ISSN 2359-5191

25/05/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 64 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Biociências
Fósseis brasileiros podem ser os mais antigos já encontrados
Material identificado registra, possivelmente, seres eucariontes mais antigos já estudados
Processo de petrografia, utilizado para encontrar elementos datáveis ao redor do fóssil. Foto: Luana Moraes / acervo pessoal

Uma pesquisa colaborativa desenvolvida pelos Institutos de Geociências (IGC) e Biociências (IB), ambos da USP, encontrou, no município de Corumbá (Mato Grosso do Sul), fósseis de amebas extremamente antigos. Se as evidências apontadas pelos pesquisadores brasileiros estiverem certas, as amebas fossilizadas encontradas no centro-oeste do Brasil podem ter mais de 800 milhões de anos de idade. Os fósseis de eucariontes comprovadamente mais antigos conhecidos atualmente datam de 760 milhões de anos e foram descobertos no Arizona, Estados Unidos, no grupo sedimentar Chuar. A pesquisa brasileira está sendo conduzida pela doutoranda Luana Morais, sob orientação dos professores Thomas Fairchild (IGC-USP) e Daniel Lahr (IB-USP).

Os espécimes foram encontrados em rochas do grupo Jacadigo, mais especificamente na Formação Urucum, cuja idade dos sedimentos varia de 618 a 830 milhões de anos de idade. A incerteza quanto à idade exata da formação não permite aos pesquisadores afirmarem categoricamente que são estes os mais antigos fósseis de seres eucariontes já estudados. Luana Morais afirma, entretanto, que as amebas foram encontradas em clastos, ou “pedaços de rocha, provenientes de outros lugares, que são depositados na camada sedimentar”. Segundo ela, isto significa que os clastos que contém os fósseis foram formados antes do grupo Jacadigo, ou seja, as amebas também são anteriores à formação da rocha principal. Em outras palavras, existe uma grande chance de que estes fósseis tenham mais de 760 milhões de anos e sejam, portanto, mais antigos do que os encontrados no grupo Chuar.

As espécies encontradas nos Estados Unidos foram também encontradas, com idade correspondente, em formações rochosas de outros países. No grupo Jacadigo, entretanto, foram identificadas ao menos três espécies inéditas, que receberam novos nomes. Para Luana, isto é mais um indício de que as amebas de Corumbá podem ser mais antigas que as do Arizona. Apesar destes indicativos, a pesquisa esbarra em um fator primordial para a comprovação da tese: ainda não foram encontrados elementos datáveis nas amostras sedimentares recolhidas. Os elementos que permitem datação normalmente são minerais capazes de “registrar” a passagem do tempo, como o zircão. Para identificar este tipo de composto, utiliza-se uma técnica chamada petrografia, na qual pedaços da rocha são dispostos em lâminas e observados em microscopia. A despeito das dificuldades para datar as amostras, a pesquisadora garante que é absolutamente razoável acreditar que os fósseis do grupo Jacadigo são os mais antigos já descobertos “porque os clastos são definitivamente mais antigos que a formação sedimentar”.

Além das datas

Luana deixa claro que o objetivo principal da pesquisa, no entanto, não é simplesmente romper com o paradigma da idade dos seres fossilizados. Para ela, é mais relevante comprovar que estes fósseis podem ser utilizados como ferramentas bioestratigráficas, ou seja, ferramentas que possibilitem confirmar que seres de uma mesma espécie foram depositados ao mesmo tempo em lugares diversos. A pesquisadora defende que esse tipo de conhecimento é muito importante para a paleontologia e para a geologia. Ela comenta ainda que, para além do uso estritamente científico, a bioestratigrafia é extremamente relevante para a indústria do petróleo, uma vez que a identificação de seres característicos de regiões petrolíferas é um fator decisório para a autorização das caras perfurações.

Pesquisadores se aproximando do afloramento onde os fósseis foram encontrados. Foto: Luana Moraes / acervo pessoal

Os caminhos do projeto

Os resultados parciais da pesquisa foram divulgados em congressos na Inglaterra, Espanha e Argentina, com positivo acolhimento da comunidade internacional. A pesquisadora Luana Morais foi aceita, inclusive, para dar prosseguimento à sua pesquisa nos Estados Unidos, em parceria com a professora Susannah Porter, responsável pelos mais recentes estudos sobre os fósseis do grupo Chuar. Mesmo com as barreiras impostas pelo acaso e pelas intempéries da geologia, Luana se mostra confiante no futuro do projeto: “Precisamos atravessar diversas barreiras para afirmar que estes fósseis são de fato os mais antigos, mas as pesquisas caminham para que possamos afirmar que realmente o são.”


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