ISSN 2359-5191

07/07/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 92 - Saúde - Departamento de Fonoaudiologia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional
Ação preventiva contra escoliose pode mudar rumos da saúde pública brasileira
Triagem simples com “escoliômetro” indica a presença da doença e tratamento já na adolescência pode melhorar consideravelmente qualidade de vida no futuro
Ilustração por Natalie Majolo

Apesar de estar presente apenas em cerca de 1,5% da população, a escoliose implica em fatores preocupantes da saúde pública. Não apenas na diminuição da qualidade de vida, por causa das dores crônicas, mas também no impacto direto na vida dessas pessoas e sua interação com a sociedade. A fisioterapeuta Patrícia Penha estudou a presença de escoliose idiopática em adolescentes, e sua pesquisa aponta a possibilidade do uso de um equipamento simples, barato e massivo para auxiliar no diagnóstico precoce dessa patologia.

Assim como a aplicação de flúor nas escolas para saúde bucal, seria possível identificar a escoliose idiopática quando a pessoa ainda tem imaturidade esquelética, como no caso de crianças e adolescentes. O tratamento se torna mais efetivo, já que quando adulto, a ossificação do sistema esquelético está pleno, o que torna mais árdua a melhora.

A escoliose é uma deformidade tridimensional da coluna. A vértebra inclina, roda e flexiona. Ao olhar uma pessoa de perfil, vê-se três curvaturas fisiológicas na coluna: cervical, torácica  e lombar. Quando olhado de frente ou de costas, a coluna deveria ser reta. “Isso acontece com várias vértebras, que se inclinam, e formam uma curvatura da coluna. A escoliose é essa curva lateral”, afirma a pesquisadora Patrícia. Entretanto, ela reforça que nem toda curvatura lateral da coluna é escoliose.

A partir de uma chapa de raio-X, feita com o paciente em pé e de frente, é realizada uma avaliação por meio do método do ângulo de Cobb, que mede a inclinação  entre a primeira e a última vértebra que sofreu alteração. Se igual ou maior que 10 graus, o paciente é diagnosticado com escoliose. “Ninguém é 100% simétrico”, diz Patrícia. Ou seja, um desvio não é necessariamente escoliose. “No caso da escoliose idiopática, as causas podem ser diversas, e existem várias teorias fisiopatológicas para o seu desenvolvimento, mas nenhuma dessas teorias consegue justificar todos os casos de escoliose idiopática”.

Mais verdades para não mais “ouvi-dizer-que”

A escoliose idiopática é dividida em infantil, juvenil e do adolescente, sendo a do adolescente a mais prevalente. Os estudos mundiais de rastreamento da escoliose idiopática do adolescente seguem um padrão de idade e de metodologia. No Brasil e na América do Sul ainda não existiam estudos que seguissem o método e os padrões definidos pela Sociedade de Pesquisa em Escoliose (Scoliosis Research Society - SRS). “O estudo padronizado é importante para que seja possível comparar os resultados com os que já estão descritos na literatura.”  

A patologia também pode ter um caráter progressivo, que leva a problemas mais sérios e dores crônicas no futuro, e até mesmo o comprometimento da capacidade pulmonar e cardíaca. A prevenção é feita nesses indivíduos que ainda tem imaturidade esquelética, ou seja, justamente essa faixa etária em que os adolescentes estão. O perigo está muito mais perto do que se imagina: “muitos trabalhos indicam que a escoliose pode se desenvolver sem ser percebida. O adolescente pode ter a escoliose e até uma curvatura maior que 20 graus, e não sentir qualquer dor”.

Com o uso de um “escoliômetro”, é possível que o profissional faça rapidamente a triagem se a pessoa será encaminhada ou não para o raio x e eventual diagnóstico de escoliose por meio do teste do ângulo de Cobb. No momento, o “escoliômetro” não é fabricado no Brasil, e precisa ser importado. A partir dessa medida simples, os adolescentes poderiam saber sobre sua doença e já serem tratados,  minimizando problemas mais graves no futuro.

Modelo para ângulo de Cobb (Fonte: Divulgação, Ilustração: Natalie Majolo)

Existem algumas teorias para o desenvolvimento da escoliose. Podem ser por meio da genética ou da alteração do sistema hormonal, como diminuição da quantidade de melatonina e de estrogênio. Também existem teorias que falam que a postura inadequada pode favorecer o surgimento da escoliose. “Difícil saber quem vem primeiro: a escoliose e a má postura, ou a má postura e a escoliose”, diz Patrícia. Portanto, não é fato que alguém que mantém uma postura inadequada, vá ter escoliose. Ou alguém que já tenha escoliose, que pode ser causada por diversos fatores, tenha postura inadequada.

Novos estudos para novas ideias

A pesquisa de Patrícia Penha foi realizada com estudantes adolescentes de escolas públicas estaduais das cidades de Amparo, Pedreira e Mogi Mirim, no Estado de São Paulo. A prevalência de escoliose identificada no público estudada foi de 1,5%, e de maior prevalência no sexo feminino. Os dados coincidem ou se aproximam dos dados já coletados no âmbito internacional, cuja prevalência é cerca de 2% da população.

Foi identificado que as idades de 13 e 14 anos estão associadas à prevalência de escoliose idiopática dos adolescentes. Contudo, no sexo feminino há casos em idades menores (a partir dos 11 anos). Sugere-se, portanto, que a idade de rastreamento para escoliose seja diferente entre os sexos. Os testes posturais foram feitos nos adolescentes que foram encaminhados para o exame radiográfico. Uma das descobertas é que o desnivelamento dos ombros se associou à presença de escoliose. Como a identificação preventiva da escoliose nos adolescentes acontece em idades diferentes para meninos e meninas, Patrícia recomenda que eles sejam avaliados em momentos distintos. Quando perceptível a falta de simetria na altura dos ombros, a pessoa deve ser encaminhada para o profissional de saúde para avaliação, diagnóstico e eventual tratamento. “Esse desnivelamento do ombro deve ser considerado na rotina clínica ou escolar de avaliação dos profissionais de saúde”, recomenda.

O tratamento da escoliose idiopática do adolescente é feito de forma conservadora ou cirúrgica. O tratamento conservador consiste em do uso de colete e de fisioterapia - dentre as técnicas fisioterapêuticas, existe uma especifica, chamada SEAS (“Scientific Exercises Approach to Scoliosis”, do inglês). A indicação do tratamento com colete ou cirúrgico depende do valor da curva escoliótica, medida pelo ângulo de Cobb, e da maturidade do sistema esquelético.

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