Transportando cerca de 1,3 milhão de passageiros diariamente, a Linha Vermelha do Metrô de São Paulo é a mais movimentada da rede. Ela foi objeto da fotógrafa Inês Bonduki em seu mestrado em Poéticas Visuais pela Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA/USP). Além de conter cenas de passageiros do Metrô, o trabalho articula essas imagens com cenas de dança.
O interesse de Inês pela Linha Vermelha surgiu no começo deste trabalho. “Estava morando na Linha Vermelha e muitas vezes voltava para casa de Metrô e acabava pegando a linha do outro lado”, explica. “É uma linha que sempre me impressionou. Tenho formação em arquitetura, então a questão da mobilidade já vem comigo faz tempo”.
O trabalho é dividido em três volumes. O primeiro mostra o ensaio propriamente dito, que mescla cenas do Metrô com cenas de dança. O segundo discute a edição do livro e abre o processo. O terceiro é um volume teórico sobre o trabalho do fotógrafo norte-americano Nathan Lyons.
Volume que traz o ensaio fotográfico sobre a Linha Vermelha (Imagem: Inês Bonduki)
Nathan Lyons é autor de uma pesquisa sobre livro visual e narrativa visual, que estuda como articular as imagens no objeto-livro e expandir os significados da fotografia. Inês realizou sua pesquisa baseada no acervo da escola que o fotógrafo fundou em Rochester, Nova York, e em seu livro Notations in passing, considerado a tese visual de sua teoria.
“Resolvi fazer a pesquisa histórica porque tinha interesse e, quando você tem que escrever, você se coloca à prova”, conta Inês. “Como estava querendo fazer esse estágio, quis fazer uma pesquisa histórica”. A fotógrafa fez um estágio de pesquisa em Rochester por cinco meses, período no qual se dedicou a editar a maior parte do livro.
Inês optou por deixar todas as imagens na parte frontal das páginas (Imagem: Inês Bonduki)
Inês conta que a ideia de articular as fotos da Linha Vermelha com fotos de cenas de dança não foi predeterminada. “Comecei a fazer as imagens no Metrô e elas ainda eram super borradas, porque comecei a fazê-las com um celular velho”, explica. “Gostava das imagens, mas sentia que esse não era exatamente o lugar aonde estava querendo chegar”.
A fotógrafa percebeu que as imagens eram bem fechadas e que não mostravam espaço ou um horizonte. “Eram só camadas de corpos, então comecei a achar que era esse tipo de imagem que estava querendo e comecei a persegui-las”, diz. “Eram pessoas que todo dia passam por essa situação claustrofóbica e por essa proximidade muito grande entre as pessoas, que é involuntária”.
Paralelamente ao mestrado, Inês fotografou cenas de uma dança de contato e improvisação em que havia uma experiência de toque e proximidade muito fortes no Encontro Internacional de Contato e Improvisação. Tanto as imagens da Linha Vermelha quanto as imagens da dança foram colocadas lado a lado no primeiro volume do livro, de maneira que ambos os contextos se confundem.
A sobreposição de corpos presente em ambos os cenários criou uma relação entre as imagens. “É uma dança que não tem coreografia, apenas pautada no improviso e na relação entre duas ou mais pessoas”, explica. “Quando eu aproximei essas duas realidades, eu percebi que elas faziam todo o sentido”.
Ao centro, imagem da Linha Vermelha do Metrô e, à direita, cena da dança de contato e improvisação (Imagem: Inês Bonduki)
Prêmio Conrado Wessel
O ensaio fotográfico Linha Vermelha ganhou o terceiro lugar no Prêmio Conrado Wessel de Arte em 2015, na categoria Ensaio Fotográfico. O prêmio é realizado pela Fundação Conrado Wessel e os ensaios fotográficos são julgados por uma Comissão Julgadora, composta por especialistas e professores de publicidade e fotografia.
O trabalho completo de Inês sobre a Linha Vermelha e outras produções podem ser vistas em seu site.