ISSN 2359-5191

17/06/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 78 - Meio Ambiente - Universidade de São Paulo
Agronegócio precisa trilhar caminhos mais ecológicos
Crédito: Divulgação

Se juntássemos todas as pessoas adultas do planeta em uma única balança, os ponteiros indicariam o número de 287 milhões de toneladas. Fruto de uma pesquisa realizada pela London School of Hygiene & Tropical Medicine, o resultado pode servir – para as mentes mais ilustradas que necessitam de exemplos físicos para interpretar grandezas – como efeito de comparação para compreender a expressividade do agronegócio brasileiro: estima-se que, na próxima década, a produção de grãos deva alcançar 248 milhões de toneladas. E os números não param por aí.

Segundo o coordenador geral de planejamento estratégico do Ministério da Agricultura, José Garcia Gasques, a área cultivável no território brasileiro deverá aumentar 17%. Com a expansão de produção e produtividade, essenciais perguntas passam a ser questionadas: como aliar o agronegócio ao desenvolvimento sustentável?


Energia na planta das tribos amazônicas

Desenvolvimento sustentável foi definido no Relatório Brundtland da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico em 1987 como sendo a capacidade de satisfazer as necessidades da geração presente, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações.

Segundo relatório divulgado pelo Ministério de Minas e Energia de 2014, a agropecuária, apesar de representar apenas 4,2% da energia consumida no Brasil, ainda tem o fluxo energético concentrado nos derivados de petróleo. Além de ser uma fonte esgotável, a queima do petróleo é responsável pela poluição atmosférica e degradação do meio ambiente, indo contra toda a essência do desenvolvimento sustentável.

Buscando fontes de energia renováveis para diminuir a dependência e consumo de combustíveis fósseis, o pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Energia da Universidade de São Paulo, Felipe Teixeira Favaro, optou por se dedicar ao estudo do dendê. Do fruto, é extraído o óleo de palma, que pode ser utilizado para a produção de energia elétrica.


O fruto dendê / Crédito: InCaminho

Favaro acredita que o futuro do sistema elétrico brasileiro está na “geração de energia de forma descentralizada, próxima aos consumidores finais”. O estudioso focou sua pesquisa na Região Amazônica do país: “Nessa região existe uma contradição muito grande, pois mesmo sendo a área mais rica em biodiversidade do mundo, as tribos, povoados e famílias que vivem em locais mais afastados das capitais se utilizam de geradores a diesel para a produção de energia”.

Além disso, a região possuiria grandes áreas degradadas, e o plantio do dendezeiro se adaptaria bem a tais ambientes. “O dendê se adapta bem ao clima tropical e à terra desgastada. A geração da biomassa advinda da extração do óleo da planta produziria energia elétrica renovável para ser utilizada pela população próxima”. O retorno social também seria um ponto positivo, pois geraria empregos fora das grandes cidades, “a fim de evitar o êxodo rural”.


Sustentabilidade na planta do arquiteto

Não é apenas de agricultores e empresários que vive o setor que representa 20% da economia do Brasil (cerca de 1 trilhão de reais). Para que a agroindústria trilhe caminhos mais ecológicos, até o campo arquitetura e urbanismo está envolvido. O pesquisador Gabriel Nery Prata, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU - USP), acredita que a área detém os conhecimentos técnicos necessários para a criação de estruturas, métodos construtivos não-exploratórios e formas de organização urbana que podem auxiliar o processo.

Prata explica que é possível pensar em uma regulamentação urbanística com áreas destinadas a programas de produção agrícola voltados para produção de alimentos, ou que atendam a demanda social de famílias inscritas em programas de distribuição de terras. “A ideia de cidades mais compactas pressupõe liberação de espaços para agropecuária e, a princípio, garantia da manutenção de reservas indígenas e ambientais”, afirma.


Logística prejudica a competitividade do agronegócio brasileiro / Crédito: Bunge

Um dos principais problemas do agronegócio brasileiro é a logística. Enquanto o custo da saída de uma tonelada de soja do Mato Grosso para a China é de US$ 185, dos EUA, o número cai para US$ 71. O pesquisador também defende que a infraestruturas seja reorganizada: “Estruturar adequadamente os arranjos produtivos no território otimizando a produção e logística dos complexos agroindustriais é de extrema importância”.

Para que medidas sustentáveis se tornem de fato implementadas, seria necessário o apoio e cooperação de iniciativas públicas e privadas. Prata elucida: “De nada adianta o conhecimento e propostas técnicas se continuar faltando vontade política para colocar isso tudo em prática e de posicionamento da sociedade civil. É preciso rever a matriz de produção agroindustrial e essa sobreposição do interesse de grandes empresas e latifundiários em detrimento de garantias ambientais e de necessidades da população como um todo”.

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