Apesar da expansão e consolidação do RPG (Role Playing Game) no Brasil, ainda há poucos estudos sobre este nicho editorial. Com o objetivo de iniciar uma discussão sobre o tema, Stella Mesquita, graduada em Editoração pela Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA), analisou o mercado editorial do RPG e sua trajetória dos EUA ao Brasil em seu trabalho de conclusão de curso.
O RPG é um jogo em que os participantes interpretam papéis e constroem coletivamente uma narrativa. O narrador, também chamado de mestre, é quem conduz a partida e apresenta o cenário para os jogadores criarem seus personagens. Em geral, utilizam-se dados para definir o sucesso ou o fracasso das ações dos personagens.
Por ser um jogo, há diversos conjuntos de regras, chamados de sistemas, que podem conduzi-lo. Esses sistemas limitam o contexto em que o jogo vai acontecer. Stella explica que, se a narrativa se passar no período medieval, por exemplo, não haverá regras para armas que pressupõem uma tecnologia inexistente no período.
O RPG começou a ganhar espaço na década de 1980. Dungeons & Dragons, criado por Gary Gigax e Dave Arneson, foi o primeiro RPG publicado. O jogo foi lançado pela editora Tactical Studies Rules (TSR) nos EUA em 1974. Após o sucesso de vendas, tanto a TSR quanto outras empresas passaram a investir no formato.
No Brasil, essas publicações chegavam através de pessoas que viajavam para o exterior e traziam fotocópias. O RPG começou a se expandir no país apenas na década de 1990, quando a Editora Abril Jovem trouxe algumas publicações internacionais e a Editora Talismã passou a publicar uma revista especializada em RPG, a Dragão Brasil.
A publicação Dragão Brasil foi uma das mais duradouras no ramo do RPG, tendo funcionado por quase 13 anos (Imagem: RPG Notícias)
Em 1999, três editores da Dragão Brasil lançaram a Tormenta, um cenário novo para os jogos de RPG. Marcelo Cassaro, Rogério Saladino e J. M. Trevisan, os criadores, ficaram conhecidos como o Trio Tormenta. Após uma série de situações conflituosas, a revista foi encerrada em 2007.
As publicações de RPG
Os livros que trazem as regras dos sistemas em geral são grandes e de capa dura. O principal atrativo dessas publicações é o visual delas, que remetem a livros antigos ao trazer páginas amareladas, por exemplo. Além disso, o formato do livro dificulta a tiragem de cópias, muito comum nos anos 1980.
Atualmente, também são comercializadas versões digitais dos livros que barateiam seu custo, por não haver necessidade de impressão, armazenamento e distribuição dessas obras. De acordo com Stella, este formato seria uma versão “regulamentada” das fotocópias que garante que a editora receberá pelo produto.
O RPG exige de seus jogadores criatividade e capacidade de raciocínio, o que torna essa atividade uma ferramenta que pode ser utilizada para outros fins além do entretenimento. Para Stella, o RPG tem grande potencial de crescer justamente por conta de sua versatilidade.
Leia mais: Aplicação do RPG nas escolas é avaliada por pesquisador