ISSN 2359-5191

06/07/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 91 - Meio Ambiente - Instituto Oceanográfico
Estudo revela as principais áreas de desova da anchoíta no Sudeste do Brasil
Pesquisa do Instituto Oceanográfico determinou as regiões de reprodução preferidas dessa espécie de peixe
Engraulis anchoita

A Coleção Biológica “Prof. Edmundo F. Nonato” (ColBIO) do Instituto Oceanográfico (IO) da USP inaugurada em 2012 guarda um acervo de aproximadamente 45 mil amostras biológicas marinhas catalogadas e disponibilizadas para estudo. A pesquisadora bolsista da Fapesp Jana Menegassi del Favero, sob orientação do professor Mário Katsuragawa, dedicou sua pesquisa de doutorado a analisar amostras que ainda não haviam sido trabalhadas: larvas e peixes (ictioplâncton) da Engraulis anchoita, espécie conhecida popularmente por anchoíta.

“Ele é bastante parecido ecologicamente com a sardinha, que é o estoque pesqueiro mais importante da costa sudeste do Brasil, mas ele é muito pouco estudado, quase não tem estudos dele, mesmo ele sendo muito abundante”, a pesquisadora explica sobre a anchoíta. Diante disso, ela decidiu estudar as amostras do ictioplâncton coletado entre os anos de 1974 e 2010, com o principal objetivo de analisar a variação da abundância dos ovos e larvas do peixe ao longo desse período.

Jana conta que se deparou com um número muito grande de amostras do ictioplâncton da região estudada e que o reconhecimento dos ovos um a um seria um processo muito demorado. Assim, desenvolveu um modelo inédito em um software para cálculos estatísticos e gráficos que identificasse automaticamente os ovos da anchoíta em uma foto.

Outro obstáculo com o qual a pesquisadora se deparou durante o seu trabalho foi a diferença na malhagem das redes de coleta. Algumas das amostras haviam sido coletadas com redes com malha de 0,333 milímetros, enquanto em outros anos a coleta havia sido feita com malha de 0,505 milímetros. Jana explica que essas diferenças poderiam alterar o resultado final da pesquisa e, portanto, teve que comparar a captura dessas redes antes de estudar as amostras.

No fim do projeto, Jana definiu as áreas de desova da anchoíta. “Não observei uma área recorrente, que ela desova todo ano, mas teve algumas áreas ocasionais”. Um exemplo é o norte de Florianópolis e perto de Santos, regiões em que o peixe costuma desovar mais do que em outras regiões. Ela também observou que há regiões como a plataforma continental próxima ao sistema costeiro Cananéia-Iguapé em que a espécie evita desovar. “Era para ser um lugar bom porque recebe nutrientes do sistema costeiro, mas por algum motivo ela está evitando, e é o local de maior desova da sardinha. Então talvez ela esteja desovando mais para o sul para evitar competição com a sardinha nessa área.”

A partir desses dados, Jana levantou questões como a competição com a sardinha ou questões geológicas e oceanográficas em geral que definem os locais de desova da anchoíta. Ela observou a temperatura, a profundidade e a salinidade de preferência da espécie. Outro ponto interessante, segundo ela, é que o fenômeno El Niño teve uma influência positiva na abundância das larvas do peixe.

A pesquisadora explica que a metodologia que ela desenvolveu para identificar os ovos pode ser usada para facilitar e agilizar estudos posteriores. Além disso, o estudo das áreas de desova da espécie pode facilitar um futuro manejo para pesca. Jana explica que a anchoíta é muito comercializada no Uruguai e na Argentina, mas só começou a ser pescada recentemente no Sul do Brasil, e pode começar no Sudeste em breve. “As pessoas começam a pescar a espécie, e depois estudam para fazer o manejo, mas aí elas não estarão mais retratando a realidade. Se começar a estudar agora, nós já teremos mais ferramentas para um futuro manejo”. Jana também atenta para a importância de se conhecer espécies como a anchoíta uma vez que elas são importantes na cadeia alimentar por ligar os menores seres da coluna d’água com animais maiores como mamíferos aquáticos e aves marinhas.

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