ISSN 2359-5191

30/06/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 87 - Economia e Política - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz
No Brasil, o ouro negro não vem só do mar
Responsável pelo desenvolvimento do Brasil no século 20, o café ainda é crucial na balança econômica nacional
Pé de café Bourbon amarelo produzido em São João do Manhuaçu, MG. / Fonte: Wikimedia Commons.

Vai uma xícara de café? Ocupando um espaço considerável na mesa das famílias há mais de 150 anos, o consumo interno do grão do café ainda cresce e chega a ultrapassar os 20 milhões de sacas por ano. Mesmo não sendo mais o carro-chefe do agronegócio nacional, o café continua desempenhando um papel importante na balança econômica nacional e é a quinta commodity mais exportada pelo Brasil, perdendo para a soja, o grupo das carnes, os produtos florestais e o setor sucroenergético, nessa ordem.

Motor histórico pelo crescimento do estado de São Paulo, o grão tem alto valor agregado no mercado e hoje embarca na onda gourmet através das grandes redes de cafeterias e das linhas de cafeteiras modernas. Maior produtor e segundo maior consumidor de café do mundo, o Brasil tem seu passado retratado pela bebida, que ainda mostra força para ser um importante pilar para o agronegócio por muitos anos.

A cultura figura como elemento crucial na economia de países em desenvolvimento, como Vietnã, Colômbia, Indonésia, Etiópia, Índia, Honduras, México, Uganda e Guatemala. A necessidade de um clima mais próximo ao equatorial aliado ao plantio em terras com altitudes elevadas ocasiona larga faixa de plantio do café no mundo. São 72 países produtores no mundo, e isso se dá muito por conta de versatilidade da planta, aponta estudo da Organização Internacional do Café.

Cafezal na Zona da Mata Mineira. / Fonte: Wikimedia Commons.

Cafezal na Zona da Mata Mineira. / Fonte: Wikimedia Commons.

O plantio de café no Brasil

Em entrevista ao AUN, o docente do Departamento de Produção Vegetal da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo, José Laércio Favarin aponta que no Brasil são cultivadas duas espécies de café: Coffea arabica (de maior qualidade) e Coffea canephora. Os grãos do café arábica podem ser encontrados no país nas variedades Bourbon, Catuaí e Mundo Novo, enquanto que os grãos do canéfora podem ser o Conilon e o Robusta.

Segundo o pesquisador, se for bem processado, secado e armazenado, o café arábica produz uma bebida agradável ao paladar. Já o canéfora, não. “Não dá para beber um café canéfora puro, ele só é usado pelas torrefadoras para misturar com o arábica, que tem maior custo de produção e maior valor agregado no mercado”, aponta Favarin. Frequentemente, encontramos no mercado cafés indicados como 100% arábica e a versão blend, que é fruto da mistura das duas espécies.

No Brasil, o café arábica é plantado em regiões como Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Bahia e Rio de Janeiro, em áreas com altitude superior a 800 m. Já o canéfora é cultivado no Espírito Santo e em Rondônia, por exemplo. Enquanto o primeiro goza de maior prestígio internacional por conta da qualidade, o segundo é responsável pela produção do café solúvel e apresenta um teor bem mais alto de cafeína.

Mantendo mais de 8 milhões de empregos, a cadeia produtiva do café representou 7% das exportações do agronegócio brasileiros em 2015, de acordo com dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Em um local de destaque na economia agrícola nacional, na visão de Favarin o café brasileiro é visto como um produto de alta qualidade no mercado internacional mesmo com a concorrência do café colombiano. “O café colombiano tende a ser melhor porque é plantado em altas altitudes e colhido maduro”, afirma.

Flor do Café Arábica. / Fonte: Wikimedia Commons.

Flor do café arábica. / Fonte: Wikimedia Commons.

Os diferentes cafés do Brasil

O estado de Minas Gerais é o maior produtor de café do Brasil e tem duas grandes áreas cultivadoras de café arábica: o Sul de Minas e o chamado Cerrado Mineiro. A primeira região tem o plantio facilitado pelas condições naturais típicas do cerrado. As estações do ano bem demarcadas com inverno seco e verão chuvoso ajudam no processo completo da cadeia produtiva e fornecem uma bebida fina de corpo forte, com aroma bastante demarcado. No entanto, o Sul de Minas é o maior produtor de café arábica do país e produz os grãos que alcançam as melhores classificações de bebida.


A região da Mogiana, no norte de São Paulo, também produz apenas café arábica e apresenta grãos com aroma frutado e um característico sabor doce e encorpado. Tipo muito parecido com o café plantado no Paraná, marcado pelo aroma caramelizado e também plantado em altas altitudes.


Os estados da Bahia e Espírito Santo plantam tanto arábica como canéfora, mas destacam-se pelo cultivo do segundo. Ao lado do estado de Rondônia, que só cultiva o café canéfora, eles chegam a colocar o Brasil como segundo maior produtor mundial desse tipo de grão.

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