ISSN 2359-5191

10/08/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 100 - Educação - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Incipiente na escola, conceito de classes sociais é fundamental para entender desigualdades
Muito usada em sentido econômico, noção teórica é tema de estudo que analisou livros de ensino médio de Geografia
Subutilizado, conceito de "classes sociais" poderia esclarecer motivos estruturais para desigualdades existentes, se empregado em seu sentido histórico-político. (Foto: Reprodução)

A expressão “classes sociais”, em sentido histórico e político, ainda é incipiente no ensino escolar, o que constitui uma barreira ao debate sobre razões para as desigualdades. É esta a percepção de Paulo Henrique de Amorim, que discute, em sua tese de doutorado, a presença dessa noção em livros didáticos de Geografia. Segundo ele, esta ciência humana tem a função de “formar a compreensão do espaço em que o aluno vive” e, por assim dizer, quanto melhor o uso do conceito, mais os conhecimentos geográficos contribuirão para entender as dinâmicas sociais.

“O conceito de classes sociais é uma importante ferramenta teórica construída com vistas à compreensão de sociedades e suas contradições”, diz ele. Da perspectiva prática, a pesquisa propõe uma reflexão em torno da própria qualidade de ensino da disciplina ao investigar o material didático fornecido pelo PNLD (Programa Nacional do Livro Didático), do Ministério da Educação. Esse amplo programa, cuja ideia surgiu em 1937 através de decreto-lei estadonovista com a denominação INL (Instituto Nacional do Livro), é o encarregado de distribuir os livros para estudantes da rede pública. Do ponto de vista teórico, trata-se de recuperar o debate conceitual, reconhecendo que as contradições aparecem hoje mais “vivas e pulsantes” do que nunca, como afirma Amorim. “Parece-nos que é um conceito fundamental para interpretar o nosso momento”, ressalta.

De acordo com o doutor, o caráter principiante do conceito no âmbito escolar tem a ver com o seu emprego como sinônimo de estratos populacionais baseados na renda, sem dialogar com o meio social ou político para descobrir como eles se formaram. Falta, em outros termos, profundidade analítica. “Para ilustrar”, demonstra ele, “podemos lembrar a recorrente comparação da renda dos 10% mais ricos x 10% mais pobres de cada sociedade. Sem dúvidas é um dado interessante, mas é um indício e não a razão do problema.”

Faz-se necessário conhecer os mecanismos subjacentes que geram tais disparidades e sustentam uma estrutura social e histórica de desenvolvimento, observa o pesquisador.

A carência verificada na área do saber geográfico — decorrente da pouca utilização da noção — pode ser suplantada caso sejam tomadas algumas escolhas de ensino. Uma delas, apontada por Amorim, que também é professor de ensino médio na rede pública, é a enfatização da atuação política das classes, tendo em vista sua organização e seus objetivos próprios. Essa é uma ênfase já existente quando se aborda a questão agrária no Brasil, reitera ele, ainda que seja insuficientemente incluída em outros temas regularmente lecionados.

A tese de doutorado inquiriu integralmente os textos de 12 livros didáticos da disciplina dentre as 14 coleções oferecidas pelo PNLD para o ensino médio em 2012.

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