ISSN 2359-5191

13/05/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 57 - Economia e Política - Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade
Pirataria de músicas reduz em até 8,7% preço de ingressos para shows
Durante o período analisado, apenas superstars eleveram valor
A queda nos preços indica uma democratização do mercado de shows. Foto: Bruno Mello

Estima-se que a pirataria de músicas na internet tenha reduzido em até 8,7% os preços de ingressos de shows, segundo pesquisa da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP. Os dados são da cidade de São Paulo, no período compreendido entre 1997 e 2005.

O estudo revela que o fenômeno foi acompanhado de uma elevação de pelo menos 27% na quantidade de apresentações semanais, além de diversificar apresentações e aumentar o número de casas de shows.

Para o responsável pela pesquisa, Leonardo Viotti, os resultados apontam para um processo de pulverização do mercado, em que artistas menos famosos fazem shows menores e mais baratos. Segundo ele, a pirataria favoreceu, mesmo que de forma involuntária, a divulgação de pequenos artistas. “Dificilmente vamos a um show de um cantor que não conhecemos”, diz. “Portanto, a divulgação tem um papel fundamental nesse mercado. A música foi jogada na internet de graça e as pessoas passaram a consumí-la".

Viotti considera que o processo pode ser considerado uma democratização do mercado musical. Apesar do efeito não ser imediato, consumidores foram beneficiados devido ao menor preço e à maior variedade de produtos culturais. “Baixar músicas na internet aumentou o número de pessoas se apresentando por um preço mais barato”.

A pirataria, no entanto, não atingiu da mesma forma artistas muito famosos. Segundo a pesquisa, ingressos para shows de artistas considerados superstars encareceram de 11% a 22%, sem alterar a quantidade de apresentações semanais. As causas ainda são hipotéticas. O pesquisador sugere que o fenômeno teria sido causado pela queda na venda de CDs e pelo baixo impacto da internet no aumento do número de fãs, que já era grande na época.

Não é possível confirmar se os efeitos da pirataria encontrados entre 1997 e 2005 perduram até hoje. Isso porque, atualmente, a pirataria na internet divide espaço com o streaming, serviço utilizado para a transmissão de músicas e vídeos sem download. ”Se houver uma demanda enorme por shows, por exemplo, não conseguimos mais ter certeza se o que está causando isso é a pirataria, o streaming, ou se não é nenhuma das duas opções”, diz Viotti. Entretanto, o pesquisador acredita “seu efeito muito provavelmente tem uma continuidade no tempo” e, por isso, a pirataria de músicas ainda tem influência sobre a redução no preço de ingressos.

Spotify, o maior serviço de streaming de música, tem cerca de 30 milhões de usuários. / Foto: Reprodução/Spotify

Atualmente, oito em cada dez brasileiros baixam músicas ou vídeos na internet, segundo levantamento realizado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) em 2013. As causas citadas não são conclusivas, mas apontam para a falta de legislação sobre o assunto e de modelos de negócios interessantes para o consumidor.

Os superstars

Para classificar um artista como superstar, a pesquisa considerou pessoas premiadas ou homenageadas nos prêmios Video Music Brasil (VMB) e Multishow de Música Brasileira (MMB) entre 1995 e 2005. Outro critério foi identificar artistas que se apresentaram em um estabelecimento com capacidade para mais de 3.000 pessoas pelo menos uma vez na carreira.

Caetano Veloso é um dos artistas listados como vencedores do prêmio MMB. No período analisado pelo estudo, Caetano ganhou o troféu de melhor cantor três vezes (1999, 2001 e 2004). Marisa Monte, Sandy e Ivete Sangalo foram outras artistas premiadas.

Caetano Veloso foi considerado superstar por ter ganhado o prêmio Multishow de Música Brasileira. / Foto: Divulgação

De São Paulo para o Brasil

Apesar das análises do estudo terem se restringido à cidade São Paulo, o pesquisador ressalta que seu tamanho e importância cultural podem refletir o cenário no restante do Brasil. “São Paulo é o maior pólo cultural do país. Os resultados que encontramos aqui provavelmente indicam um fenômeno mais genérico, que pode estar acontecendo no país como um todo”, explica Viotti.
Contudo, o pesquisador afirma que as particularidades não são generalizáveis. “A extrapolação não é imediata: não dá pra ser objetivo e dizer que o que está acontecendo na cidade, está acontecendo no Brasil. Mas já é uma boa referência”.

Métodos utilizados

Os resultados foram obtidos com base nas edições do Guia da Folha, publicadas entre 1997 e 2005. Foram extraídos dados sobre o tipo de espetáculo, a semana em que ocorreu, preços, local e capacidade do ambiente. O Guia, do jornal Folha de São Paulo, é considerado até hoje uma das principais referências disponíveis sobre a vida cultural paulistana e está atualmente disponibilizado na internet para consulta, com edições desde fevereiro de 1997.

Histórico da pirataria

O Napster, primeiro protocolo de compartilhamento de arquivos entre usuários anônimos, surgiu nos Estados Unidos em 1999 e popularizou-se ao redor do mundo como surgimento da pirataria digital. Devido a problemas legais, a ferramenta encerrou suas atividades em 2001 e deu espaço ao surgimento de outros mecanismos de pirataria, principalmente no Brasil.

O acontecimento fez com que o começo dos anos 2000 fosse marcado pela popularização de sites como Shareaza, eMule e BitTorrent. As novas formas de compartilhamento ilegal de músicas coincidiram com o aumento do número de usuários de internet no país, que teve uma variação percentual de 200% entre 2001 e 2002.

As vendas de CDs sofreram uma queda acentuada no período. Com mais de 90 milhões de cópias vendidas em 2000, a comercialização de discos passou a vender pouco mais de 70 milhões em 2001. O fenômeno leva a crer na mudança de hábito de consumo dos brasileiros, que substituíram os CDs originais pela pirataria.

A análise da pesquisa desenvolvida na FEA-USP vai até 2005, ano do surgimento do YouTube. Até então, serviços de streaming eram pouco difundidos no Brasil e não influenciavam de maneira significativa a baixa no preço de ingressos para shows.

Para mais informações, leia também: Baixar músicas influencia queda no consumo de CDs e aumento na procura por shows (AUN-USP) 

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