ISSN 2359-5191

03/05/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 50 - Saúde - Instituto de Ciências Biomédicas
Pesquisa mostra as influências do tabagismo em fumantes passivos
Desenvolvidos em modelo experimental, estudos apontam alterações nos índices de glicemia, ácido úrico e triglicérides dos indivíduos expostos à fumaça do cigarro
Reprodução

No mundo, segundo dados de 2014 da Organização Mundial da Saúde, são contabilizadas cerca de 5 milhões de mortes causadas pelo tabagismo anualmente. Nesses dados são considerados apenas os fumantes crônicos, ou seja, aqueles que praticam o ato de fumar, excluindo os fumantes passivos. No entanto, os fumantes passivos têm sua saúde afetada tanto quanto os que fumam. É o que vêm mostrando os estudos do professor Cesar Alexandre Fabrega Carvalho, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB-USP). Em modelo experimental, o professor e sua equipe observaram alterações nos índices de glicemia, triglicérides e ácido úrico de indivíduos expostos passivamente à fumaça do cigarro.

Os pesquisadores simularam um ambiente poluído pela fumaça do cigarro e colocaram, experimentalmente, roedores inseridos nesse meio. Durante 3 meses, machos e fêmeas - que depois se tornariam os progenitores - foram expostos diariamente à fumaça de cerca de 20 cigarros. Passado esse trimestre, foram formados casais de camundongos e feito o cruzamento entre eles, para que os pesquisadores pudessem avaliar a prole desses animais.

Com o nascimento dos filhotinhos, foi dado continuidade ao experimento. Além de prosseguir com as exposições diárias à fumaça, os pequenos roedores eram avaliados periodicamente em exames e pesagens. A primeira avaliação foi feita 21 dias após o nascimento; depois 42 dias; a terceira com 63 dias e por último 128 dias após o nascimento. “Avaliamos nesse intervalo de tempo pois existe uma equivalência cronológica entre os roedores e os humanos. Então, é como se estivéssemos avaliando uma criança por volta de 2 anos de idade, depois um adolescente de 14 anos, depois um adulto-jovem de 20 e por fim um adulto de 40 anos, que é, mais ou menos, o que corresponde esses tempos de 21, 42, 63 e 128 dias nos roedores”, esclarece o professor Cesar.

As alterações

A equipe de pesquisadores concentrou-se em três importantes índices: glicemia, triglicerídeos e ácido úrico dos indivíduos fumantes. Dos itens analisados, todos mostraram-se alterados quando comparados aos índices dos indivíduos não fumantes.

O ácido úrico foi encontrado em índice aumentado, o que significa que diante de um agente externo agressor o organismo está tentando se recuperar. No caso do tabagismo, uma vez que a fumaça do cigarro cai na corrente sanguínea, ela provoca alterações no endotélio vascular. O endotélio é uma camada de células que reveste o interior do vaso sanguíneo fundamental para o bom funcionamento da circulação do sangue. Os elementos químicos da fumaça do cigarro agridem essa parede do vaso e, consequentemente, o organismo tenta se recuperar disso. O produto degradado na tentativa de recuperação é, de um modo geral, o ácido úrico medido no sangue.

Os índices de triglicérides foram baixos em relação ao normal. Os triglicerídeos, que são as principais gorduras do nosso organismo adquiridos principalmente pela alimentação, servem como reserva energética. Quando os animais apresentam os triglicerídeos baixos significa que ele tem uma baixa reserva de energia, pois não se alimentou como deveria. “Os roedores expostos à fumaça comem muito menos, quando comparados aos indivíduos normais”, comenta.

Por fim, as alterações que mais instigaram os pesquisadores foram os altos índices glicêmicos. Como é possível, um indivíduo que ingere menos alimento ter seu índice de açúcar no sangue aumentado? Apesar da contradição, a hiperglicemia parece ser comum nos fumantes. Os estudos apontam que a nicotina influencia no metabolismo do corpo aumentando a concentração de noradrenalina e dopamina, dois neurotransmissores. Essas duas substâncias químicas, produzidas pelos neurônios e utilizadas para transferência de informação entre eles, por ação competitiva diminuíram a ação da insulina nos tecidos explicando a hiperglicemia. “Então, olha que interessante, esses neurotransmissores competem e diminuem a ação da insulina, o hormônio responsável por carregar a glicose do sangue aos tecidos, o que aumenta os índices glicêmicos”, explica.

O professor Cesar ainda nos contou uma curiosidade sobre o experimento. Apesar das pesquisas não terem como foco o panorama comportamental dos animais, o pesquisador observou que os roedores progenitores que foram expostos à fumaça do cigarro, à medida que se ligava o equipamento para soltar a fumaça pela tubulação, eles se afastavam do bico que levavam a fumaça até interior da caixa e protegiam o nariz da fumaça. Os filhotes, quando o aparelho era ligado, faziam o contrário: eles iam em direção ao bico da fumaça. “Não fazemos estudos comportamentais, mas os pais que não foram gerados mediante a fumaça tinham aquilo como algo agressivo, mas os filhotes que foram gerados em meio à fumaça tinham aquilo como natural”, acrescenta.

 

 

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