve ser instalado até o final de 2016
O LLAMA trabalhará em conjunto com a rede de telescópios ALMA, o maior projeto de astronomia da atualidade. / Fonte: ESO/B. Tafreshi

O Projeto LLAMA (Large Latin American Millimiter Array) é um empreendimento realizado entre Brasil e Argentina que tem por objetivo instalar um radiotelescópio nos Andes Argentinos, a 4.800 metros de altitude. Como parte do acordo, o Brasil ficou responsável pelos custos de construção da antena do radiotelescópio e a Argentina foi encarregada de realizar as obras de infraestrutura, incluindo os prédios do centro de controle e a estrada para acesso ao sítio no qual o LLAMA será instalado. Com a crise política e econômica que atingiu ambos os países, temia-se que o projeto fosse adiado. Entretanto, salvo as obras para construção da estrada de acesso ao LLAMA – que ainda não foram iniciadas – o projeto deve seguir sem maiores atrasos.

Um dos coordenadores da parte brasileira do projeto, Jacques Lépine, explica que, mesmo com a crise econômica, a previsão é de que a antena do LLAMA seja instalada até o final deste ano: “A FAPESP pagou regularmente as prestações, então, hoje em dia, a antena está praticamente pronta, e vai acontecer uma sessão de teste nesse semestre. Mas do lado argentino, a construção da estrada até o pico onde vai ser instalado o LLAMA ainda não começou. O final do governo da Cristina Kirchner foi um pouco tumultuado, e depois entrou um novo governo, um novo ministro. O ministro de ciência e tecnologia do governo Kirchner foi mantido pelo Macri, o que é bom porque ele [o ministro] apoia o projeto, mas ele ainda precisa obter fundos com o governo, que tem reduzido as despesas ultimamente.” O receio era de que, com a política econômica do novo presidente argentino, os cortes orçamentários prejudicassem o andamento do projeto no país vizinho. “Mas a gente tem a confiança de que será resolvido rapidamente”, completou Lépine.

A antena do radiotelescópio LLAMA, de 12 metros de diâmetro, foi projetada para estudar ondas de rádio a frequências altas com maior nitidez do que os demais radiotelescópios: “A diferença do LLAMA com relação a outros radiotelescópios é a precisão de superfície da antena, que é realmente muito boa. Isso permite que estudemos ondas de rádio de frequência muito alta”, explica Jacques Lépine. Assim, o projeto estudará frequências de rádio praticamente inexploradas até então.  As ondas de rádio são um tipo de radiação eletromagnética (ondas que se propagam no vácuo) emitidas por corpos celestes. Muitas dessas ondas de rádio de alta frequência, porém, são absorvidas pela atmosfera e não conseguem atingir o nível do solo – por isso é importante que um radiotelescópio seja instalado em um lugar de grande altitude, e o radiotelescópio LLAMA é um dos mais altos que existem atualmente. No entanto, para obter o máximo de informação possível a respeito de um corpo celeste, o ideal é combinar as informações obtidas em ondas de rádio com as obtidas nos demais comprimentos de ondas (como a luz infravermelha, os raios-x, os raios gama, os ultravioletas, entre outras).

O radiotelescópio LLAMA terá semelhanças com o telescópio APEX, instalado no Chile. / Foto: ESO (European Southern Observatory)

O LLAMA começou a ser planejado em 2011, mas sua execução de fato somente foi iniciada em 2014, após ser firmado um contrato com a empresa alemã Vertex – cujos custos estavam dentro do orçamento estimado. A empresa já havia participado de um projeto similar, o ALMA (Atacama Large Millimiter Array). Trata-se de um conjunto de 60 radiotelescópios instalados no Chile, sendo o maior projeto da astronomia mundial dos últimos anos.

O LLAMA também foi projetado para trabalhar em conjunto com os telescópios do ALMA, no Chile (já que ambos os projetos operam na mesma frequência de rádio). Esse processo é conhecido como interferometria, que significa combinar telescópios distantes entre si para obter uma imagem de um objeto com maior resolução. “A intenção é usar o nosso radiotelescópio em conjunto com outros, numa rede chamada VLBI (Very Long Base Interferometry). Você observa o mesmo objeto em um telescópio aqui, e também com outro que está a 10 mil quilômetros de distância do primeiro. E em cada um dos radiotelescópios, você grava um sinal ao mesmo tempo, e depois leva esses sinais obtidos para um centro de computação, onde os dados dos dois são sincronizados. O resultado disso tudo é que você consegue criar uma imagem do objeto com uma resolução angular muito melhor do que a de cada radiotelescópio sozinho. É como se os dois juntos formassem um único radiotelescópio de 10 mil quilômetros de diâmetro, em termos de resolução angular.”

A resolução angular tem relação com a capacidade de um telescópio de conseguir ver objetos muito pequenos – o que em astronomia significa ser capaz de observar objetos muito distantes. Por isso, quanto mais telescópios distantes uns dos outros, maior é a qualidade da imagem que se pode obter de um objeto. Quando combinados, ALMA e LLAMA formarão, então, a primeira rede de interferometria de longa base (VLBI) da América Latina.

O projeto LLAMA é financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), pela Universidade de São Paulo (USP) e pelo Ministerio de Ciencia, Tecnologia e Innovatión Produtiva (MINCyT). A FAPESP e o MINCyT, da Argentina, dividirão igualmente os custos do projeto, cujo orçamento atual é de US$ 17.221.992,00. A antena do LLAMA deverá entrar em fase de testes em maio, e prevê-se que seja instalada nos Andes Argentinos até novembro de 2016.

Para saber mais, leia:

http://www.usp.br/aun/exibir?id=6087

http://www.usp.br/aun/exibir?id=5366

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