ISSN 2359-5191

03/06/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 69 - Saúde - Departamento de Fonoaudiologia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional
Tratamento pode solucionar dificuldade de prematuros em se alimentar
Com devida orientação, habilidades motoras orais são desenvolvidas como as de crianças nascidas a termo
Ilustração por Natalie Majolo

Nos últimos anos, o número de nascimentos de crianças prematuras tem aumentado no Brasil. A maioria delas possui dificuldades relacionadas à sucção, deglutição [ato de engolir] e respiração durante o período de hospitalização, em decorrência das complicações clínicas que apresentam ao nascimento. Em recente estudo, Carla Pagliaro pesquisou a evolução das habilidades de alimentação em crianças prematuras durante seu primeiro ano de vida. A pesquisadora concluiu que, se respeitado o desenvolvimento neuropsicomotor, o bebê  prematuro (sem complicações neurológicas e sindrômicas) tem o desenvolvimento das habilidades motoras orais de alimentação semelhante ao de uma criança nascida a termo.

O período de gestação “a termo” é uma designação utilizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para se referir a gestações entre 37 e 41 semanas. Quando inferior a 37 semanas, são considerados recém-nascidos prematuros; inferior a 33 semanas, prematuros extremos. No Brasil, apesar da diminuição do índice de mortalidade infantil, houve um aumento no de crianças nascidas prematuras. O aumento significativo da taxa de sobrevida pode levar um maior número de crianças a apresentarem desordens pulmonares, gastrointestinais e neurológicas, principalmente aquelas nascidas com a idade gestacional inferior a 33 semanas.

Desde seu nascimento, o prematuro deve ter atenção especial de toda a equipe. Carla afirma que o acompanhamento de todas as fases de transição alimentar, com avaliações objetivas e diretas da alimentação realizadas por um fonoaudiólogo especializado, é estritamente recomendável. A orientação devida aos cuidadores da criança também é importante. “Os pais, por não terem o conhecimento e as estratégias necessárias para auxiliar as crianças a adquirirem melhor envolvimento e habilidades na alimentação, podem fazer com que elas não desenvolvam o aprendizado da alimentação de forma adequada”, diz Carla. Isso torna as crianças mais propensas a apresentarem dificuldades relacionadas à alimentação. A transição da mamadeira para o copo de sucção é um exemplo dessa dificuldade.

Ainda no período de hospitalização

A maioria das crianças prematuras é incapaz de receber a alimentação inicialmente por via oral, sendo necessário a utilização de sondas para alimentação. As exposições frequentes a estímulos sensoriais nocivos a que são submetidas ao nascimento, como a intubação, a aspiração de vias aéreas superiores e uso de sondas de alimentação, resultam em experiência negativa para bebês prematuros. As dificuldades relacionadas a alimentação no período de hospitalização são descritas por imaturidade dos reflexos orais, força reduzida de sucção, grupos reduzidos de sucções por pausa, incoordenação da sucção, deglutição e respiração, engasgo, dificuldade em aceitar todo volume por via oral. A intervenção fonoaudiológica nessa fase é fundamental para auxiliar esses bebês a adquirirem habilidades motoras orais necessárias para se alimentarem com eficiência, sem o uso de sondas de alimentação, no seio materno ou em copos e mamadeiras.

Por fim, a criança pode adquirir aversão aos estímulos orais. Dificuldades e recusa alimentar podem ser evidenciados nessa população. “A importância atribuída ao desempenho correto das habilidades motoras orais está diretamente relacionada com o padrão de deglutição efetivo, sem a presença de aspiração traqueal do alimento [o que pode gerar engasgo], podendo levar a déficits de crescimento e de desenvolvimento global das crianças”, afirma a pesquisadora Carla. O ato de deglutir foi abordado em outra matéria da AUN aqui.

Durante a infância

Se comparadas às crianças nascidas a termo, as prematuras podem apresentar atraso no desenvolvimento motor global ao ser considerada a idade corrigida. Diferentemente da idade cronológica, que é contada desde o dia que o bebê nasce, a idade corrigida é ajustada ao grau de prematuridade, como se o bebê tivesse nascido na 40ª semana gestacional. Durante o primeiro ano de vida, as crianças prematuras tendem a apresentar alguns problemas como refluxos, engasgos, recusa alimentar e dificuldade para a transição de consistências alimentares de acordo com a faixa etária. Essas dificuldades podem levar as crianças a ingestão de pouco volume de alimento e, consequentemente, o pobre ganho de peso pode ser evidenciado.

Carla afirma que a intubação orotraqueal após o nascimento foi considerada um fator de risco para a ocorrência da disfunção nas crianças prematuras. Em seu estudo, a pesquisadora constatou que as crianças prematuras apresentam dificuldades em vedar os lábios durante a alimentação com a mamadeira quando comparadas com as crianças nascidas a termo. E na fase de introdução alimentar, aos seis meses de idade, Carla observou que essa fase correspondeu a maior incidência para dificuldades alimentares tanto em crianças prematuras, como também para as crianças nascidas a termo, para a consistência purê e semissólida.

Em relação à transição de alimentos semissólidos para os alimentos sólidos, na pesquisa de Carla foi verificado que 40% das crianças prematuras e 32,4% crianças a termo não utilizavam a consistência alimentar sólida, na rotina diária de alimentação aos 12 meses de idade. “Os pais das crianças prematuras, por vivenciarem dificuldades importantes relacionadas com a alimentação de seus filhos nos estágios inicias de vida, tornam-se receosos em desafiá-los à introdução de novas consistências alimentares e, consequentemente, oferecem um número limitado na rotina diária de alimentação”.

De acordo com as recomendações do Manual de Orientação para Alimentação do Lactente, do Pré-escolar, do Escolar, do Adolescente e na Escola, descrito pelo Departamento Científico de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (2012), a criança com um ano de idade já deve receber os alimentos sólidos, com a mesma consistência à da família. Portanto, os dados obtidos da pesquisadora indicaram que pela faixa etária das crianças, o desenvolvimento do processo de alimentação não está de acordo com a recomendação do Manual de Orientação.

Diagnóstico e tratamento

O fonoaudiólogo é o profissional responsável e capacitado que faz a avaliação sobre o correto funcionamento das habilidades motoras orais de alimentação. A criança é observada enquanto se alimenta com diversos alimentos de consistências diferentes, de acordo com sua faixa etária, como purês, semissólidos e sólidos. Os utensílios utilizados durante a alimentação também são avaliados, como mamadeiras, colheres e copos com e sem canudo.

O modo como a criança está posicionada, e a oferta de alimento dada pelo cuidador também são aspectos importantes a serem avaliados. “Dessa forma, o fonoaudiólogo irá identificar quais grupos musculares e estruturas estão exercendo a função de forma adequada ou não, e, com isso, elaborar estratégias específicas para tratar as dificuldades encontradas nas crianças e a auxiliar as mães com técnicas específicas para adquirirem o sucesso da alimentação em seus filhos”, recomenda Carla. Após o diagnóstico, o tratamento é adaptado às características de cada paciente, de acordo com a idade e músculos do complexo que necessitam de fortalecimento.

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