ISSN 2359-5191

26/04/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 45 - Sociedade - Escola de Educação Física e Esporte
Pesquisa revela que segurança nos estádios atrai torcedores
Realizado na EEFE-USP, estudo procurou entender como entretenimento e segurança das novas arenas influenciam no número de consumidores

A Copa do Mundo de 2014 exigiu um rígido padrão para 12 estádios do Brasil, o tão comentado “padrão FIFA”. Com ele, melhoraram-se as instalações não só para os atletas, mas para a imprensa, para as comissões técnicas e principalmente para os torcedores. Para entender como essa melhoria afetou seus frequentadores, o professor da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (EEFE/USP), Ary Rocco, entrevistou e analisou 11 mil torcedores antes, durante e depois do evento esportivo em todas as cidades-sede. Por meio de uma ampla coleta de dados, concluiu que não só o tamanho do evento atraía o público, mas também a segurança nos estádios e o entretenimento oferecido pela organização.

Antes da Copa do Mundo acontecer, a Fédération Internationale de Football Association (FIFA) fez uma série de exigências para todas as arenas que fossem receber jogos. No que diz respeito ao torcedor, a lista continha 32 itens, desde o número de sanitários e de telefones públicos, até especificações acústicas e dos telões. Com esses dados em mente, o professor e o grupo responsável pela pesquisa elaboraram questionários para os torcedores, os quais foram aplicados em três momentos distintos.

A primeira etapa aconteceu no primeiro semestre de 2014, antes da Copa e em estádios que não iam receber nenhum jogo. Já a segunda ocorreu durante o evento; o grupo entrevistou pessoas que foram a algum dos estádios oficiais. E a terceira fase ocorreu no segundo semestre de 2014, nos estádios da Copa, mas após os jogos dos campeonatos brasileiros (Copa do Brasil e Brasileirão). Após essa ampla coleta de dados, além da pesquisa, o grupo também pretende produzir um livro no qual analisam cada uma das 12 cidades-sede individualmente.

Ary conta que após a aplicação dos questionários eles foram capazes de chegar à diversas conclusões interessantes. Dentre elas, ele destacou que os torcedores que assistiram jogos da Copa do Mundo não só adoraram as novas arenas, como retornariam para outros eventos. Um dos principais motivos para isso foi a segurança: durante a competição mundial, os frequentadores dos estádios se sentiam seguros, algo que não é sempre verdade quando se fala de competições nacionais. Além disso, os consumidores foram melhor atendidos, com alimentação boa, estacionamento, assentos e sanitários adequados.

 

 

Esporte e entretenimento caminham juntos

Outra conclusão e um dos principais pontos discutidos na pesquisa foi a questão do evento esportivo como entretenimento. Ary relata que entre 25% e 30% das pessoas que estavam nos estádios durante a Copa nem ao menos sabiam os times que estavam jogando, ou seja, para elas interessava muito mais o evento em si do que a competição esportiva. Quando questionadas sobre o que as levaria de volta ao estádio, além do fator da segurança e do melhor atendimento, muitas falaram sobre exatamente esse ponto. “As pessoas estão mais à procura de um espetáculo de entretenimento do que de um evento esportivo e nesse aspecto adoraram as novas instalações”, relata o professor.

No cenário logo após a Copa, percebeu-se que os campeonatos nacionais tiveram um aumento de público. Ary explica que isso se deveu exatamente a esse entusiasmo das pessoas com as arenas, ou seja, aquele público que ia pelo entretenimento continuou a frequentar os estádios após o fim do campeonato mundial. Porém, os gerenciadores do futebol nacional não souberam aproveitar esse aumento de público e do segundo semestre de 2014 para cá o número de ingressos vendidos vem caindo.

O torcedor está mais exigente, não aceita pagar caro apenas pelo futebol, “para ter ingresso mais caro, tem que ter uma qualidade maior, só o conforto não vai segurar esse público exigente”, destaca Ary. A Copa do Mundo trouxe para os estádios um público diferente que, segundo o professor, é um público mais elitizado, com alto poder aquisitivo e interessado em eventos que tragam entretenimento além do esporte. Porém, nada tem sido feito para segurar esse público e fazer com que eles continuem a frequentar as arenas, assim, muitos dos estádios construídos para a Copa do Mundo dão mais prejuízo do que lucro.

“Estamos perdendo a oportunidade de utilizar algo que a Copa do Mundo deixou para a gente, que são 12 estádios modernos”. Nesse sentido, o professor dá um exemplo de utilização inteligente para esses estádios ociosos. Em 2015, o evento de maior público pagante na Arena Pantanal foi um jogo de futebol americano jogado por dois times brasileiros, o qual levou 15 mil pessoas para o estádio. Nesse mesmo ano, o jogo de futebol que trouxe maior público pagante para lá foi entre Flamengo e Vasco pelo Campeonato Brasileiro: 14 mil pessoas. Ary Rocco explica que no evento de futebol americano foram dispostos ao redor do estádio diversos food trucks e no intervalo diversos artistas locais se apresentaram. Ou seja, criou-se uma atmosfera de entretenimento para o evento esportivo, pela qual as pessoas estavam dispostas a pagar.

O grande exemplo de que as pessoas estão dispostas a pagar por isso, para Ary, está nas Olimpíadas: “a maior prova de que as pessoas estão dispostas a pagar pelo entretenimento é a cerimônia de abertura das Olimpíadas, que são os ingressos mais caros e não há competição esportiva”. Para o professor, é necessário não só criar um ambiente descontraído e de entretenimento, mas também agregar valor ao espetáculo esportivo.


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