ISSN 2359-5191

14/06/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 75 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas
Instrumentos meteorológicos são retirados de base brasileira na Antártica devido ao início de reconstrução
Após incêndio que atingiu a base em 2012, a empresa chinesa Ceiec firmou um acordo para sua reconstrução
Imagem da Estação Antártica Brasileira Comandante Ferraz, antes do incêndio em 2012. / Crédito: Marco Alves

Os equipamentos meteorológicos utilizados pela equipe do Projeto ETA (Estudo da Turbulência na Antártica) foram retirados da Estação Antártica Brasileira “Comandante Ferraz”. A Estação foi atingida por um incêndio em 2012, e será reconstruída por uma equipe chinesa até 2018. Mesmo após o incêndio, a equipe do projeto ETA mantinha os instrumentos de medição meteorológica ativos para coleta de dados na Ilha. No entanto, após o acordo de reconstrução firmado com a China, em dezembro de 2015, os pesquisadores optaram pela retirada dos aparelhos, que enviavam dados em tempo real desde 2012. Até o momento, não existe previsão de retomada do projeto.

O Projeto ETA foi concebido em 2010, dentro do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Antártica de Pesquisas Ambientais (INCT-APA) do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) e tinha por objetivo estudar a micrometeorologia local da Antártica. A maioria dos dados relativos ao clima local são obtidos através de modelos numéricos e satélites, e geralmente precisam ser validados com informações obtidas na superfície. Entretanto, por ser uma região de difícil acesso, essa validação era escassa. Um dos objetivos do ETA era obter informações mais precisas, na superfície da Antártica, para calibrar modelos numéricos e validar os dados dos satélites. O principal foco do estudo, porém, eram os fluxos de calor e o balanço de energia que ocorrem na região. “A grande diferença desse projeto são esses fluxos turbulentos, que não são medidos com frequência”, afirma Jacyra Soares, coordenadora do projeto e docente do IAG (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas).

Imagem da torre na qual ficavam os equipamentos de medição do projeto ETA. / Créditos: Marco Alves

Os fluxos de calor latente e calor sensível são medidas utilizadas para estimar o balanço total de energia de um sistema. Através dessas medidas, é possível estimar quanta energia disponível existe para os processos físicos – por exemplo, é possível determinar se existe energia disponível suficiente para que ocorra aquecimento ou resfriamento da atmosfera, chuvas, sublimação, entre outros. Esse total de energia disponível é chamado balanço de energia, e através de seu estudo, é possível identificar como ocorre a transferência de energia em um determinado sistema. No caso do ETA, Soares explica que seu foco era estudar o balanço de energia entre atmosfera e solo e, posteriormente, entre oceano e atmosfera: “A minha ideia era começar estudando a parte da atmosfera sobre o solo, e depois eu iria fazer medidas simultâneas sobre a atmosfera e o oceano. Então, saberia realmente como os fluxos se dão entre atmosfera e oceano, mas não consegui chegar nessa parte”.

Os dados coletados pelo projeto sobre os fluxos de calor e o balanço de energia são de difícil obtenção, pois exigem um equipamento mais sofisticado do que os instrumentos meteorológicos comuns. “Esses dados são muito importantes, nunca tivemos esses dados nessa região da base brasileira. Mesmo aqui, em São Paulo, são difíceis de obter”, afirma Soares. Nesse sentido, o ETA coletava informações até então desconhecidas sobre a micrometeorologia da Antártica.

O estudo do microclima da Antártica, além de contribuir para um maior conhecimento sobre a região, teria impacto sobre os modelos de previsão atmosférica de um modo geral. “Embora não trabalhe com larga escala, dou subsídios para o pessoal de larga escala, para o modelo ser melhor. Muitas vezes, faltam dados para calibrar esses modelos”, explica Soares. Como as massas de ar da atmosfera circulam por diversos locais, o clima de uma região frequentemente impacta vizinhos. No caso da Antártica, as massas de ar frio provenientes do continente atingem toda a América do Sul, podendo chegar até à Região Amazônica nos meses de inverno, de acordo com sua intensidade.


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